Meio Ambiente

“Rio Negro tem capacidade para receber efluentes tratados”

Entre os especialistas que assinaram o documento que defende a construção do emissário subfluvial está Carlos Edwar, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Em entrevista ao Amazônia Real, ele diz que na sua opinião, assim como dos demais especialistas, é […]

Publicado em: 22/03/2014 às 19:00

Por Elaíze Farias da Amazônia Real

Vista de Manaus, cidade banhada pelo rio Negro. Foto:Alberto César Araújo

Entre os especialistas que assinaram o documento que defende a construção do emissário subfluvial está Carlos Edwar, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Em entrevista ao Amazônia Real, ele diz que na sua opinião, assim como dos demais especialistas, é que o rio Negro apresenta capacidade para receber efluentes sanitários tratados.

Segundo Carlos Edwar, a implantação de um sistema integrado, incluindo a coleta dos efluentes sanitários, a estação de tratamento de efluentes (ETE) e o emissário (com ponto de lançamento em local adequado) permitiriam o lançamento de efluentes no rio Negro. Leia a entrevista:

Por que o rio Negro tem condições de receber os resíduos?

A partir de um sistema integrado e com sistema de tratamento adequado, a decisão acerca do lançamento dos efluentes no rio Negro passa a depender da escolha de um local com fluxo unidirecional e vazão suficiente, além é claro da relação com outras estruturas existentes na área. Levantamentos hidrológicos podem auxiliar a construção de modelos que permitem o cálculo da capacidade de suporte, do tempo de diluição da pluma, auxiliando o processo de decisão. Em outras palavras, o que foi explicado no encontro é que o rio Negro tem condições de receber efluentes tratados, descontaminados de metais e da carga orgânica doméstica.

Como esta capacidade é possível?

Rios com grande vazão, como o rio Negro, podem receber efluentes sanitários tratados e com locais de lançamento adequado. O tipo (técnica) de tratamento deve ser definido em função de fatores como tipo e volume de efluente e que existem diferentes estruturas para lançamento (incluindo, posição na coluna dágua, ângulo com a corrente). Sobre a “grande capacidade de diluição”, quer dizer que a decisão sobre o uso de um rio para lançamento depende de uma análise da relação entre a quantidade de soluto e a quantidade de solvente.

O rio Negro já recebe resíduos do esgotamento sanitário e até das indústrias do Distrito Industrial. Que medidas devem ser adotadas para que o impacto ambiental não se agrave?

A situação atual é muito ruim. O rio Negro recebe o esgotamento sanitário de Manaus através dos rios que cortam a cidade, principalmente no São Raimundo e Educandos. A instalação de um emissário fluvial não é uma solução em si, ela é parte de um conjunto de medidas que devem ser implantadas.

Quais os estudos realizados que atestam as condições do rio Negro para receber os resíduos sanitários?

Existem vários estudos sobre o rio Negro, incluindo estudos limnológicos e hidrológicos. Não existem dados reais acerca da emissão de efluentes via emissários fluviais, pois o único existente agrega o descarte de menos de 5% do volume da cidade de Manaus. Desenvolvi, junto com outros pesquisadores, estudos que atestam a capacidade de absorção de efluentes tratados pelo rio Negro, em face de sua hidrodinâmica (em particular, relacionados com sua vazão). O que o rio Negro não pode continuar recebendo é o aporte de efluentes não tratados, despejados de forma contínua através dos igarapés que cortam a cidade e que recebem o esgotamento sanitário das residências na forma de “vala negra”.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).