Juarez Silva Jr.

Zona Franca de Manaus: obsolescências e o fim dos sacoleiros

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 14/07/2021 às 16:42

Entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 90, o projeto Zona Franca de Manaus floresceu. Era formado pelo binômio comércio de importados e Pólo Industrial de Manaus (PIM). Nessa época vigorava uma série de restrições à importação em todo o território nacional, uma forma de fomentar a indústria nacional, entre elas a nascente indústria de informática que contava com uma lei específica que impedia a importação de produtos de microinformática.

Manaus era então uma exceção, um “oásis das compras”, onde não apenas se poderia ter acesso legal à produtos de alta tecnologia, bem como a quase todo tipo de produtos importados com baixíssimo preço.

Tudo isso fazia com que o comércio fosse pujante e atraísse não apenas turistas, mas também pessoas que tinham na compra em Manaus e revenda de tais produtos no restante do país uma forma de ocupação profissional – os famosos “sacoleiros”, que também se abasteciam na zona franca paraguaia vizinha à Foz do Iguaçu no Paraná.

Manaus levava vantagem em relação ao Paraguai por conta da qualidade dos produtos, bem como das cotas legais do que se poderia internar ao restante do Brasil, uma vez que não se tratava de um processo aduaneiro internacional. Basicamente os limites se davam pelo peso, tratado como bagagem aérea simples. Para contornar isso, simplesmente os sacoleiros compravam a cota ociosa de passageiros viajando com pouca bagagem, abordando-os nas filas de check-in no aeroporto. Mesmo com o preço das passagens aéreas e da compra das cotas extras era um negócio lucrativo.

Esse comércio, no entanto, foi inviabilizado durante o governo de Fernando Collor, no começo dos anos 90, que simplesmente abriu as importações de forma generalizada e vantajosa também para o restante do país, praticamente “matando” o pólo de compras de Manaus, reduzindo-o ao consumo local.

Neste ponto me lembro de quando dava aulas de Introdução à Administração ou TGA-Teoria Geral da Administração, e dizia que um dos motivos da falência e extinção de empresas e ofícios também se dava pelas obsolescências tecnológicas, ou seja, o surgimento de novas tecnologias, que não acompanhadas acabavam por inviabilizar a sobrevivência dos negócios pela simples falta de consumidores.

No caso da indústria, as fabricantes de máquinas de escrever, câmeras fotográficas analógicas e filmes, e alguns produtos de informática como os disquetes são bons exemplos. Muito embora em alguns casos certos tipos de negócio tenham se tornado nichos caros devido a um público resistente a mudanças, ou mesmo retornado com força após algum tempo, por terem qualidades que mesmo uma tecnologia mais recente não conseguiu substituir à contento. Caso dos equipamentos para tocar discos de vinil e a própria produção desses discos, que chegaram a ser tidos como tecnologia superada pelos CD’s, que por sua vez foram depostos pelos pendrives, que por sua vez ao menos para música e vídeo já perderam espaço para os streamings online.

Voltando ao comércio, o fim dos sacoleiros, não apenas os da ZFM no contexto já citado, mas igualmente em outros contextos se deve também à evolução do comércio, para o comércio eletrônico, também conhecido por e-commerce. Hoje, qualquer um pode comprar direto do Smartphone, não apenas no comércio local, como nacional e internacional, principalmente da China; quem nunca ?

Essa realidade aumenta à cada dia, em paralelo com outros avanços e popularização de serviços mediados pela tecnologia, como a bancarização digital, e a própria oferta de serviços de venda e logística rápida de entrega, caso das grandes redes de lojas e vendas online nacionais que entraram em uma “guerra feroz” pelo consumidor, oferecendo em alguns casos entrega em domicílio em uma hora.

A imagem que ilustra este artigo mostra uma série de produtos produzidos na Zona Franca de Manaus, então expostos no palco do Teatro a Amazonas em 1983 (Foto: Reprodução Revista Manchete/@Manausdeantigamente)

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Sobre a matéria

Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.