Cultura

“Óbvio Voraz” leva ao palco as ameaças ao meio ambiente e aos povos tradicionais

A peça teatral “Óbvio Voraz”, encenada pelo ator e diretor James Araújo e pelo artista visual Otoni Mesquita, está em temporada até setembro no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas (CAUA). Neste mês de julho, as apresentações estão marcadas para os dias […]

Espetáculo Óbvio Voraz com James Araújo e Otoni Mesquita no Caua até setembro. (Foto Alberto César Araújo/AmReal)

Por Alberto César Araújo Publicado em: 15/07/2016 às 13:32

A peça teatral “Óbvio Voraz”, encenada pelo ator e diretor James Araújo e pelo artista visual Otoni Mesquita, está em temporada até setembro no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas (CAUA). Neste mês de julho, as apresentações estão marcadas para os dias 22, às 19 horas, e 27, às 15 horas, na rua Monsenhor Coutinho, 724, com entrada franca.

Com texto de Verônica Gomes, a peça “Óbvio Voraz” procura transpor para o palco quatro temas atuais que ameaçam o meio ambiente e as populações tradicionais do Planeta, em especial da Amazônia como os povos indígenas, a falta d´água, o desmatamento das florestas e extinção dos animais silvestres.

A peça tem cerca de uma hora de duração. James Araújo e Otoni Mesquita exploram as linguagens da música, do canto e do cinema. Os temas são abordados com um tratamento conceitual do artista visual, através da instalação “Construção do Deserto”. Ela promove uma reflexão e possível discussão sobre aspectos ambientais e políticos sobre a ocupação do planeta, sobretudo na Amazônia.

A instalação de Otoni Mesquita é construída ao longo de toda a peça teatral, não apenas no palco, mas nos bastidores do CAUA. No palco são projetadas obras em audiovisual.

O sociólogo e doutor em ciências sociais, professor da Renan Freitas Pinto, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), escreveu um texto sobre a peça “Óbvio Voraz”, que a Amazônia Real publica neste espaço. Leia a seguir:

Uma denúncia da catástrofe mundial

Espetáculo tem performance audiovisual (Fotos: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A nova arquitetura concebida e destinada ao palco pelos autores de Óbvio Voraz vem acrescentar, à sua forma inicial, vários elementos para torná-la mais direta e clara em seu diálogo com o público.

O trabalho realizado, tendo como fundamento duas performances que se entrelaçam, se contrapõe, se enfrentam, mas, afinal, se completam, optou por utilizar, com extrema economia de recursos cênicos, as duas movimentações em choque dos atores James Araújo e Otoni Mesquita.

O espetáculo ganhou também no tratamento conceitual de seus blocos temáticos, particularmente com a instalação em crescendo, concebida por Otoni Mesquita e construída ao longo de todo o decorrer da ação que acontece não apenas no palco, mas nos bastidores de onde se projetam imagens fixas e em movimento, música, ruídos, vozes e os surpreendentes e inesperados objetos, fragmentos, materiais descartados e ressignificados, que se movimentam e se inserem, às vezes com fúria, na instalação de Otoni Mesquita.

O reduzido espaço cênico tem sido, nesse caso, utilizado com extrema eficácia conceitual e simbólica e é totalmente explícito quanto aos seus propósitos políticos de denúncia, cobrança e apelos pedagógicos.

O texto de Verônica Gomes a ser, nesta sua reformulação conceitual e cênica, levado até o palco pelos atores performáticos James Araújo e Otoni Mesquita, procura de forma polissêmica transpor para esse espaço quatro questões que vêm ameaçando de modo insidiosos povos e a natureza da região amazônica, para não falarmos da escala planetária em que todas elas se manifestam.

E o caminho escolhido para essa retomada do trabalho foi aproveitar o máximo possível os recursos cênicos que foram, nessa medida, repensados e utilizados visando a nova arquitetura do espetáculo com os destaques para as composições musicais de Antônio Pereira e os objetos de cena que integram as instalações móveis de Otoni Mesquita.

Os quatro temas que dão substância aos textos e a sua tradução performática são domínio público e têm estado em constante debate nos meios de comunicação e na formação da chamada opinião pública mundial, até a sua expressão regional e local.

