Meio Ambiente

Amazônia em Chamas: jovens brasileiros realizam a “Semana para o Futuro Global” em defesa da floresta

Por Izabel Santos Publicado em: 19/09/2019 às 23:08

A imagem acima mostra jovens esperando a chegada da ativista ambiental Greta Thunberg em Nova York, no dia 28 de agosto, após uma viagem de 15 dias pelo Atlântico.

(Foto: Michael Appleton / Mayoral Photography Office/ Fotos Públicas)

Manaus (AM) – A manifestação “Greve Global pelo Clima” iniciada na Europa pela estudante sueca Greta Thunberg, de 16 anos, e que levou milhares de jovens a protestar contra o descaso dos governantes sobre as mudanças climáticas, em 2018, chega as capitais brasileiras que abrigam o bioma Amazônia. Pela primeira vez, estudantes de Manaus (AM), Belém (PA), Macapá (AP), São Luís (MA) vão fazer o protesto que recebeu o nome de “WeekForFuture global” (em português Semana para o Futuro Global). O ato, que inicia nesta sexta-feira (20) e segue até o próximo dia 27, conta com atividades educativas e conscientização sobre a preservação da floresta amazônica, que enfrenta este ano o aumento das taxas de desmatamentos e queimadas, além de um descaso na política ambiental do governo de Jair Bolsonaro (PSL).

No Brasil, mais de 40 cidades, em mais de 20 estados, estão mobilizadas para realizar o protesto “Semana para o Futuro Global”, que conta com o apoio de organizações de estudantes, ambientalistas, movimentos sociais, partidos políticos e ativistas.

No mundo, de acordo com a organização “Fridays For Future”, criada pela estudante Greta Thunberg, estão confirmados eventos da “Semana para o Futuro Global” em mais de 4.500 cidades de 180 países, incluindo a Antártida. Mas esses números estão mudando a todo instante, pois jovens de todo mundo estão aderindo ao protesto. A ação antecede Cúpula de Ação Climáticas (Climate Action Summit) da Organização das Nações Unidas (ONU), que começa no dia 23, em Nova York (EUA).

A programação em Manaus começará com a aula pública “Amazônia e as Mudanças Climáticas”, às 17h30, na Casa das Artes no Largo de São Sebastião, no centro da cidade. Na próxima quarta-feira (25), um grupo de voluntários estará no Terminal de ônibus 1, na Avenida Constantino Nery, falando à população sobre as mudanças climáticas e suas consequências para o planeta. Na sexta-feira (27), finalizando a semana, haverá um ato a partir das 15h, na Praça da Saudade, também no centro da capital amazonense.

A programação da “Semana para o Futuro Global”, segundo os organizadores, em Belém (PA) está prevista para acontecer na Escadinha do Cais do Porto, na Av. Presidente Vargas, às 17h. Em Macapá (AP), no Parque do Forte, às 16h. Em São Luís (MA), será na Praça Deodoro, às 15h.

Excluindo apenas o estado do Amapá, os outros oito estados da Amazônia enfrentam alta de incêndios florestais deste o mês de junho, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou um aumento dos desmatamentos e também das queimadas. Os protestos contra a política negacionista do governo do Jair Bolsonaro, que culpou as organizações não governamentais pelos incêndios, foram convocados por movimentos em todo o mundo. Leia a série Amazônia em Chamas.

Incêndio em Alter do Chão, no Pará (Foto: Jader Paes /Ag.Pará)

Quem é Greta Thunberg?

A ativista ambiental Greta Thunberg chega de embarcação em Nova York
(Foto: Michael Appleton / Mayoral Photography Office)

A estudante Greta Thunberg estava no nono ano do ensino fundamental quando, em 20 de agosto de 2018, quando decidiu não frequentar a escola às sextas-feiras. Com um cartaz nas mãos que dizia “Skolstrejk för Klimatet!” (que em português que significa “Greve escolar pelo clima”), ela começou o movimento #FridaysForFuture (Sextas-feiras do futuro) ainda com 15 anos de idade. “Greta Thunberg sentou-se em frente ao parlamento sueco todos os dias durante três semanas, para protestar contra a falta de ação sobre a crise climática. Ela postou o que estava fazendo no Instagram e no Twitter e logo se tornou viral”, diz o site da organização #FridayForFortune.

No dia 8 de setembro, conforme o site, Greta decidiu continuar atacando todas as sextas-feiras até que as políticas suecas apresentassem um caminho seguro bem abaixo de 2 graus C, ou seja, de acordo com o Acordo de Paris.

“As hashtags #FridaysForFuture e #Climatestrike se espalharam e muitos estudantes e adultos começaram a protestar fora de seus parlamentos e prefeituras locais em todo o mundo. Isso também inspirou as greves escolares na quinta-feira na Bélgica”, diz a organização.

Oito meses depois ela inspirou quase 1,5 milhão de estudantes em mais de 100 países a realizarem, no dia 15 de março de 2019, a primeira “Greve Global pelo Clima”.

Com capacidade de influência e mobilização, Greta se consolidou como uma das pessoas com maior visibilidade sobre temas ambientais após discursar na Conferência do Clima da ONU, COP 24, em dezembro de 2018 na Polônia, e calar os líderes mundiais presentes. Ela também criou a organização #FridaysForFuture.

