Inovação para que?

MARCELO SERÁFICO A bandeira da inovação é hoje hasteada por todos os quadrantes do globo. Empresas, governos e universidades se empenham – às vezes de modo conjunto – na adoção de iniciativas de estímulo a ela. Com frequência, a ideia […]

Por Amazônia Real Publicado em: 11/11/2013 às 00:00

MARCELO SERÁFICO

A bandeira da inovação é hoje hasteada por todos os quadrantes do globo. Empresas, governos e universidades se empenham – às vezes de modo conjunto – na adoção de iniciativas de estímulo a ela. Com frequência, a ideia de inovar está associada à geração e circulação de bens inusitados, de maneiras também inusitadas de produzi-los e distribuí-los no mercado. Com menor regularidade, ela é vinculada à superação de desafios coletivos, à resolução de problemas que afetam grupos humanos mais ou menos amplos. Em qualquer dos casos, inovar significa imprimir à realidade novas marcas, significa inserir ingredientes que modifiquem a dinâmica das coisas como são.

Daí caberem pelo menos duas indagações, uma de cunho analítico e outra de inspiração ético-política: como é a realidade da qual a inovação é parte e a qual se destina a modificar? E em que sentido deve se dar essa mudança?

Do ponto de vista analítico, é preciso compreender e explicar quais os potenciais e constrangimentos ao cumprimento dos ideais que alimentaram – e talvez ainda alimentem – a constituição do mundo moderno, particularmente, o mundo ocidental. Falo aqui dos ideais presentes na maior parte das constituições dos países Ocidentais, aqueles nos quais se processou a revolução burguesa e se generalizou a forma capitalista de produzir e organizar a vida. É inegável que igualdade, liberdade e fraternidade são objetivos, senão efetivamente buscados, traçados como parte das aspirações civilizacionais mais belas e legítimas forjadas no Ocidente. Portanto, precisamos inquirir-nos em que medida estamos, nós, cidadãos vivendo no século XXI, mais próximos ou distantes da realização desses ideais.

A resposta a essa indagação pode servir de guia para a reflexão acerca da segunda pergunta.

Se olharmos para a realidade sob o prisma exclusivo da economia, veremos que ela é marcada pela agressiva concorrência entre empresas com o fim de conquistar mercados, o que as leva à busca incessante pela redução dos custos de produção e pelo lançamento de novos produtos. Daí a necessidade de introdução de processos de trabalho e de mercadorias mais eficientes. Daí o investimento em inovação.
Quanto a isso, são inegáveis as novidades características do mundo da produção e do consumo. Todavia, ainda parecem nebulosas as contribuições dessas inovações para a melhoria das condições de vida da maioria das pessoas, quando não, elas parecem profundamente desconectadas da resposta a problemas que afetam milhões de indivíduos que padecem de problemas legados por outros séculos, dentre os quais o da persistência das desigualdades sociais.

Reportagem Noticiosa

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