A migração indígena na fronteira no Baixo Amazonas

RENAN ALBUQUERQUE O que vem a significar o sofrimento mental para povos indígenas em situação migracional no Estado do Amazonas? A pergunta diz respeito não apenas a contingências sociais, mas também a problemáticas interétnicas. O Baixo Amazonas, enquanto região de […]

Por Amazônia Real Publicado em: 01/09/2015 às 15:00

RENAN ALBUQUERQUE

O que vem a significar o sofrimento mental para povos indígenas em situação migracional no Estado do Amazonas? A pergunta diz respeito não apenas a contingências sociais, mas também a problemáticas interétnicas.

O Baixo Amazonas, enquanto região de fronteiras, onde o trânsito de pessoas é comparativamente alto em relação a demais áreas da Amazônia profunda, recebe aportes populacionais diversos e também, por isso, convive entre modernidades tecnológicas e processuais. São transformações que chegam até a sociedade e geram flutuações comportamentais, impactando na dinâmica interpessoal de convivência.

Esses impactos, sobretudo, se referem ao preenchimento da vida com objetos (úteis e inúteis), o que passou a ser tão importante quanto a própria vida simbólica dos migrantes indígenas em comunidade. Como resultado, na medida em que experiências de mundo se tornaram prerrogativas, a disciplina do ter animou liberdades individuais entre povos étnicos, assim como já animara sociedades urbanas a partir da segunda metade do século passado.

No mesmo período, a migração na Amazônia deixou de ser atividade fundamentalmente relacionada a acompanhamento familiar, busca por trabalho e acesso a serviços básicos, sobretudo no caso de indígenas, para se configurar enquanto atividade relacionada à necessidade por estudo e busca por reconhecimento social. São diferentes padrões motivacionais formados e que levam a pessoa indígena a confluir à urbe e enfrentar processos de reterritorialização.

O sentido da vida, ao ser arranjado também por meio de atos migratórios, tornou-se às populações indígenas amazônicas uma questão de magnitude aumentada. Os cidadãos em trânsito nas urbes do bioma passaram a ser principalmente indivíduos que se mantêm desconstruindo e reconstruindo seus imaginários em função de ambientes percorridos e da diversidade sociocultural experimentada. São índios à procura de estabelecimento e solidez moral.

Mas os sistemas de representação da população indígena que se encontra permanentemente em trânsito migratório no Baixo Amazonas dispõem-se de maneira fluida, mutável e dual. As coisas de casa se misturam com as coisas da rua, e as coisas da rua são as coisas dos brancos, misturadas originalmente em si mesmas. Portanto, estar enredado em sofrimento mental é estar com problemas relacionados a internalidades e também às coisas dos brancos.

* Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios waimiri-atroari, sateré-mawé, hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária

Reportagem Noticiosa

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