Impactos na Amazônia exigem decisões imediatas

RENAN ALBUQUERQUE A modificação na estimativa das áreas alagadas a montante e do volume de vertedouro a jusante, após o fechamento de barragens na Amazônia, tem sido um dos problemas mais caóticos a modificar a realidade das populações afetadas por […]

Por Amazônia Real Publicado em: 06/04/2014 às 22:30

RENAN ALBUQUERQUE

A modificação na estimativa das áreas alagadas a montante e do volume de vertedouro a jusante, após o fechamento de barragens na Amazônia, tem sido um dos problemas mais caóticos a modificar a realidade das populações afetadas por construções de usinas hidrelétricas. Elas têm de sair de suas terras para dar lugar a essas grandes obras e as incertezas sobre as áreas afetadas e quanto ao abandono financeiro estão gerando constrangimentos pelos quais amiúde passam e ainda irão passar atingidos por barragens em todo o bioma.

A mobilidade inesperada e obrigatória tem feito com que os atingidos vivenciem processos de deterioração da própria imagem enquanto seres humanos, uma vez que, da parte dos planejadores e financiadores das usinas, não tem havido um mínimo de dúvida acerca dos “resultados satisfatórios” dos alagamentos pós-construção. A certa obscuridade informacional em meio a qual a construção de hidrelétricas tem se dado no bioma faz com que quase nada se saiba sobre a vida depois da barragem.

Ao longo dos anos, rodovias, ferrovias, minerações, pastagens, retirada florestal e pesca em larga escala assolaram amazônidas de diversas origens étnicas. Hoje, o governo Dilma volta a planejar grande parte de suas ações de ocupação dentro do bioma baseado não na figura de rurais, ribeirinhos e índios, mas sim a partir de necessidades contingenciais de megaempresários do Brasil, orientados a partir de uma sociedade de consumo que toma os recursos naturais como inesgotáveis e as populações do bioma como incapazes, sociedades selvagens sem utilidade e sem história.

Os grandes projetos de desenvolvimento que diferentes modelos de governo no Brasil realizaram na Amazônia ao longo dos tempos tiveram pouca proximidade com as necessidades das populações do bioma. Isso gerou, na maioria dos casos, embates entre o poder público e todo um contingente de pessoas que consegue seu sustento na região. As disparidades e a falta de diálogo do Estado com populações afetadas pelo desenvolvimento industrial, funcionaram como catalisadores para insatisfações de comunitários e indígenas em relação a ações governamentais.

Atualmente, não apenas hidrelétricas povoam os pesadelos das populações da região. Há toda uma gama de ideais falhos que modificam histórias de vida por causa de contratos empresariais de retirada mineral; que geram falência e separação a famílias após a implantação do comércio madeireiro, de soja e de gado; que fazem declinar culturas após a abertura de estradas e a queima florestal; que, enfim, desterritorializam e geram toda uma conjuntura de infortúnios em função do progresso de poucos.

Imagino que seria interessante ao governo federal pensar a Amazônia como uma complexidade multidiversa, socialmente, culturalmente e linguisticamente. E não apenas tal e qual um emaranhado de objetividade rasas, iguais e enfileiradas – como quer o Ministério de Minas e Energia. Só que o tempo para fazer isso urge, como mostrou a segunda parte do 5º relatório do Painel Internacional para Mudanças Climáticas (IPCC), recém-divulgada. As decisões têm de ser para agora e não para tempos futuros.

Reportagem Noticiosa

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