Cultura

Inspirado no grafismo indígena, artista leva ilustração para o Instagram

Por Amazônia Real Publicado em: 12/06/2019 às 17:15

Miguel Simões diz que se inspira na cultura dos povos Tukano e Yanomami do Alto Rio Negro, no Amazonas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Por Vanessa Rocha, especial para a Amazônia Real

Manaus (AM) – Por volta dos oito anos de idade, o filósofo e artista amazonense Miguel Simões descobriu a paixão e o prazer pelo desenho, enquanto ajudava sua mãe a confeccionar sabonetes artesanais. Desde lá, passou a desenhar cada vez mais, melhorando e se arriscando os traçados de novos corpos e rostos, até encontrar sua inspiração e marca atual de um hobby que se tornou um trabalho: a representação da cultura dos povos indígenas por meio de ilustrações.

Desde agosto de 2018, Miguel administra uma página na rede social Instagram, chamada Wanki. A palavra tem como significado próximo “obra de arte”, ou “representação” na língua Quíchua, falada por vários povos indígenas de países da região dos Andes, como Peru, Bolívia, Chile e Equador.

Na página, ele divulga desenhos de indígenas e rituais, figuras mitológicas de crenças nativas e do folclore brasileiro, e outras ilustrações. Suas inspirações vêm, principalmente, das etnias Tukano e Yanomami. Ele teve a ideia de vender as ilustrações sob a forma de adesivos, o que despertou o interesse do público, já que é um produto mais acessível e barato.

“Meu primeiro contato próximo com povos indígenas, neste caso, do interior do Amazonas, foi durante formação seminarística na congregação salesiana, do qual fiz parte durante cinco anos. No segundo ano, chamado de pré-noviciado, estudei com três alunos da etnia Tukano e um da etnia Tariana, na região do Alto Rio Negro. Já o segundo contato, dessa vez com maior proximidade com o dia-a-dia nos povos, foi Mato Grosso do Sul, durante uma das fases seminário. Naquela ocasião, passei cerca de um mês com os Xavante e os Bororo”, contou Miguel.

Miguel se inspira nos povos Tukano e Yanomami do Alto Rio Negro
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Conforme relatou o artista, diferente da primeira vez que teve contato com povos indígenas, a experiência no Mato Grosso do Sul despertou nele não somente encantamento, mas uma conscientização sobre a importância de conhecer a cultura indígena. Por acaso, anos mais tarde, começou a trabalhar em um museu da cidade voltado para a disseminação da cultura indígena. Nesta ocasião, Miguel aprofundou-se, ainda mais, sobre a realidade das etnias Tukano e Yanomami.

“No museu onde trabalho estão expostos objetos e itens do dia-a-dia e de rituais dos Tukano e Yanomami. Meu papel como guia é não só mostrar os itens de uma maneira supérflua, mas sim indagar, procurar fazer com que as pessoas entendam a realidade destes povos – e não somente vejam um item indígena, ou achem algo belo na tradição deles – mas que entendam suas lutas, sua história e sua importância”.

Os desenhos de Miguel acompanharam sua evolução nos estudos sobre os povos indígenas e grande parte de seus desenhos são inspirados nas vivências que teve com os povos Yanomami. Nas artes que produz, propõe levar ao público quesitos como senso de coletividade, senso de pertencimento no grupo, o relacionamento dos Yanomami com a natureza e a cosmologia.

“Acredito que só amamos aquilo que conhecemos. Quero levar as pessoas a repensar certas atitudes, pois muitas vezes muito se fala sobre indígenas aqui no Amazonas – como a cultura é linda, intensa – e muitas vezes tudo só fica no discurso. O que proponho xcasinobonuses com meus desenhos é uma proposta de reconexão com a identidade amazônica e indígena”, disse o artista, que recentemente tem colocado informações e notícias de portais e instituições voltadas para povos indígenas na mesma página onde expõe suas criações.

A receita de Miguel com os adesivos é pouca, apenas suficiente para custear a compra do material para adesivagem e outros serviços em gráficas. Os adesivos estão disponíveis no sebo e ponto de disseminação cultural Edipoeira, localizado na praça Heliodoro Balbi, no Centro de Manaus. Os desenhos também são levados para vender em eventos como feiras urbanas, universitárias e independentes, nos quais o sebo participa.

Atualmente, o artista está aguardando uma resposta para ser voluntário em uma comunidade indígena na cidade de Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas. “É uma vontade pessoal. Tem a ver com a pesquisa, mas eu também gostaria de fazer algo mais prático, útil, sair um pouco do âmbito dos livros e da internet para estar nas tribos e conhecer, de perto, suas lutas e, quem sabe, lutar com eles”, disse Miguel Simões.

Adesivos de Miguel Simões (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

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Reportagem Noticiosa

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