Povos Indígenas

Estudantes realizam reuniões preparatórias para 5ª. Marcha Indígena do Amazonas

Reuniões pretendem criar documento com demandas dos povos indígenas do estado e mobilizar a sociedade (Foto: divulgação) Manaus (AM) – Os estudantes indígenas do Amazonas estão realizando neste mês de novembro, sempre às quintas-feiras a partir das 17 horas, no […]

5a. Marcha Indígena

Por Izabel Santos Publicado em: 15/11/2019 às 02:21

Reuniões pretendem criar documento com demandas dos povos indígenas do estado e mobilizar a sociedade (Foto: divulgação)

Manaus (AM) – Os estudantes indígenas do Amazonas estão realizando neste mês de novembro, sempre às quintas-feiras a partir das 17 horas, no Museu da Amazônia (Musa), no Largo de São Sebastião, centro de Manaus, rodas de conversa preparatórias para a 5ª. Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas. Na ocasião, indígenas de diversos povos e segmentos sociais discutirão demandas de educação, saúde e outros direitos essenciais. As discussões têm como objetivo a criação de um documento que será entregue às autoridades estaduais.

A iniciativa estadual é promovida pelo Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (Foreeia), Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam) e Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime). O movimento recebe o apoio de diversas entidades, entre elas, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do próprio Musa, onde as reuniões acontecem com o aval do diretor Ennio Candotti.

“Queremos produzir um documento com as demandas e mobilizar a sociedade de forma geral, como instituições de educação, movimentos sociais e outras organizações”, explica a estudante de Pedagogia e uma das organizadoras das reuniões e da marcha, Vanda Witoto.

Segundo ela, as políticas públicas para os povos indígenas foram muito afetadas no governo do presidente Jair Bolsonaro, então as reuniões são muito importantes para ouvir as diversas lideranças do Amazonas. “Estamos contando com a adesão de parentes de várias calhas de rios e pesquisadores, que trazem a comprovação científica dos efeitos danosos das medidas bolsonaristas”, explica Vanda.

A 5ª. Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas acontecerá dia 03 de dezembro, a partir das 15h, com concentração na Praça da Saudade, no centro de Manaus.

Acampamento Terra Livre 2019, em Brasília: indígenas reunidos em frente ao Congresso Nacional (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A manifestação é um desdobramento do Acampamento Terra Livre (ATL), a maior assembleia de povos indígenas do Brasil que acontece todos os anos em Brasília, quando as lideranças fazem várias reivindicações ao governo federal e denunciam as violações de direitos nos territórios, na educação, na saúde, entre outros serviços, e cobram as demarcações das terras.

O secretário regional da SBPC no Amazonas, Sanderson Castro Soares de Oliveira, representa a entidade nas reuniões promovidas no Musa. Ele disse que as reivindicações do movimento indígena são legítimas e é muito importante que entidades como a SBPC as apoie. “Como o contexto federal está desfavorável às pautas indígenas, eles estão buscando apoio junto às autoridades estaduais. Estamos ajudando na articulação e no que é necessário”, explica Oliveira.

Constituição x religião

Participante da primeira reunião 5a. Marcha dos Povos Indígenas
(Foto: divulgação)

A primeira reunião preparatória para a 5ª. Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas aconteceu na última quinta-feira, dia 07 de novembro. O tema do encontro foi “Educação, território, demarcação e fiscalização em terra indígenas” e teve como convidados o assessor da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP), Marcos Apurinã; o líder indígena da região do Vale do Javari, Yura Marubo; e o diretor da Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Amazonas (APG-Ufam), Gabriel Verçoza.

Na ocasião, o diretor do Musa, Ennio Candotti, defendeu a importância da defesa da Constituição Federal, como meio de resguardar os direitos dos povos indígenas. Ele criticou a tentativa de segmentos do Governo Federal em retomar ideias e práticas da época da ditadura militar.

“Hoje, há muito mais consenso do que parece quanto aos direitos indígenas. As pessoas do movimento indígena se queixam de não serem ouvidas. O que ocorre é que os movimentos governamentais cooptam pessoas e enfraquecem o movimento. O momento da unidade é quando a violência se amplia. As conquistas da Constituição são fruto da derrubada da ditadura, pois assim escrevemos uma nova lei e consolidamos direitos humanos para formação de cidadãos”, disse Candotti.

Para o líder indígena Yura Marubo, os povos do Amazonas são esquecidos e vistos como problema para o governo. “O Vale do Javari é a segunda maior terra indígena do Brasil: possui umas das maiores diversidades, bem como a maior população de índios isolados. Lá, enfrentamos um problema grave com os ataques sistemáticos às bases de proteção, porque o governo Bolsonaro dá aval para esses acontecimentos que envolvem assassinos, madeireiros e o agronegócio no Brasil. Hoje, o presidente da República quer substituir a Constituição pela Bíblia Sagrada em um país diverso”, declarou o indígena.

Ennio Candotti e Vanda Witoto (Foto: divulgação)

Para Vanda Witoto, atualmente, as ameaças não colocam em risco somente os povos indígenas, mas também as populações tradicionais. “Na região do Alto Solimões, a mineração é algo muito real e pouco se ouve falar desse avanço nessas áreas, até pela falta de demarcação. Grandes balsas estão fazendo escavações na região. Vir à cidade relatar e denunciar é o caminho. É difícil ter acesso à toda realidade das calhas. Por isso, trazer os representantes de calhas diversas para contextualizar, compreender e documentar é importante. A Constituição Federal é fruto do sangue dos povos indígenas. Enquanto sociedade, não podemos ficar apenas no discurso. Precisamos também falar e denunciar”, defendeu Vanda Witoto.

Reunião preparatória da 5a. Marcha dos Povos Indígenas do Amazonas
(Foto: divulgação)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])