Sustentabilidade existe?

CARLOS DURIGAN Nas últimas décadas vimos ganhar espaço a cada dia o conceito de sustentabilidade associado aos modelos de desenvolvimento socioeconômico. Inicialmente forte principalmente nas esferas de discussão de questões ambientais associadas aos crescentes impactos humanos de grande escala, hoje […]

Por Amazônia Real Publicado em: 20/10/2013 às 20:00

CARLOS DURIGAN

Nas últimas décadas vimos ganhar espaço a cada dia o conceito de sustentabilidade associado aos modelos de desenvolvimento socioeconômico. Inicialmente forte principalmente nas esferas de discussão de questões ambientais associadas aos crescentes impactos humanos de grande escala, hoje podemos dizer que se constitui como uma premissa transversal a todos os setores da sociedade quando nos referimos às políticas públicas socioeconômicas e ambientais e na tentativa de se desenvolver um modelo evolutivo mais racional para a sociedade humana.

A Rio-92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, possibilitou um avanço importante no debate internacional sobre Desenvolvimento Sustentável e a partir daí foram construídos compromissos globais entre a maioria dos países para a resolução de problemas inerentes ao rápido desenvolvimento econômico experimentado ao longo do século 20, que por um lado gerou avanços tecnológicos e socioeconômicos, mas com graves consequências para a biodiversidade do planeta e consequentemente afetando negativamente a vida da maior parte da população do planeta.

Apesar de alguns avanços, transformar o conceito de sustentabilidade em algo prático e que realmente determine mudanças profundas e necessárias no modo de viver e produzir da população global ainda é uma utopia se consideramos as bases deste conceito constituídas pelo famoso tripé: ambiental, social e econômico. Definitivamente, considerando o que encontramos no modelo atual de desenvolvimento urbano-industrial que concentra pelo menos 70% da população da maioria dos países em cidades, fica difícil achar que um dia teremos reais condições de promover de fato a sustentabilidade humana.

A necessidade de investimentos maciços nas áreas sociais, nas melhorias de serviços, na mobilidade, no consumo racional de recursos naturais, na gestão sanitária e dos resíduos humanos, entre outras, demonstra que chegamos a um ponto de saturação quase sem volta e a cada dia mais complexo se consideramos as perspectivas que temos pela frente e o cenário construído onde a natureza e consequentemente o próprio ser humano ainda são desconsiderados quando o que pesa na balança ainda é a geração de bens econômicos e manutenção da riqueza de uma parcela minúscula da sociedade.

A Amazônia, uma entre poucas frentes de expansão deste modelo globalizado, ainda é alvo de uma sanha desenvolvimentista que a vê como provedora de recursos para alavancar o crescimento econômico global. Após experimentar séculos de investidas colonizatórias causadoras de tragédias infindáveis para seus povos e sua natureza, a região amazônica é hoje uma arena central no debate da sustentabilidade, onde modos de vida tradicionais construídos por milênios se deparam com o moderno que se quer impor, determinando rumos de rios, dilapidando sua natureza, sua biodiversidade, suas culturas humanas, destituindo-a de sua majestade.

Todos os conflitos que vivemos atualmente basicamente demonstram que ainda temos muito o que fazer. O discurso promovido nos círculos decisórios políticos é excludente, o desenvolvimento que se busca levar à região é desigual e predatório, modelos alternativos construídos localmente são descartados e voltamos ao ideário de décadas atrás, quando a Amazônia era vista como a fronteira a ser desbravada.

A Amazônia, seus povos, sua natureza, seus conflitos, é o cenário ideal para se construir modelos práticos que de fato tirem do papel a sustentabilidade que queremos ver acontecer em nossas vidas. Temos muito o que aprender e construir neste sentido, mas o principal é que a sociedade regional desperte e de fato se envolva ou seremos apenas cúmplices das mudanças que levarão a região a um colapso socioambiental irreversível.

Nesta coluna, mensalmente, tratarei sobre pontos sensíveis relacionados à agenda socioambiental na Amazônia e espero poder contribuir no debate para construirmos novos caminhos para o desenvolvimento na região.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

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A agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma organização sem fins lucrativos, criada por jornalistas mulheres em 20 de outubro de 2013, em Manaus, no Amazonas, Norte do Brasil. Sua missão é fazer jornalismo ético e investigativo, pautado nas questões da Amazônia e de seu povo. A linha editorial é voltada à defesa da democratização da informação, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos. ([email protected])