Povos Indígenas

Amazônia em Chamas: mulheres indígenas fazem ato em defesa da floresta em Manaus

Por Elaíze Farias Publicado em: 04/09/2019 às 22:51

A manifestação em defesa também dos territórios acontece nesta quinta-feira (5) na Praça da Saudade, das 16h e 21h. Na imagem está a jovem liderança Samela Sateré Mawé, na Marcha das Mulheres em Brasília

(Foto de Douglas Mansur/Celeiro de Memória)

Manaus (AM) – A Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil, realizada no dia 13 de agosto deste ano, em Brasília, foi um marco reunindo cerca de duas mil pessoas de vários povos do país. Pela primeira vez, a luta delas pela proteção da floresta e pela defesa do território tradicional ganhou visibilidade internacional. Quase um mês depois, as mulheres indígenas voltam às ruas, desta vez em seus estados, para defender a mãe-terra. Em Manaus, elas irão protestar contra o desmatamento e as queimadas na Floresta Amazônica nesta quinta-feira (5 de setembro), Dia Internacional da Mulher Indígena e Dia da Amazônia.

O ato “Mulheres Indígenas em Defesa da Amazônia” acontecerá na Praça da Saudade, na rua Epaminondas, no Centro, entre 16h e 21h. Na programação haverá atividades culturais, venda de artesanatos, shows musicais e recitais de poesias (veja programação ao final). A mobilização é organizada pela Rede das Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira-Êta (Rede Estrela, em Tupi e em Tikuna).

Uma das coordenadoras da manifestação, Marinete Costa, do povo Tukano, disse à agência Amazônia Real que o ato será uma mostra da resistência das mulheres indígenas da cidade e das comunidades. Ela conta que haverá momentos de leituras e momentos de lembrar lideranças que morreram lutando pelos povos indígenas. Para Marinete, não será momento de comemoração, mas de protesto.

“O 5 de novembro é uma data para lembrar a nossa irmã peruana que morreu e que deu nome ao dia. Ela lutou e ajudou a nos liberar. Será um momento de protestar. As mulheres falarão sobre demarcação, floresta, ataques aos povos indígenas, etc”, disse Marinete, em referência à Bartolina Sisa, assassinada no século 18.

Conforme a liderança, o ato também é uma mobilização local herdada da Marcha ocorrida no mês passado. “É o Dia da Amazônia, mas também das mulheres indígenas. Queremos mostrar que, quando ocorrem problemas de desmatamento e de queimadas, ou garimpo, as mulheres são atingidas diretamente. A mulher que está na aldeia não tem como fazer roçado e terá dificuldade de ter o que comer”, afirmou Marinete.

A liderança Rosimere Teles no Dia Internacional das Mulheres, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Rosimere Teles, coordenadora da Rede das Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira-Êta, explica que a mobilização deste mês é a concretização de um projeto que já vem sendo organizado há três anos. Segundo ela, as mulheres indígenas viram a urgência de irem para as ruas motivadas pelos ataques aos seus direitos e às demarcações territoriais do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

“Nós, mulheres, temos uma bandeira de luta a qual defendemos nos dois e três últimos anos. Este ano mais ainda, com este governo, diante de todas as atrocidades que ele vem fazendo. Nossa mobilização é voltada às questões territoriais e ambientais. Tudo isso faz com que a luta das mulheres tenha como bandeira o território”, conta Rosimere Teles, da etnia Arapaso.

Rosimere diz que, no processo de fortalecimento das mulheres indígenas, é preciso associar as demandas indígenas com as ameaças à Amazônia.

“O ato será um grito das mulheres em favor da Amazônia. O impacto que ocorrer na região não será só em nós, indígenas, mas em toda a sociedade, no país e no planeta. Defender a Amazônia é defender a vida da mulher, do homem, dos jovens, das crianças, dos velhos. Beneficia até os grandes fazendeiros, que também dependem da floresta para ter chuva e água. A sociedade precisa acordar”, diz Rosimere.

Ela também destacou o empoderamento da mulher indígena para os grandes eventos políticos do país e no seu papel de apoiar os “guerreiros” indígenas que já estão nas mobilizações.

“As mulheres, vendo que os homens estão tombando, também passaram a abraçar a causa, tomando a linha de frente, em defesa dos territórios. Elas deixam seus afazeres de casa e abraça a causa de seu povo”, afirmou.

Marcha do Dia Internacional das Mulheres, em Manaus, em 2019
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A data do Dia Internacional da Mulher Indígena foi instituída durante Encontro de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu, na Bolívia, em 1983. Ela foi escolhida porque foi no dia 5 de setembro de 1782 que a indígena Bartolina Sisa, da etnia Aimará, localizada no Alto Peru (hoje Bolívia), foi morta e esquartejada durante revolta liderada pelo seu esposo Túpac Katari, contra autoridades da colônia espanhola. A data foi reafirmada pela ONU Mulheres.

O Dia da Amazônia surgiu em referência à data da criação da Província do Amazonas (hoje estado do Amazonas), no dia 5 de setembro de 1850.

Os protestos a favor da Amazônia se espalharam pelo mundo em agosto, após o governo do presidente Jair Bolsonaro tratar a fumaça em São Paulo, captada pelas imagens de satélites da Nasa, de “fake news” e a culpar as organizações não governamentais pelos incêndios florestais na floresta amazônica.

Em respostas ao protestos, Jair Bolsonaro autorizou o emprego das Forças Armadas para atuar no combate das queimadas em “áreas de fronteira, terras indígenas, unidades de conservação ambiental e em outras áreas da Amazônia Legal”. Até o momento, as equipes ainda combatem incêndios.

Acompanhe a série Amazônia em Chamas: fumaça das queimadas avança sobre a região Sudeste

Regina Sateré Mawé, grande liderança do Movimento Indígena do Amazonas
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O que é?

Ato: Mulheres Indígenas em Defesa da Amazônia

Local: Praça da Saudade, Centro de Manaus

Horário: entre 16h e 21h

Atividades: Músicas, poesias, venda de artesanato, comidas e grafismos

Realização: Movimento de Mulheres Indígenas

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).