Meio Ambiente

Mudanças no clima podem comprometer hidrelétricas

Por Elaíze Farias Publicado em: 28/10/2013 às 11:24

Alterações climáticas extremas podem comprometer a capacidade de geração de energia de hidrelétricas na Amazônia, segundo análise de José Marengo, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) e membro do IPCC (sigla em inglês de Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).

Prognósticos do IPCC, com base em estudos de vários modelos científicos que estudam o clima, indicam aumento da tendência de aquecimento global na América Latina, aumento das temperaturas e reduções de chuvas na Amazônia, especialmente na parte leste da região, condição climática que influenciaria no regime hidrológico.

“Se a projeção se confirmar será um problema, pois as hidrelétricas dependem das chuvas. Mas existe o problema de o país precisar de água e de energia. Então, a única alternativa é combinar as formas de geração de energia. Pode-se então construir pequenas termelétricas para tentar conciliar com energia solar ou energia eólica, por exemplo”, disse Marengo, ao portal Amazônia Real.

José Marengo lamenta que, apesar de todos os alertas feitos nos últimos anos sobre o risco de mudanças climáticas intensificadas pelo ser humano, os gestores públicos ainda não consideram seriamente os prognósticos. Ele diz que as administrações tomadoras de decisão não desenvolvem planejamentos para o futuro climático do planeta.

No início deste mês, Marengo deu várias entrevistas a jornais brasileiros por ocasião da divulgação do mais recente relatório do IPCC, durante as quais ele alertou sobre o aumento da temperatura nas últimas décadas. Segundo Marengo, no Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,75°C até o final do século 20. O ano mais quente foi 1998.

O grupo do IPCC reúne cientistas de várias partes do mundo que analisam estudos sobre o clima em diferentes instituições do planejamento. O documento foi divulgado no dia 27 de setembro, em Estocolmo, na Suécia.

Na Amazônia, os maiores riscos de eventos extremos são secas e cheias mais acentuadas, aumento de queimadas e impactos no ecossistema. “Com certeza os extremos climáticos estão mais frequentes na Amazônia. E a região é uma fonte de umidade para outras partes do país e o que acontecer aí pode ter consequências no Sudeste e no Sul do Brasil”, disse.

Relatório brasileiro

Tércio Ambrizzi, um dos coordenadores do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), também lançado em setembro passado, endossou a análise de José Marengo acerca da influência da Amazônia no restante do país.

“A Amazônia funciona como uma fonte de umidade juntamente com o oceano Atlantico tropical. O fluxo que entra pelo norte da América do Sul passa pela floresta e se dirige a parte sul e mesmo central do Brasil, sendo responsável pelo transporte de ar quente e úmido para estas regiões, o que eventualmente colabora na formacao de eventos de precipitação. Remover ou diminuir o tamanho da floresta teria um impacto no transporte de umidade para as outras regiões”, disse Ambrizzi ao Amazônia Real.

O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas aponta reduções percentuais de 10% na distribuição de chuva na Amazônia e aumento de temperatura de 1º a 1,5ºC até 2040, mantendo a tendência de diminuição de 25% a 30% nas chuvas e aumento de temperatura entre 3º e 3,5ºC no período 2041-2070. Também está previsto redução nas chuvas de 40% a 45% e aumento de 5º a 6º C na temperatura no final do século (2071-2100).

Segundo o estudo, as modificações do clima, associadas às mudanças globais podem comprometer o bioma em longo prazo (final do século). A ameaça mais imediata, conforme o relatório, é o desmatamento, decorrente das intensas atividades de uso da terra, representa uma ameaça mais imediata para a Amazônia.

O estudo diz que caso o desmatamento alcance 40% na região no futuro, estima-se mudança drástica no padrão do ciclo hidrológico com redução de 40% na chuva durante os meses de julho a novembro, prolongando a duração da estação seca, além do aquecimento superficial em até 4ºC.

Sobre a relevância dos estudos divulgados pelo IPCC e pelo PBMC, Ambrizzi disse aguardar que cientistas e mídia fiquem mais perto e deem mais destaque.

“Com isso os políticos podem prestar mais atenção. Vários relatórios científicos de peso como o IPCC e mesmo o PBMC podem ajudar a esclarecer e definir posições do governo quanto a achas de adaptação e mitigação”, afirmou.

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).