Revolução do Lixo

FÁTIMA GUEDES O grande número de placas espalhadas em vários pontos da cidade – “Proibido jogar lixo neste local – é a real constatação do descaso da atual administração com a Saúde Pública de Parintins. Em cada esquina, em cada […]

Por Amazônia Real Publicado em: 22/07/2015 às 20:43

Manifestantes em ação na “lixeira” a céu aberto em Parintins. (Foto: Floriano Lins)

FÁTIMA GUEDES

O grande número de placas espalhadas em vários pontos da cidade – “Proibido jogar lixo neste local – é a real constatação do descaso da atual administração com a Saúde Pública de Parintins. Em cada esquina, em cada mesa de bar, em cada encontro de amigos os diálogos se repetem recheados de indignação e desprezo às representatividades políticas locais.

A mais informal das leituras sociais deste Município apontam a incompetência e os constantes desvios de finalidade na aplicação dos recursos públicos como o carro chefe do caos desta Terra. Ademais, não há perspectiva alguma de reconstrução, tão cedo, da salubridade social e vida digna. Não se vê de nenhum Poder Constituído ou entidade representativa – Conselhos, por exemplo – interesse em frear os desmandos e colocar ordem na casa.

O problema do lixo é mais sério que se pensa. A ausência de políticas públicas consistentes somada a irresponsabilidade de gestores públicos são decisivas sobre tal descontrole: há mais de 20 anos, a “Ilha do Folclore” ou “Cidade da Cultura” – conforme a tendência romântica de cada ilhéu – vive a reboque dos entulhos. Movimentos organizados e clamores individuais perderam a conta de investidas contra esta afronta à saúde pública; por sua vez, Ministério Público, frente às inconsistência do Estado, vez por outra, sentencia gestores e prefeitos que dão calado por resposta. Nada os atinge. E por isso fica.

Na sequência dos silenciamentos e da falta de compromisso social, mais uma vez, insistimos nessa repetitiva temática: até quando Instâncias com Poder de intervenção silenciarão as Garantias Fundamentais de nossa Carta Magna? Que mecanismos legais serão efetivados para o cumprimento da Lei 13.305, dos Resíduos Sólidos, em total descaso? E ainda, até quando profissionais e técnicos renomados do Município de Parintins negociarão seus nomes e funções com forasteiros desqualificados para o exercício pleno da Administração Pública?

Enquanto espera pacatamente por respostas coerentes, a criatividade dos ilhéus inventa suas plaquinhas sob a ingênua tentativa de resolver um problema de ordem Administrativa e ao mesmo tempo proteger seus terrenos da lixarada sem controle. Até que não venham soluções responsáveis, a pergunta continua: onde o parintinense depositará os resíduos sólidos produzidos a cada dia?

(Foto: Floriano Lins)

Por conta da longa espera, a revolta – sentimento natural quando a desilusão se materializa – contagiara o pacato parintinense forjando-o como saída última transgredir a transgressão institucional; afinal, paciência histórica têm limites e o destino da casa mal estruturada é desabar. Assim, no sábado, dia 18, o ilhéu inaugurara o mais novo lixão da Ilha – a porta da casa do Prefeito, Alexandre da Carbrás.

Ainda que o emergente ato transgressor caracterizado pelo Quadro Administrativo de Parintins em acinte ao Executivo Municipal, a ação viera em resposta à indiferença aos incessantes clamores sociais por qualidade de vida digna. Na verdade, admita-se ou não: o saco do lixo e da podridão da Ilha encheu; o parintinense não conseguiu mais suportar com passividade ou pacatez. A indignação inibira convenções, medos e hipocrisias; logo, foi impossível frear os ânimos. A falta de perspectivas e as constantes violações aos seus direitos fundamentais, foram o estopim.

Em derradeiro, Oscar Niemayer teoriza o fato: Quando a esperança morre no coração de um povo, só há um caminho – a Revolução.

Fátima Guedes é educadora popular e pesquisadora de conhecimentos tradicionais da Amazônia. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), tem especialização em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema (SP). É também fundadora da Associação de Mulheres de Parintins, da Articulação Parintins Cidadã e Militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

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