Meio Ambiente

Após protestos, Ipaam retira telas de palmeiras que impediam pouso de periquitos

As telas que cobriam 20 palmeiras imperiais no entorno do condomínio Ephigênio Salles, na zona Centro-Sul de Manaus, e impediam o pouso e revoada dos periquitos-de-asa-branca, foram retiradas na tarde desta terça-feira (02) por determinação do Ipaam (Instituto de Proteção […]

Suspeita de veneno: bombeiro toca tela com uma vara (Foto: Ipaam)

Por Elaíze Farias Publicado em: 02/12/2014 às 18:04

As telas que cobriam 20 palmeiras imperiais no entorno do condomínio Ephigênio Salles, na zona Centro-Sul de Manaus, e impediam o pouso e revoada dos periquitos-de-asa-branca, foram retiradas na tarde desta terça-feira (02) por determinação do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas). A decisão foi comemorada por ativistas da causa animal e ambiental de Manaus nas redes sociais.

Como a agência Amazônia Real publicou, uma grande comoção tomou conta da cidade quando 200 periquitos-da-asa-branca foram encontrados mortos no entorno do condomínio na manhã de quinta-feira (27).

Bombeiro retira tela de palmeira imperial do condomínio (Foto: Ipaam)

A remoção das telas deveria ter sido realizada pelo próprio condomínio, mas acabou sendo feita pelo Corpo de Bombeiros, que colocou escada mecânica para alcançar as copas das árvores com mais de 30 metros de altura.

O presidente do Ipaam, Ademir Stroski, disse à agência Amazônia Real que a retirada das telas foi uma opção para dar “proteção às aves”. Ele afirmou que uma avaliação técnica concluiu que os periquitos-de-asa-branca precisam de segurança para pernoitar.

“Já tínhamos essa posição contrária às telas, desde quando elas foram instaladas, mas naquela época era o Ibama que tinha a competência da fauna. E a Semmas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade) também respaldou a decisão de colocar a tela. Não questionamos na época para não criar conflitos de competência e a gente recuou”, disse Stroski.

“A gente levou em conta que é preciso assegurar abrigo e alimento para a fauna. As telas criavam dificuldades para as aves se abrigarem. E de acordo com a lei, isso não pode acontecer”, afirmou.

Indagado pela reportagem do motivo da demora do Ipaam tomar uma decisão a respeito, ele admitiu que a mobilização dos ativistas e da sociedade “acelerou a medida”.

Bombeiro e funcionário do Ipaam retiram telas das palmeiras imperiais (Foto: Lyssia Machado)

Stroski também afirmou que outras medidas serão tomadas a partir de agora para darem “melhores condições às aves”. “Vamos conversar não apenas com o Ephigênio Salles, mas com outros condomínios da área. Encontrar uma solução para o que está interferindo na vida das aves. Se é a vegetação, a questão do trânsito, os atropelamentos”, disse.

Quanto a suspeita de envenenamento que poderia ter causado a morte dos 200 periquitos na semana passada, ele disse que somente a necropsia e o teste toxicológico vão confirmar ou não.

Segundo especialistas entrevistados pela reportagem da Amazônia Real, a área onde está localizado o condomínio é livre de predadores naturais dos periquitos-de-asa-branca, como cobras, mucuras e corujas.

A bióloga e ativista da causa animal Erika Schloemp disse que com a retirada das telas, “a cidade de Manaus suspirou um grande alívio a liberação das palmeiras das tão odiadas redes verdes”.

“Agora seguimos no aguardo da apuração do suposto envenenamento das aves e medidas de manejo e proteção para estas aves migratórias que com certeza continuarão chegando neste e nos próximos anos no mesmo local. Que os culpados sejam punidos e que alternativas mais dignas e humanas sejam apresentadas para a proteção destes tão admirados e queridos periquitos de nossa cidade. O ano novo se aproxima e esperamos que o respeito do Condomínio seja demonstrado pelo não uso de fogos de artifício no local como aconteceu no início do ano de 2013 quando muitos periquitos também vieram a óbito”, disse a bióloga.

Procurado pela reportagem, o superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis, disse que a posição do órgão permanece. Segundo ele, as telas não prejudicam o pouso dos periquitos.

“As telas não espantam os periquitos. Era uma forma de proteger as palmeiras para os próprios periquitos. Foi uma tentativa de salvar as palmeiras, pois se elas morrem, as aves vão ficar sem as árvores. Não havia prejuízo para as palmeiras nem para os pássaros”, disse.

Ele disse, contudo, que o Ibama não vai polemizar com a decisão do Ipaam. Mário Lúcio afirmou ainda que o Ibama vai divulgar uma nota técnica sobre o assunto em breve no site do órgão.

A reportagem voltou a ligar para o condomínio Ephigênio Salles, mas a informação que recebeu é que o síndico “estava em reunião”.

Desde que uma nova legislação ambiental alterou a gestão da fauna silvestre, esta responsabilidade passou a ser do Estado. Saiba mais sobre o assunto aqui e neste outro link.

Atividades cobraram respostas

Periquito morto, sem marca de atropelamento, foi recolhido por ativista (Foto: Elizandra Alves/UPA)

Mais de 200 periquitos-de-asa-branca foram encontrados mortos na manhã de quinta-feira (27) no entorno do condomínio de luxo Ephigênio Salles, onde residem magistrados, políticos e empresários, localizado em área nobre da zona centro-sul da cidade.

Uma grande comoção tomou conta de Manaus, inclusive nas redes sociais, pedindo investigação para o caso. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) abriu investigação para apurar suspeitas de envenenamento, intoxicação e ingestão de substância química como causas da mortandade das aves. Uma investigação policial vai apurar o responsável pelo crime ambiental.

Ademir Stroski disse que a Polícia Federal também pediu informações sobre o caso.

No sábado (29) ativistas das questões animal e ambiental, professores, servidores públicos e famílias que moram em casas e nos edifícios do entorno do condomínio Ephigênio Salles fizeram um protesto no local.

Na ocasião, os manifestantes encontraram ao menos dez periquitos mortos na rua, sem marcas de atropelamento, e outros esmagados por veículos. Também avistaram aves presas nas telas que cobrem as palmeiras imperiais. Os ativistas chamaram o Corpo de Bombeiros, que retirou pássaros vivos das telas e os encaminhou ao Refúgio Sauim Castanheira, da Prefeitura de Manaus.

Na segunda-feira (1º.), o Ipaam determinou a realização de necropsia e do exame toxicológico dos pássaros mortos. Também notificou o síndico do condomínio e coletou amostras das telas das palmeiras imperais para investigar a presença de veneno nelas. O nome do síndico não foi divulgado à imprensa.

Desde o final de 2011, os moradores do Ephigênio Salles combatem a presença de milhares de periquitos-de-asa-branca nas copas das palmeiras imperiais plantadas do condomínio. Com apoio das autoridades ambientais locais, o condomínio colocou telas de proteção nas copas das árvores para afugentar os pássaros.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).