Atualmente, a jovem está nos Estados Unidos para participar da Cúpula de Ação Climáticas da ONU, que acontece neste dia 23. Ela chegou ao país após cruzar o Oceano Atlântico no veleiro sustentável “Malizia II”. Greta tem cumprido uma intensa agenda ambiental no país da América do Norte e já deu mais um recado importante nesta quarta-feira (18), no Congresso dos Estados Unidos: “Não quero que vocês me escutem, quero que vocês escutem os cientistas”.

O reflexo no Brasil

Mobilização em Brasília em março de 2019
(Foto: Reprodução Facebook)

Fabiana Alves, da organização ambientalista Greenpeace, que apoia a “Greve Pelo Clima” em Manaus, destaca a importância do envolvimento dos jovens brasileiros nos protestos em favor do meio ambiente e em defesa da Amazônia.

“As mobilizações estão acontecendo no Brasil inteiro, mas falar em emergência climática tem tudo a ver com preservar a Amazônia, repensar o modelo econômico aplicado na região, para que se conserve a floresta e, ao mesmo tempo, gere emprego para a população. O que vemos hoje em dia é uma desigualdade tremenda, o desmatamento ilegal assolando a floresta, a Amazônia é importante para conter as mudanças climáticas e o que acontece na Amazônia não fica só nela, reflete em todo o Brasil. Ainda mais no contexto que temos hoje de grandes chuvas que levam a inundações e deslizamentos, tudo isso afeta diretamente os direitos das pessoas”, defende Fabiana.

A Igreja Católica também apoia a “Greve Pelo Clima”. De acordo com o coordenador Serviço Amazônico de Ação e Reflexão Socioambiental (Saares), padre Paulo Tadeu Barausse, a iniciativa da jovem Greta e outros estudantes que defendem ações climáticas urgentes estão alinhados com o que disse o Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si, publicada em 2015. “Não poderíamos ficar de fora da discussão de uma questão tão urgente e importante quanto o clima. Os líderes mundiais se reúnem para tratados e conferências, discutem o assunto e voltam para os seus países para efetivar as decisões, mas isso nem sempre acontece, como sabemos”, diz o padre.

“A Greta é importante e uma figura inspiradora, assim como outros jovens de diversas partes do mundo que lutam pelas causas climáticas. Pelo exemplo deles, temos que refletir sobre o nosso modo de vida, pois se continuarmos com esse consumismo desenfreado não vamos alcançar bons resultados. É importante esse despertar dos jovens para o grito dos povos e da mãe da terra, que é um só”, destaca o padre.

Jovens querem atitude

Jovens durante a primeira manifestação em 15 de março no Rio de Janeiro
(Foto: Reprodução Facebook)

Esta é a segunda vez que a “Greve Global pelo Clima” recebe a adesão de jovens brasileiros. A primeira foi no dia 15 de março de 2019. “A primeira faísca surgiu cinco dias antes, em 10 de março, quando um menino criou o perfil Fridays For Future (Sextas-feiras para o futuro) no Instagram, com um link de um grupo de Whatsapp, e de forma muito orgânica conseguimos mobilizar 24 cidades. Foi muito rápido”, conta uma das coordenadoras do movimento no Brasil, a estudante de biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nayara Almeida, 21 anos, à agência Amazônia Real.

A partir daí o movimento só cresceu, disse a coordenadora. A maior parte da mobilização acontece online com esclarecimentos sobre o que são as mudanças climáticas e como elas podem ser minimizadas, explica Nayara.

Manifestação em Berlim em março de 2019 (Foto: Kevin McElvaney / Greenpeace)
Greta durante manifestação em Berlim em março de 2019 (Foto: Kevin McElvaney / Greenpeace)
Manifestação que terminou em frente ao Congresso dos Deputados. Madri na Espanha em 15/03/2019 (Foto: Pedro Almestre/Greenpeace)
Manifestação climática fora do parlamento em Estocolmo é realizada dois dias antes da COP em Katowice em 30/11/2018. (Foto: Jana Eriksson / Greenpeace)
Greta Thunberg, se une a ativistas climáticos em um protesto do FridaysForFuture em frente à sede da ONU em 30/08/2019 na cidade de Nova Iorque, (Foto: Manuel Elias/ONU)
Protestos organizados por Greta Thunberg Fridays for Future 25.01.2018 em Berlim (Foto: Jörg Farys/Fridays for Future)
Protestos organizados por Greta Thunberg Fridays for Future 25.01.2018 em Berlim (Foto: Jörg Farys/Fridays for Future)
Nova Iorque, 30 /08/2019 - Greta Thunberg,, se une a jovens ativistas climáticos em um protesto do FridaysForFuture em frente à sede da ONU. (Foto: Manuel Elias/ONU)
Greta Thunberg chega a Nova York após uma viagem de 15 dias pelo Atlântico na quarta-feira, 28 /08/2019. (Foto Michael Appleton / Mayoral Photography Office/ Fotos Públicas)
Protestos organizados por Greta Thunberg Fridays for Future 25.01.2018 em Berlim (Foto: Jörg Farys/Fridays for Future)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])