Política

Times de mulheres de São Gabriel estão na campanha Jogue como uma Garota

Por Izabel Santos Publicado em: 09/06/2019 às 03:18

Manaus (AM) – A cidade de São Gabriel da Cachoeira fica distante a quase 900 quilômetros da capital amazonense, na fronteira do Brasil com a Venezuela e Colômbia. O município tem a maior população indígena do Brasil e fica na região do Alto rio Negro, no noroeste do Amazonas, onde vivem 23 etnias. Lá existem 10 times de futebol feminino, e todos eles têm jogadoras representando as etnias da região.

Neste domingo (9 de junho), as jogadoras estarão reunidas para assistir a transmissão ao vivo pela TV, da estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da França. O evento, que acontece no bar “Recanto do Gringo”, faz parte da campanha Jogue como uma garota, realizada pela marca-protesto Peita, de Curitiba, em parceria com agência Amazônia Real.

De São Gabriel da Cachoeira, por telefone, a embaixadora da campanha, Edneia Teles, da etnia Arapaso, disse à reportagem que o evento vai valorizar o futebol feminino no município. Da população de 44.816 pessoas, segundo o IBGE 2018, cerca de 90% é composta por indígenas.

Edineia Teles é a embaixadora da campanha Jogue como uma garota

“O futebol é a vida das mulheres de São Gabriel da Cachoeira. As mulheres indígenas amam futebol, mas, infelizmente, não temos visibilidade. Em 2014, realizamos nosso primeiro campeonato e hoje estamos na quinta edição do evento. Somos mulheres, de 23 etnias, e precisamos dessa oportunidade, pois o esporte muda vidas aqui na fronteira”, relatou Edneia.

“Por mais que estejamos no interior, o futebol feminino domina São Gabriel. Por isso, estamos bem mobilizadas para torcer para o Brasil”, disse Edneia, a fundadora do Campeonato de Futebol Feminino de São Gabriel da Cachoeira.

Time Independente FC (Foto: Divulgação)

Os 10 times de futebol feminino de São Gabriel são: Rio Negro; Atletico Amazonas; São Gabriel; Dabarú Esporte Clube (DEC); MAF; Juventude; Graciliano; Independente, ASA e Nova União.

A jogadora Laura Lima, da etnia Baré, é a presidenta do time de futebol Juventude. Ela disse que o esporte em São Gabriel da Cachoeira é muito precário. As jogadoras não têm um campo de futebol com grama, treinam em um campo de terra batida, e faltam equipamentos como chuteiras, uniformes, entre outros. “A gente luta, a gente brinca, sem esperar nada de ninguém. Somos indígenas e amamos o futebol”, disse Laura.

O lançamento da transmissão dos jogos da Copa do Mundo 2019, da campanha Jogue como uma garota, aconteceu na sexta-feira (8). O evento, que está sendo realizado em 21 cidades brasileiras, tem a missão de engajar as (os) torcedoras (es), jogadoras (es), grupos de defesa dos direitos das mulheres e o público em geral para dar visibilidade à Seleção Brasileira Feminina no país do futebol.

O time do Brasil participou de todas as Copa do Mundo de Futebol Feminino. Mas o campeonato da França, assim como nas outras oito edições anteriores, não mobilizou o país. As outras edições do mundial aconteceram na China (1991 e 2007), Suécia (1995), Estados Unidos (1999 e 2003), Alemanha (2011) e Canadá (2015). Leia aqui.

Lançamento da campanha no Curupira Mãe do Mato
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Em Manaus, a estreia da campanha Jogue como uma garota reuniu mulheres torcedoras de coletivos feministas, de movimentos sociais feministas e LGBT+, no Espaço Curupira Mãe do Mato, que tem como anfitriã Gabriela Refosco.

Estiverem presentes ao evento, a embaixadora da campanha Kátia Brasil, da agência Amazônia Real; Anne Paiva, do Instituto Mana; Marília Freire, do Humaniza Coletivo Feminista; Naty Veiga, do Movimento “Miga, Sua Lôca!” Cultura e Diversidade; Elvira Eliza França, da partidAmazonas; Marinete Almeida, líder indígena Tukano, da Associação das Artesãs Indígenas da Amazônia Viva (AAIMAV) e do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM); as representantes do Manifesta LGBT, Suzana Perroni e Isabela Cristina. A secretária-executiva de Políticas Públicas para Mulheres do Amazonas, ligada a Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos, Ana Barroncas, também estava presente.

Segundo Ana Barroncas, “eventos como esse são importantes para evidenciar e dar publicidade ao futebol feminino. Gostei muito de saber da iniciativa e agora vou entrar em contato com a Secretaria de Estado de Juventude, Esporte e Lazer, em São Gabriel da Cachoeira, para ver de que maneira podemos ajudar a promover o esporte no município”, disse a secretária, Ana Barroncas.

Naty, Kátia, Ana, Gabriela e Anne
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

No Espaço Curupira Mãe do Mato, Gabriela Refosco organizou uma decoração com os temas das festas do mês de junho, com cores bem vibrantes. Ela destaca que a campanha Jogue como uma garota veio para provocar o segmento do comércio, que geralmente se organiza para a Copa do Mundo masculina. “Queríamos muito que o comércio apoiasse a transmissão. Por isso, nos comprometemos com a campanha. O Curupira é um espaço bem aberto e que tem a proposta de deixar as pessoas à vontade. Queremos ajudar a criar uma consciência nas pessoas”, disse ela, fortalecendo a importância do futebol feminino no país.

Visibilidade é a melhor parte

Torcedoras no Curupira (Foto: Alberto César Araújo)

Nunca uma Copa do Mundo Feminina teve tanta publicidade e promoção como esta que acontece na França. Para se ter uma ideia, houve até um recorde de vendas de ingressos alcançado em abril. A Federação Internacional de Futebol (Fifa) espera ter audiência de 1 bilhão de espectadores, em 135 países. Até a patrocinadora do campeonato desenhou um uniforme especial, o que foi um fato inédito para a Seleção Brasileira Feminina.

Mesmo assim, a avaliação é que as iniciativas precisam ser mantidas e devem evoluir. “Esse é o primeiro degrau de uma longa escada. O futebol feminino está sendo muito comentado, mas não temos ponto facultativo, flexibilidade de horários nem camisas oficiais. Ou seja, não se tem a mesma mobilização provocada pelo futebol masculino”, avalia a advogada Anne Paiva, do Instituto Mana.

“Seria bom se isso fosse natural. Se estivéssemos em patamar de garantia de maior de empoderamento feminino, talvez aqui estivesse mais cheio. Mas acho que demos um passo importante”, avalia Marília Freire, do Coletivo Humaniza.

Segundo a embaixadora da campanha Jogue como uma garota em Manaus, Kátia Brasil, para o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo, neste domingo pela manhã, há uma expectativa muito grande das torcedoras. “A mobilização da campanha está tendo uma grande adesão. A ideia de reunir torcedores é para valorizar as jogadoras brasileiras. A campanha teve uma ótima receptividade na imprensa de Manaus e em nível nacional. Queremos agradecer, em especial, às mulheres que são jornalistas das editorias de esporte”, disse Kátia.

A Seleção Brasileira estreia hoje sem a atacante Marta, por causa de uma lesão na coxa, disse o técnico Vadão. Leia aqui.

Jogadora Ludmila (Foto: CBF)

Copa do Mundo 2019

Brasil x Jamaica – Grupo C

Estádio: Stade des Alpes, em Grenoble, na França

Seleção Brasileira

Técnico: Vadão

Jogadoras: Barbara, Leticia, Kethelen, Monica e Tamires; Formiga, Thaísa, Debinha e Andressa Alves; Cristiane e Bia Zaneratto

Seleção da Jamaica

Técnico: Hue Menzies

Jogadoras: Sydney Schneider, Konya Plummer, Marlo Sweatman, Allyson Swaby e Dominique Bond-Flasza; Lauren Silver, Havana Solaun e Chinyelu Ascher; Cheyna Matthews, Khadija Shaw e Jody Brown

Assista a Copa do Mundo Feminina 2019

Horários em Manaus:

( • ) 09/06 às 09h30 – Brasil x Jamaica 

( • ) 13/06 às 12hs – Brasil x Austrália

( • ) 18/06 às 15hs – Brasil x Itália

Local: Espaço Cultural Curupira Mãe do Mato, na Avenida Sete de Setembro, no 1.710

Entrada: R$ 5,00

Informações: (92) 9 8115 72 03 (Gabi) / (92) 98207 5542 (Kátia)

( • ) Acompanha a campanha aqui: http://twixar.me/j2pn

( • ) Leia o #manifestojoguecomoumagarotacompleto em nosso

( • ) www.peita.me

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])