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Meus avôs Warina Uru-Eu-Wau-Wau e Aruká Juma

Por Bitate Uru-Eu-Wau-Wau Publicado em: 07/01/2021 às 19:30

Meus avôs Warina Uru-Eu-Wau-Wau e Aruká Juma

Na imagem acima está Warina Uru-Eu-Wau-Wau (Foto de Bitate Uru-Eu-Wau-Wau)

Tenho dois avôs com mais de 90 anos de idade, cada um: Aruká Juma e Warina Uru-Eu-Wau-Wau. São dois povos que falam a língua Tupi-Guarani e são denominados Kagwahiva.

Meu avô Warina mora na aldeia Jamari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Ele é minha inspiração para ser quem eu sou atualmente.

Quando eu era criança, ele me contava suas aventuras de quando era mais jovem, como viviam antigamente, sem ameaças e que gostava muito de viver assim.

Com o passar dos tempos, ele disse que foi tudo mudando, principalmente, as suas aldeias, por conta dos desmatamentos que veio com tudo e a todo vapor, destruindo seus territórios e suas famílias.

Ele conta também que nos confrontos entre Uru-Eu-Wau-Wau e os tapy’ynha (significa não indígenas), perdeu vários familiares próximos, entre eles, sua irmã, que foi capturada por um seringueiro na época.

Junto com seu irmão Tari (Kanindé) procuraram incansavelmente em todo território para ver se encontravam a irmã, porém não obtiveram sucesso.

Warina me conta que estamos vivendo a mesma situação que eles viviam antigamente, mas agora temos algumas facilidades de poder tentar proteger a terra indígena.

Ele afirma que antigamente não tinha tanta tecnologia que temos, e disse que tudo era mais difícil.

E me disse que sempre temos que estar preparados para tudo, mesmo que não aconteça nada.

Fiz quarentena

O guerreiro Aruká Juma, na Terra Indígena Juma (Foto: Gabriel Uchida/Amazônia Real)

O meu avô Aruká mora na Terra Indígena Juma, distante do território do avô Warina, a mais de 800 quilômetros do Alto Jamari.

Meu último encontro com o avô Aruká foi em 2 de outubro de 2020.

Tinha aproximadamente um ano que eu não ia até a aldeia Juma.

Saí da aldeia do Alto Jamari e fui para Porto Velho, capital de Rondônia, onde fiquei de quarentena por 15 dias para não levar a Covid-19 para terra indígena.

Cumpri a quarentena na casa da Neidinha – Ivaneide Cardozo, fundadora da Associação Kanindé.

Da capital até a aldeia Juma são aproximadamente 320 quilômetros partindo de Porto Velho de carro até a ponte do Assuã, e mais 1 hora de viagem de voadeira. O território fica no município de Canutama, no sul do Amazonas.

Ao chegar na aldeia Juma vi que a cultura vem sendo restaurada aos poucos.

Meu avô Aruka Juma ensina o meu irmão Kajubi a fazer um cinturão de cipó.

O povo sofreu um massacre antigamente. Hoje está se reerguendo estruturalmente e fisicamente também como vários outros povos.

Há um aumento de crianças e jovens na TI Juma.

Hoje, o povo Juma criou uma associação para se fortalecer dentro do território.

No tempo que fiquei com o meu avô Aruká aprendi várias coisas que eu não sabia sobre a cultura do povo Juma.

A cultura que eu falo é sobre os casamentos, que minha tia vem falando.

A juventude vem se fortalecendo para o crescimento de sua estatura, no ensino da cultura.

Meu primo Awip vem se engajando em registrar em fotos e vídeos todos os momentos mais importantes para o ensinamento e aprendizagem da cultura Juma.

O Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center

Bitate Uru-Eu-Wau-Wau

Bitate Uru Eu Wau Wau, 20 anos, é filho de Mandeí Juma e Kuari Uru-Eu-Wau- Wau. Reside na Aldeia Jamari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. É coordenador da Associação Jupaú e participou da segunda Oficina Jovens Cidadãos, em 2019. Desde 2020 é comunicador do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia.