Juarez Silva Jr.

Tecnologia: uma poderosa aliada em tempos de pandemia

Este texto, o mais curto possível para a extensão do tema, por mais que pareça “chover no molhado”, não é. Tanto pela observação da realidade de providências mundialmente tomadas, quanto de certas reações e atitudes em sentido oposto. Apesar de […]

Transações digitais online (Foto: PXHere/CC.2.0)

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 02/04/2020 às 15:48

Este texto, o mais curto possível para a extensão do tema, por mais que pareça “chover no molhado”, não é. Tanto pela observação da realidade de providências mundialmente tomadas, quanto de certas reações e atitudes em sentido oposto. Apesar de um monólogo, é um convite para uma “conversa” mais que necessária na sociedade e no momento que vivemos.

Não sei se todos já ouviram sobre o ideograma japonês que representa “crise = oportunidade”, mas é nesse espírito que conduzo a reflexão. Minha formação e atuação profissional passam largamente pela área de Tecnologia da Informação e Educação e novas Tecnologias e, nessa última mais especificamente pela EaD-Educação a Distância (assim mesmo sem acento no a), ao menos há 20 anos. Então é a partir desse lugar de fala que elaboro minha reflexão, perspectivas e me expresso. Óbvio que não precisa nem irá necessariamente “bater” com a percepção de quem tem vivências e perspectivas forjadas em contextos distintos.

As novas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) criaram nas últimas décadas um enorme avanço, possibilidades e facilidades para as mais diversas áreas e empregos; vou me ater brevemente a alguns deles, à comunicação, à EaD, o teletrabalho, a automação bancária, o comércio eletrônico e o entretenimento.

A comunicação e sua democratização são os mais notados deles. São muitos dispositivos e aplicações, mas o meu destaque vai para a telefonia celular conjugada com as ferramentas de internet e a poderosa capacidade de processamento móvel em Smartphones e Tablets. Apesar de não atingir na prática a totalidade da população eles, os Smartphones já fazem parte da vida da esmagadora maioria. São mais de 230 milhões de linhas celulares ativas, a maioria 4G; se ativam média de 46 novos celulares por minuto, os municípios cobertos dão conta de 97% da população brasileira. Esse acesso pode ser ainda mais efetivo se tomadas medidas de políticas públicas que garantam cobertura mais abrangente, acesso à aparelhos, linhas e créditos para usos específicos com plataformas educacionais, serviços públicos, etc. Entre muitas aplicações das novas TICs estão noticiário online, videoconferência em nível pessoal/móvel e redes sociais .
A EaD é uma modalidade SECULAR que ganhou nova abrangência e efetividade com as novas TICs. No mundo todo é empregada na forma integral ou combinada com o ensino presencial. Ocorre em todos os níveis, mas por motivos compreensíveis tem maior e melhor aplicação junto a jovens e adultos. O ICDE – International Council for Open and Distance Education (Conselho internacional para a Educação a Distância e Aberta) existe desde 1938 e trabalha no combate ao preconceito e por um desenvolvimento e aplicação de qualidade em todo mundo. No Brasil, mais de 9 milhões de matrículas em cursos oficiais e livres foram destacadas no último censo da EaD. Pela primeira vez a oferta de vagas em cursos superiores ultrapassaram a dos presenciais e estima-se que em 2023 as matrículas superem os 51% do total. Entre as principais vantagens da modalidade está o menor custo, a flexibilidade de horários, menor necessidade ou a desnecessidade de deslocamentos, a não aglomeração física (no online) e a a possibilidade de cursar mesmo sem oferta na localidade ou próximo do estudante.
Teletrabalho é uma modalidade que permite através das novas TICs, o trabalho remoto, seja a partir de centros específicos, unidades não centralizadas ou própria residência do trabalhador, nesse último caso também chamado Home Office. Além da óbvia facilidade em eliminar a distância e necessidade de presença física no local tradicional de trabalho ou junto aos atendidos, tem implicações em eliminação ou reduções de tempo e custos de deslocamento. Há ainda, em se tratando da questão de gênero, algumas vantagens ou possibilidades. Com a cultural e efetiva dupla ou tripla jornada de trabalho infringida às mulheres dificilmente podendo ser eliminada, se as tem ao menos algo facilitadas, pois o teletrabalho permite uma melhor acomodação de atividades profissionais, de estudo, familiares/ domésticas, inclusive o melhor compartilhamento dessas últimas nos casos em que é o parceiro quem trabalha em regime de home office. Também evita o conhecido assédio em transportes públicos e outros riscos de deslocamento, etc. Daí ser uma modalidade que tem atraído cada vez mais e mais mulheres. Não apenas a iniciativa privada, mas o serviço público tem se valido muito positivamente do teletrabalho.
A automação bancária e a disponibilização de serviços online, colocaram nos computadores e dispositivos móveis, toda uma gama de facilidades que praticamente dispensam, à exceção de saques e depósitos de efetivo, a necessidade de se deslocar a agências e ATMs, enfrentar filas e outras questões desditosas que podem ocorrer no atendimento presencial.
O comércio eletrônico permite vender e comprar sem necessidade de deslocamento a lojas físicas, dá acesso global à itens de consumo e serviços, e se utiliza dos meios de pagamento eletrônicos.
Entretenimento é um outro grande ponto proporcionado pelas atuais TICs. Que vão de rádios e TVs online, passando por revistas, streaming de áudio e vídeo, o “cinema em casa” até literarura e os games.

Uma vez os conceitos e aplicações gerais colocados, vamos para a sua relação com a crise posta pela pandemia da Covid-19, ou qualquer outra que venha a se apresentar.

É sabido que a melhor e mais tradicional estratégia para se proteger e frear epidemias tem, para além das medidas sanitárias e imunizatórias, o isolamento. O da vez é o chamado isolamento social, no qual contaminados assintomáticos ou levemente sintomáticos e a população em geral devem se manter em casa, evitando ao máximo os contatos externos. Isso implica medidas que atingem toda a atividade econômica, comércio, indústria, serviços, vida social, lazer, educação, enfim.

E é aí que a tecnologia faz toda diferença; a comunicação nos permite estar informados, manter o contato com amigos e familiares, reduzindo a sensação de isolamento e o acesso à muitos serviços sem necessidade de deslocamentos e aglomerações físicas. Na Educação, por exemplo, apenas crianças são mais de 776 milhões fora das escolas por conta da pandemia, o que tem forçado o emprego da tecnologia de forma inusual como o EaD no ensino fundamental, conforme se pode ver no exemplo publicado na Folha de SP. Por preconceito, a resistência à modalidade em todos os níveis ainda hoje é grande especialmente quando se fala em ensino fundamental, porém a própria Unesco já reconheceu que o caminho é pela EaD e está recomendando plataformas, aplicativos e técnicas que podem ser aplicadas pelos educadores para resolver essa necessidade incontornável.

O teletrabalho é igualmente uma solução muito aproveitável, inclusive quando considerado que muitos trabalhadores são professores. Então, EaD é teletrabalho para esses; hoje muitos trabalhadores já fazem teletrabalho corriqueiramente. O serviço público também já tem investido em tecnologia que permite essa modalidade. Dou como exemplo a Justiça, que graças aos sistemas de tramitação eletrônica e outras tecnologias segue com restrições mas não parou. Aqui no Amazonas, o Legislativo tem feito sessões por videoconferência, o legislativo idem.

A automação bancária e os aplicativos de internet home banking permitem que se livre grandemente das filas e aglomerados dos bancos e lotéricas, além de contatos com equipamentos de alta manipulação pública como os caixas eletrônicos. Muito em cima da hora, mas hoje não é difícil para quem pode ter um celular, também ter uma conta digital nas FINTECHS, pequenos bancos online, em que se pode abrir rápida e facilmente pelo próprio celular. Há ainda as “carteiras eletrônicas”. Mais simples ainda que as contas digitais, permitem transferir dinheiro entre celulares pelo número da linha, tão simples como mandar um SMS ou “zap”. Ah! e nos aparelhos mais novos com NFC o próprio aparelho funciona como cartão para ser utilizados em maquinetas de débito. Deve se evitar manipular dinheiro vivo, pague ao máximo nas maquininhas. Uma outra dica é cadastrar seus cartões nos aplicativos de transporte e pagar as corridas eletronicamente.

O comércio eletrônico pode ser muito útil no combate ao contágio, se pode comprar de quase tudo à distância, compras de hortifrutigranjeiros, supermercado, roupas, remédios, serviços e, principalmente, comida.

Por fim o entretenimento, em tempos de isolamento, ter a possibilidade de assistir a filmes e séries no conforto do lar é uma vantagem, ler aquele e-book , fazer aquela rodada de Karaokê em família, ou mesmo abusar daqueles jogos online. É claro que nem todo mundo tem acesso a todas essas coisas, mas para quem tem ao menos um Smartphone, coisa não rara de se ver mesmo nas camadas mais pobres da população, muito do indicado é possível. Aliás, bem que poderia entrar nos pacotes de ajuda governamental, ou de filantropia da iniciativa privada, itens para que a tecnologia ajudasse todos a ficar em casa.

Pela teoria da seleção natural, os indivíduos de maior adaptabilidade frente aos percalços da natureza são o que mais sobrevivem e preservam a espécie. Metaforicamente, os que insistem em resistir aos avanços da Ciência e Tecnologia, vão ficando para trás profissionalmente, anacrônicos na vida. Não é garantia, mas e em uma situação como a atual, respeitar a Ciência e o bom senso e usar bem a tecnologia pode fazer toda a diferença entre sobreviver, matar ou morrer.

A imagem deste artigo mostra exemplo de transações digitais online (Foto: PXHere/CC.2.0)

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.

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Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.