Brilho eterno

FÁTIMA GUEDES “Ninguém pode apagar uma estrela que tem brilho próprio”, afirmara Pablo Milanês, cantor e compositor cubano, em sua Canción por la Integración Latino-Americana.” Logo, Eduardo Galeano é mais um dentre outros e outras que se imortalizaram no Tempo, […]

Por Amazônia Real Publicado em: 21/04/2015 às 12:27

FÁTIMA GUEDES

“Ninguém pode apagar uma estrela que tem brilho próprio”, afirmara Pablo Milanês, cantor e compositor cubano, em sua Canción por la Integración Latino-Americana.” Logo, Eduardo Galeano é mais um dentre outros e outras que se imortalizaram no Tempo, na História e nas Lutas pela geopolítica da América-Latina. Dada a magnitude de sua luminosidade em minha trajetória humana, desafio-me tecer fragmentos de sua memória e compartilhar com a irmandade caboca.

Às vezes, surpresas nos invadem e cuja perplexidade nos leva para além do que somos e do que planejamos em nosso limitado universo. Nossa participação inesperada no V Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, deu-se justamente assim e veio como uma resposta das divindades a essa busca incessante daquelas e daqueles que, circunstancialmente, vivem isolados das lutas em prol de uma Globalização Solidária.

Ademais, para a semente eclodir, se transformar em árvore e produzir os devidos frutos é fundamental que os nutrientes do solo, as condições climáticas assim como o zelo do semeador caminhem em perfeita sincronia.

Aquele inesperado convite da Enfermeira Sanitarista Margarida Campos, da Articulação Nacional de Movimentos e Práticas Populares de Saúde, foi o começo da preparação do solo para nossa construção militante. Na sequência, vislumbrava o Fórum como o canteiro para o despertar dessa semente que se amanhava sozinha, mas inquieta no árido isolamento geográfico e político que nos distancia do eixo central de nossa latinidade.

Fui! Como se diz no popular, sem eira nem beira. Tudo era novidade, excluindo-se os anseios da grande maioria. Diante de mim, descortinava-se uma realidade com personagens, códigos e símbolos diferentes do habitual que me envolviam e cuja decodificação enchia-me o coração de fogo e a cabeça de ideias.

Iniciara-se a Conferência. “Quijotes y quijotas, hoy”, me colocava frente a frente com Eduardo Galeno que desnudava Dom Quixote e, ao mesmo tempo em que nos comprometia com a aventura de descobrir fiéis parcerias e, estrategicamente, enfrentar monstros históricos… As palavras são limitadas para expressar tudo que vivemos e experimentamos…

No Canto Irreverente de Galeano, desafiava impérios, determinismos, limites e nos apontava A janela: “Ela está no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se distancia dois. Caminho dez passos e o horizonte corre dez além. Por mais que caminhe, nunca o alcançarei. Para que serve a Utopia? Serve para isso: para caminhar”.

Considere-se que, a caminhada em direção ao Horizonte desenhado pelo Revolucionário Escritor, exige que seus seguidores desvendem mistérios, contradições ideológicas, enfim, superem as fragmentações de ordem geopolítica que nos segregam, que nos alienam do que somos e queremos… Por esse viés, é impossível fortalecer os passos rumo à intervenção e ao enfrentamento à lógica dos impérios sem conhecer As Veias Abertas da América Latina; sem saciar a sede nesses mananciais regados com altivez, rigor, coerência e autonomia.

Dentre outros tantos nutrientes necessários a nossa desnutrida resistência civil, despira o Sistema, sem falso pudor, diante de nossa ingênua visão: “Os funcionários não funcionam. Os políticos falam, mas não dizem. Os votantes votam, mas não elegem. Os meios de informação desinformam. Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam suas vítimas. Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem o crime, porque estão ocupados em cometê-los. As bancarrotas se socializam, os ganhos se privatizam. É mais livre o dinheiro do que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas”.

Sem meias medidas, manteve-se lúcido e autêntico em toda Conferência; houve momentos em que se assumira-se Profeta e desenhou com precisão O Crepúsculo do Fim do Século: “Está envenenada a terra que nos enterra e nos desterra. Já não há ar, apenas desaire. Já não há chuva, apenas chuva ácida. Já não há parques, apenas ‘parkings’. Já não há sociedades, apenas sociedades anônimas. Empresas em lugar de nações. Consumidores em lugar de cidadãos. Aglomerações em lugar e cidades. Não há pessoas, apenas públicos. Não há realidades, apenas publicidades. Não há visões, apenas televisões. Para elogiar uma flor, dizem: ‘Parece de plástico’.”

Em minha singular pequenez, guardei e cultivei todas essas coisas não apenas no coração…

É isso… Nosso tempo e este curto espaço são limitados para abrigar o Universo Literário de nossa Estrela… Por mais que caminhe, nunca O alcançarei…. Mas, não desisto… A cada dez passos, seu Brilho me acompanha, instigando-me avançar nas possibilidades de outra Parintins possível.

Fátima Guedes é educadora popular e pesquisadora de conhecimentos tradicionais da Amazônia. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), tem especialização em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema (SP). É também fundadora da Associação de Mulheres de Parintins, da Articulação Parintins Cidadã e Militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

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