Índios Tenharim sob ameaça em Humaitá – Segunda Parte

Por Amazônia Real Publicado em: 07/07/2014 às 10:40

RENAN ALBUQUERQUE

É comum a governos sustentarem que um país, Estado ou município está se desenvolvendo se sua economia cresce ou se aumentam as vendas no comércio e mais pessoas podem gastar dinheiro durante o ano consumindo produtos muitas vezes sem utilidade. O Produto Interno Bruto (PIB), a inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outras inúmeras siglas de mensuração econômica tem representado mais do que qualquer avaliação de campo que observe a indiscutível miséria em cidades, ruas, avenidas, becos, vielas, lugarejos etc.

Essa postura de desenvolvimento clássico, pautada no capitalismo industrial, acumulador, pouco expressa a condição social de inúmeros grupos amazônicos que hoje, fora do eixo do sistema de mercado, são exemplos reais da vilania humana sobre a própria pessoa. É impossível, hoje, pensar apenas em termos de desenvolvimento infraestrutural, direcionado em função daquilo que possui utilidade pragmática para o comércio e à indústria, significando que afetos e emoções de multiformes tipos são aspectos perdidos e secundários.

É necessário, ao contrário, considerar estruturas multidimensionais para entender a diversidade de valores da população indígena atingida por regimes de inversão de habitus, tal como ocorre em Humaitá, município ao sul da capital Manaus, localizado na região do Arco do Desmatamento amazônico. Os ressaltados valores comerciais descritos não deveriam ser relacionados a objetos específicos, pois perpassam situações e condições dadas, servindo de entrave a comportamentos e costumes dos tradicionais, os quais atualmente são violentados de diversas maneiras. Mas não se dá assim.

Uma propensão negativa tem sido, efetivamente, o direito à cidade. Ao negar aos índios Tenharim esse direito, a sociedade branca, empresarial e burocrática humaitaense alterou para pior o dispositivo social dos seus espaços de convivência. Pessoas, animais e plantas passaram a disputar território e não a dividi-lo. Onde antes não existia forte dualidade que separava a sociedade da natureza, foram estabelecidas concorrências desleais e inúmeras mudanças nas representações de mundo. A paz doméstica foi enfraquecida por uma mal planejada intervenção humana, originada da necessidade de se gerar commodities para a indústria e não vida às pessoas.

Com isso, os Tenharim praticamente deixaram de existir na cidade e para a cidade. Representam hoje o outro inútil e sem vida, que vaga pelos cantos da sede de Humaitá. Representam o outro indesejável de Camus; o outro problemático de Sartre; o outro obscuro de Dostoiévski; o outro angustiante de Heidegger; o outro que não se mostra de Kafka. Para os brancos e urbanos que vivem na sede humaitaense, dos inúmeros outros representados pelos Tenharim o pior deles é o outro contra o qual se deve violentar e achincalhar. O outro que figura na mesma proporção da “Geni”, de Chico Buarque, feito para apanhar e bom de cuspir.

É preciso que as reivindicações dos Tenharim sejam urgentemente atendidas. Faz-se necessário que o Estado e a municipalidade de Humaitá i) reconheçam a legitimidade da ocupação dos milhares de hectares dos índios; ii) liberem a indenização das benfeitorias e roças dos índios existentes na área de influência da Terra Indígena e que foram destruídas; iii) busquem alternativas para a produção de alimentos, sem quebrar a harmonia natural do processo produtivo já existente; iv) reconstruam os postos de apoio da Funai para assistência em saúde; v)introduzam cultivares que se adaptem a condições climáticas adversas e sejam incorporados pela comunidade no seu processo produtivo; e vii) promovam cursos de capacitação e formação de professores indígenas, visando ao aperfeiçoamento das ações educativas e a valorização da medicina tradicional.

Sem esses tópicos assegurados, é difícil crer que o equilíbrio populacional retorne com alguma brevidade a Humaitá. E sem equilíbrios – tensão mediada a partir da cooperação e competição – inexiste sociedade.

Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios waimiri-atroari, sateré-mawé, hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária

Reportagem Noticiosa

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1 Comentário

121 CP disse:

07/07/2014 às 16:11

Blá Blá Blá! Há muito tempo sabe-se que os índios não são pessoas menos favorecidas, são pessoas espertas, que de quase tudo se safam. Há legislação especial que os protege. Sabendo disso, índios querem dinheiro e mais dinheiro e mais dinheiro e ainda mais dinheiro. Ou será que já se esqueceram de todos os conflitos envolvendo pedágios irregulares montados por índios? As inúmeras exigências solicitadas por eles, muitas vezes milhonárias, para aceitar algum acordo? Cito o trecho da reportagem:

“O jornal Valor Econômico teve acesso aos pedidos apresentados à empresa e apresentou uma extensa lista. Caminhonetes Amarok, Hilux, L 200, F 4.000, caminhões, carros de passeio, ônibus, motos, barcos, contas gordas no banco e pelo menos 1,3 mil cabeças de gado – sendo 500 da raça Nelore – são alguns dos pedidos.”

Estes não são pedidos de quem não entende, que está à margem da sociedade, de quem é explorado, de quem é subdesenvolvido, de quem é coitadinho…

A verdade é que estes índios são muito espertos e sabem que nada vai acontecer com eles, tanto que ceifaram a vida de três pessoas enquanto transitavam, sim, apenas transitavam, em um carro por mera vingança. Esconderam os corpos e foram dormir. Sabe-se que a morte dos 3 foi de forma violenta, sem chance de defesa.

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