Meio Ambiente

Enchente do rio Negro tem influência das águas do Madeira

A enchente do rio Negro neste ano está sendo influenciada pelas águas do rio Madeira e pode ficar entre as cinco maiores cheias em 112 anos. Segundo o especialista em hidrologia dos rios da Amazônia, Marco Antônio Oliveira, o volume […]

Igarapé do São Jorge ameaça transbordar na zona oeste de Manaus (FotoAmazonas: Alberto Cesar Araújo)

Por Kátia Brasil Publicado em: 29/05/2014 às 22:32

A enchente do rio Negro neste ano está sendo influenciada pelas águas do rio Madeira e pode ficar entre as cinco maiores cheias em 112 anos. Segundo o especialista em hidrologia dos rios da Amazônia, Marco Antônio Oliveira, o volume de água que o rio Madeira lança diariamente no rio Amazonas provoca a subida acentuada das águas do rio Negro, que banha a cidade de Manaus, uma das sedes da Copa do Mundo.

“Com esse fator extraordinário da cheia do rio Madeira, o rio Amazonas está represando o rio Negro. Isso (o represamento) provoca uma subida mais acentuada das águas do rio Negro. É um efeito pequeno, mas é o que diferencia das cheias anteriores”, afirmou à agência Amazônia Real Marco Oliveira, que é superintendente do CPRM (sigla para Serviço Geológico do Brasil), instituição que faz o monitoramento das cheias e vazantes da bacia amazônica.

Rio mais extenso de água negra do mundo, o Negro nasce na Colômbia e entra no território brasileiro pelo norte do Amazonas. Além de Manaus, ele banha as cidades de São Gabriel da Cacheira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Em Manaus, ocorre a confluência do rio Negro com o rio Solimões, onde este passa a se chamar rio Amazonas.

O rio Madeira é um afluente do rio Amazonas e sua foz fica na região de Itacoatiara (distante a 170 quilômetros de Manaus), cidade que, assim como Manaus, está em situação de emergência por causa das inundações nas áreas ribeirinhas.

Este ano, o rio Madeira registrou a enchente histórica alcançando a marca de 19,47 metros em Porto Velho (RO) no dia 30 de março. Seu nível continua acima da marca considerada normal, que é de 10 metros. Na capital de Rondônia, que decretou calamidade pública, a Defesa Civil Estadual diz que cerca de 170 famílias continuam vivendo em abrigo público.

Segundo Marco Oliveira, a vazão (escoamento) do rio Madeira, que geralmente fica entre 30.000 m3/s (metros cúbicos por segundo) e 40.000 m3/s, este ano também registrou uma marca histórica.

“Registramos uma vazão de 75.000 metros cúbicos por segundo na foz do rio Madeira. Foi um fator excepcional. Essa vazão afetou o baixo Amazonas provocando as inundações em Parintins, Barreirinha e Itacoatiara. Depois influenciou Careiro e Manaus”, afirmou Oliveira.

Nesta quinta-feira (29), o rio Negro alcançou a marca de 29,24 metros, conforme registro realizado no Porto de Manaus, local do monitoramento desde o ano de 1902. A marca ultrapassou o nível de emergência de 28,94 metros e já é a 9ª. maior cheia.

Na enchente histórica o rio Negro registrou 29,97 metros no dia 29 de maio de 2012. A expectativa do especialista Marco Oliveira é que o nível do rio Negro alcance os 29,44 metros, podendo ficar entre as cinco maiores em 112 anos.

O 3º Alerta de Cheias em Manaus será divulgado pelo CPRM nesta sexta-feira (30). O estudo, que é o último a ser divulgado desde o mês de março, quando saiu o primeiro, pode apresentar mais detalhes de como o rio Negro vai se comportar no mês de junho.

Esse estudo possibilita que as autoridades da Defesa Civil realizem ações nas áreas mais baixas da cidade para minimizar os efeitos da enchente sobre a população. Em bairros como São Jorge, na zona oeste, Educandos, na zona sul, e no Centro de Manaus, há áreas alagadas. Não tem registros de pessoas desabrigadas.

Imagem das chuvas no mês de maio em Manaus registrada pela Observação da Terra do INPE

Chuvas estarão dentro do normal na Copa do Mundo

O 1º. Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou o mês de maio como o mais chuvoso na cidade de Manaus.

Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, até o dia 23 de maio o acúmulo de chuvas em Manaus foi de 382 mm (milímetros), ou seja, acima da taxa considerada normal para o período que é entre 192 mm e 268 mm.

“Podemos afirmar que o mês de maio de 2014 na cidade de Manaus foi muito chuvoso. As chuvas nesse mês foram bem acima do normal, pois houve condições atmosféricas favoráveis a formação de nuvens”, afirmou Ribeiro.

Para o mês de junho, quando os jogos da Copa do Mundo irão acontecer na Arena da Amazônia, o meteorologista afirma que a previsão é de chuvas dentro da média normal. “As chuvas devem diminuir para o final do mês, assim como para os meses de junho e julho”, disse à agência Amazônia Real, Gustavo Ribeiro.

Amazonas tem mais de 200 mil pessoas afetadas por inundações

As enchentes dos rios da bacia amazônica se intensificaram desde o mês de janeiro com o volume anormal de chuvas na região. Segundo a Defesa Civil do Estadual, dos 62 municípios do Amazonas, 29 estão em situação de emergência por causa de cheias, entre eles, Manaus (rio Negro), Parintins, Itacoatiara, Barreirinha (ambos pelo rio Amazonas).

Dois municípios estão em estado de calamidade pública: Humaitá (rio Madeira) e Boca do Acre (rio Purus). São 226.096 pessoas afetadas ou 45.003 famílias pelas inundações de casas, lavouras, comércios, fazendas e estradas.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 2025 como uma das 100 jornalistas +Mais Admiradas da Imprensa Brasileira. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])