Comecemos pela questão indígena, que é tão velha quanto o Brasil, mas que assume uma dimensão catastrófica precisamente num momento em que os próprios povos indígenas estão avançando afirmativamente em sua luta pelo reconhecimento de seus direitos secularmente negados. O quadro seguinte aborda a água como uma das questões planetárias e que no Brasil e em vários lugares do mundo tem assumido também dimensões catastróficas e descontroladas, quer por sua carência, escassez e contaminação em determinadas regiões, quer pelo seu contrário, em decorrência em parte de forças naturais, mas sempre agravadas pela ausência de políticas sérias e corretas em relação ao que deixou de ser previsto e planejado.

O terceiro quadro denuncia a destruição irresponsável de nossas matas e florestas, um amplo processo que se iniciou desde o período colonial, mas que ganhou força, sobretudo, com a chamada integração da Amazônia, que ficou conhecida na opinião pública mundial como sinônimo das “queimadas”, da motosserra e da incontrolada devastação da incontrolada devastação da floresta pelo capital.

O quadro final, especialmente performático no conjunto do espetáculo, denuncia a relativa indiferença que o Estado brasileiro, e porque não dizer de nosso próprio povo e nós todos, em relação ao sacrifício em nome da civilização, do progresso e do avanço tecnológico que tem sido imposto à vida silvestre, com a destruição sumária decorrente das agressões ambientais, somadas ao comércio e ao contrabando de animais. Esse quadro se destaca sob a forma de contraponto, por seu lirismo e força dramática, ao homenagear os nossos pássaros ameaçados de extinção.

“Óbvio Voraz” tem o apoio cultural da Pró-Reitoria de Extensão (Proext), Museu Amazônico da Ufam, Meia Zero Dois Filmes, com a realização Tribo Cia de Teatro e Caua.

Veja imagens do espetáculo na galeria abaixo:

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Ficha Técnica:
Texto: Verônica Gomes
Direção Geral: James Araújo
Atores: James Araújo e Otoni Mesquita
Assistente de Direção: Verônica Gomes
Trilha musical e concepção do vídeo: James Araújo
Objetos Cênicos, instalação “Construção do Deserto”: Otoni Mesquita
Consultoria de pesquisa: Renan Freitas Pinto
Figurino: Tribo Cia. de Teatro
Fotografia: Felipe Fernandes
Edição vídeo: Produtora Meia Zero Dois
Design, operação de luz e contrarregragem: Verônica Gomes
Operador de Áudio: Waldick Júnior
Operador de vídeo: Gisele Fernandes
Recepção: Neide Raiellyo
Realização: Tribo Cia. de Teatro
Divulgação: Tribo Cia. de Teatro, CAUA-UFAM e Ascom UFAM

Temporada de “Óbvio Voraz”

Quando:

Julho – dias 22, às 19 horas, e 27, às 15 horas,

Agosto – dias 5, 10, 19 e 24

Setembro – dias 2, 16, 21 e 30

Local: CAUA – Rua Monsenhor Coutinho, 724, centro de Manaus. Ingresso: Entrada franca.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Alberto César Araújo

Editor de Fotografia da Amazônia Real. Possui graduação em Comunicação Social pelo Centro Universitário do Norte, Uninorte-Laureate (2014). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em jornalismo, fotojornalismo e artes visuais. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Letras e Artes, Universidade do Estado do Amazonas, UEA. Repórter fotográfico profissional desde 1991, trabalhou para os principais veículos de imprensa nacional e internacional como fotógrafo freelance. Como editor de fotografia trabalhou para os jornais Amazonas Em Tempo, Diário do Amazonas. Participou de mais de 30 exposições coletivas e individuais com destaque para: Rural-Urban (Somerset House, Londres,2013 ) Ganadores del POY Latam (Centro Cultural Nigromonte, San Miguel de Allende, México, 2015) e Brics (OI Futuro, Rio de Janeiro, 2015). Curador das exposições “Amazônia, Os Extremos”; (2017) patrocinada por um prêmio concedido pela Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil com apoio do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos (ICBEU-Manaus) e do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA); “Olhando por dentro da Floresta” (2018) no Icbeu Manaus; Atlas Momosyne (2019) Palacete Provincial em Manaus; I.Margens, na Galeria do Largo, em Manaus (2022) e “Amazónia, Amazónias Encantos e desencantos” com Lau Zanchi, no Âmbito Cultural El Corte Inglês, em Lisboa (2022). Vencedor dos prêmios Esso de Fotografia 2001, Dom Helder Câmara, 2000, Fapeam 2011, HSBC de Sustentabilidade, 2011 e POY Latam em 2013. Em 2020 lançou o livro de fotografia #Reffrisch pela editora Artisan Raw Books.