Juarez Silva Jr.

O homem é o lobo do homem; ou existem negros racistas?

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 03/02/2021 às 17:16

Depois de um período ausente devido à internação hospitalar, quase morri…, e recuperação em casa, retorno à coluna. Seria natural estar escrevendo sobre covid-19 e a situação atual da saúde pública no Amazonas. Porém, isso estou para fazer em um texto independente, tratando do assunto sob uma perspectiva de experiência pessoal, em um livreto para distribuição livre, já que muita gente passou e está passando ou passará experiências semelhantes.

Portanto, vamos falar hoje sobre um assunto que está movimentando as redes sociais e a imprensa. Trata-se da questão levantada com a atuação dos participantes negros do programa BBB-2021. Pessoalmente não assisto ao programa, porém impossível escapar dos comentários relativos a ele.

Temos na casa 9 participantes negros – um recorde -, que muitos chegaram a comemorar. No entanto, a diferença de visões e atitudes estão tendo efeito inesperado, ao menos para os telespectadores.

A presença de “ativistas”, uns mal preparados ou equivocados em suas abordagens, está sendo alvo da crítica, quer por sua agressividade, quer por ignorância ou silenciamento sobre os fatos.

Primeiro, é preciso dizer que negros são humanos, não super-humanos. Como tal carregam visões e comportamentos forjados por suas experiências e temperamento. Logo, não é estranho esperar uma diversidade e divergência entre o grupo, assim como ocorre na sociedade . A ideia de quê ” negro é tudo igual” já é por si só racista.

Outro ponto é o reforço que se faz da ideia equivocada que é “racismo reverso”. Isso não existe; simplesmente porque o racismo é proveniente de uma ideologia de superioridade, que inclui não apenas a imposição da cultura do grupo dominante, mas uma estrutura de embarreiramento sócio-econômico-estético-cultural que cria uma hierarquização, a qual beneficia os grupos hegemônicos de forma histórica e cultural.

As manifestações de insurgência equivocadas ou reprodução contraditória dos valores e métodos de opressão não são racismo, mas resultado da violência psicológica que gera vítimas patéticas.

Frantz Fanon (1925-1961), psiquiatra e filósofo francês, já identificava essa necessidade de “máscaras brancas” para ter mobilidade no mundo por eles dominado.

Definições de racismo, não contemplam esses casos “patológicos”, isolados, de vítimas patéticas:

“O racismo, como construção ideológica incorporada em e realizada através de um conjunto de práticas materiais de discriminação racial, é o determinante primário da posição dos não-brancos nas relações de produção e distribuição” (HASENBALG, Carlos. “Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil”. Rio de Janeiro, Graal, 1979, p. 114)

“(a) discriminação e preconceito raciais não são mantidos intactos após a abolição mas, pelo contrário, adquirem novos significados e funções dentro das novas estruturas e (b) as práticas racistas do grupo dominante branco que perpetuam a subordinação dos negros não são meros arcaísmos do passado, mas estão funcionalmente relacionadas aos benefícios materiais e simbólicos que o grupo branco obtém da desqualificação competitiva dos não brancos.” (HASENBALG, Carlos. “Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil”. Rio de Janeiro, Graal, 1979., p. 85)

Não tem “mão dupla”, daí ser a ideia de “reverso” estapafúrdia. Ou seja, negros equivocados não são racistas, são vítimas patéticas de uma estrutura racista. Linha auxiliar dos grupos que obtém vantagem histórica com a desqualificação de negros. Cuidado portanto com as armadilhas das falsas simetrias… elas são úteis e fomentadas pelos verdadeiros racistas, “dividir para conquistar” é uma das práticas.

Ilustração das mãos da OpenClipart-Vectors/Pixabay

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.

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1 Comentário

Isabel disse:

08/02/2021 às 16:29

Juarez, os seres humanos são todos iguais, eles são bons quando são bons, e são #%@*-/+ quando são #%@*-/+. A aparência física, preferencia sexual, escolaridade, profissão, religião e outras diferenças que possam haver entre nós, nada disso faz diferença em qualquer parte do mundo quando há em jogo dinheiro/sexo/poder, todos se revelam, as máscaras caem e as entranhas aparecem. Somos todos iguais.

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