Entrevista com Lucy Takehara: Produção de terras raras é viável

Por Elaíze Farias Publicado em: 21/10/2013 às 05:50

Lucy Takehara, que é doutora em Geociências, concedeu a seguinte entrevista ao portal Amazônia Real:

O que se sabe sobre as reservas na Amazônia?

A CPRM na década de 70 a 90 realizava projetos de pesquisa própria, ou seja, realizava projetos de pesquisa voltados para exploração mineral, competindo com a iniciativa privada. Os Projetos Seis e Repartimento foram pesquisados para nióbio e níquel, respectivamente, naquele momento não se falava de terras raras. O projeto Uaupés foi um projeto com enfoque puramente econômico, o qual foi realizado estudos de viabilidade econômica do depósito. Este projeto não foi viabilizado para nióbio por dois fatores principais: saturação do mercado mundial de nióbio, com a produção de nióbio em Araxá (MG) e também, por ter se tornado uma reserva biológica estadual, mas esta eu tenho dúvida se existiu, pois o decreto estadual não foi publicado no Diário Oficial do Amazonas e eu não consegui encontrar nas Publicações do AM. Depois virou Terra Indígena.

Por que o levantamento é importante?

O Projeto Terras Raras da CPRM está sendo realizado para se conhecer
melhor o potencial de ETR no país. Grande parte das áreas alvos já foi
identificada, mas a sua potencialidade econômica, rotas de beneficiamentos ainda não foram definidas. Assim, com este projeto
procuraremos distinguir os alvos com potencial econômico e se
possível, encontrar novas áreas alvos potenciais.

Para que ele servirá?

O estudo está inserido dentro das demandas do governo federal e inserido no PAC 2. Além disso, em 2010 foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial, envolvendo o Ministério de Minas e Energia e o Ministério de Ciência e Tecnologia, que tem como um dos objetivos o estudo de verticalização da cadeia produtiva de alguns bens minerais,
principalmente aqueles que são considerados estratégicos, conforme Plano Nacional de Mineração 2030, que são aqueles que têm influência na balança comercial do Brasil (minério de ferro). Temos dependência externa (potássio) e os elementos portadores do futuro. Diante das políticas do setor mineral vai ser importante para fazer o norteamento
de futuros projetos para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva.

A senhora acredita na viabilidade econômica de explorar as terras raras?

Sim, pois como Serviço Geológico do Brasil, nós temos que conhecer o potencial do nosso subsolo. Acredito que em breve o Brasil estará produzindo ETR, como pode ser visto, os investimentos de algumas empresas neste setor tem sido significativos. Recentemente foi publicado que a CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) está em vias de iniciar as vendas de óxidos de ETR. Tem-se a MBAC (empresa canadente) que está investindo em pesquisas de extração de ETR e também buscando parcerias para produção de produtos manufaturados. A Mineração Taboca está investindo em pesquisa na extração de TR das xenotima. Como pode ser notado, tem vários projetos em andamento e alguns bastante adiantados. Acredita-se que no momento não seremos grande player no mercado, mas nos próximos 10 anos muita coisa pode acontecer. Principalmente se for resolvido a questão tecnológica para extração de ETR.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).