A questão do lixo em Parintins (Parte II – A mitigação)

RENAN ALBUQUERQUE A lixeira a céu aberto de Parintins, a 369 quilômetros via fluvial da capital do Amazonas, Manaus, infelizmente não tem sido questionada com seriedade pela mídia amazonense, que ano após ano noticia o Festival Folclórico dos Bois e […]

Por Amazônia Real Publicado em: 25/11/2013 às 00:48

RENAN ALBUQUERQUE

A lixeira a céu aberto de Parintins, a 369 quilômetros via fluvial da capital do Amazonas, Manaus, infelizmente não tem sido questionada com seriedade pela mídia amazonense, que ano após ano noticia o Festival Folclórico dos Bois e esquece que jornalismo é serviço público de cidadania e não um ato de limpar botas de políticos e afins. Todavia, não entremos nessa seara. De momento, importa destacar que Parintins, na verdade, tem sido celeiro de estudos científicos importantes e de nível elevado na área de biotecnologia, em uma atividade na qual os próprios estudantes da ilha estão conseguindo apresentar soluções para entraves cotidianos da região — entre eles a lixeira pública.

Após dois anos de pesquisa no mestrado em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia, a bióloga Adriana da Silva Nunes apresentou alternativa para minimizar impactos do chorume da lixeira de Parintins, onde se despeja de modo criminoso hoje, em média, 60 toneladas de resíduos sólidos diariamente, contabilizando-se o material orgânico recolhido. Ela trabalhou com a biorremediação, que consiste na utilização de fungos amazônicos capazes de produzir enzimas para degradar estruturas moleculares pesadas. O êxito da pesquisadora se deu com o uso do fungo orelha-de-pau, “urupé vermelho”, comum na região. O nome científico é Pycnoporus sanguineus e possui potencial para degradar chorume.

“Tivemos resultados animadores. Diminuiu a toxicidade do chorume nas concentrações utilizadas em laboratório. O fungo cresceu só com o uso do chorume como fonte de carbono. Isso é mais animador ainda porque geralmente os fungos necessitam da otimização das condições para o crescimento”, destaca Adriana, que submeteu o paper da pesquisa com o P. sanguineus a uma revista internacional. Para ela, hoje doutoranda do mesmo programa, os resultados servem de parâmetro para a criação de um programa de tratamento de resíduos no município.

Conforme a pesquisadora, para a implantação seriam necessários investimentos que garantissem estrutura adequada. Estudos em laboratório deram resultado significativo, mas transmitir para um local aberto, especificamente uma lixeira, exige mais estruturação. Segundo a bióloga, esse tipo de atividade já existe no Brasil e é uma estação de pré-tratamento. “É um projeto que pode ser aplicado em Parintins. Faz-se pré-tratamento com o fungo numa estação onde o chorume é coletado para se passar posteriormente por processos físico-químicos e biológicos. Seria diminuída a toxidade, a coloração, a demanda química e bioquímica de oxigênio para poder haver a recuperação”, explica.

O chorume é um misto de vários complexos. Quando o material infiltra no solo se torna algo pior. De acordo com Adriana, essa é a realidade da lixeira de Parintins, que compromete toda a estrutura da área, principalmente o solo. Segundo a doutoranda, para transferir o lixão a outro local tem de haver estruturação, desde física a técnicas de engenharia, o que permitiria a implantação de uma estação de tratamento para trabalhar os fungos na degradação do chorume, que é a base tóxica do lixo orgânico. “Quando se trata de técnica de engenharia adequada a lixões, deve haver trabalho em maior proporção”, reforça. Para a bióloga, se houve resultados satisfatórios com o “urupé vermelho” não é descartada a descoberta de outros fungos na região capazes de degradar não só o chorume, mas outras matérias como garrafas PET.

As afirmativas da pesquisadora apontam para uma realidade infame, que abrange não somente Parintins. Em todo o Baixo Amazonas a situação dos lixões a céu aberto se repete, de forma que é preciso pressionar o Estado a fazer valer a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Essa PNRS prevê a extinção dos lixões grotescos no Brasil e a criação de aterros sanitários até agosto de 2014. Além do mais, seria de bom tom efetivar parcerias urgentes para mitigar a questão, até mesmo porque uma lixeira a céu aberto configura crime ambiental relacionado à poluição, segundo decreto 7.404/10 da lei 12.305/10.

Reportagem Noticiosa

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