Política

Adail Pinheiro tem regalias na prisão do quartel da PM

O prefeito de Coari (AM), Adail Pinheiro (PRP), está cumprindo desde sábado (08) a prisão preventiva determinada pelo Tribunal de Justiça do Amazonas em uma cela com mais dois soldados, ambos condenados por homicídio, no Batalhão de Cavalaria da Polícia […]

Pessoas presas pelos crimes não serão penalizadas pela nova lei (Foto: Polícia Civil do AM)

Por Kátia Brasil Publicado em: 10/02/2014 às 02:47

O prefeito de Coari (AM), Adail Pinheiro (PRP), está cumprindo desde sábado (08) a prisão preventiva determinada pelo Tribunal de Justiça do Amazonas em uma cela com mais dois soldados, ambos condenados por homicídio, no Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar do Amazona, na zona oeste de Manaus. O prefeito que é acusado de suposto envolvimento em crimes de favorecimento da prostituição infantil, estupro de vulnerável e formação de quadrilha, não come a comida da cadeia, que tem TV e ar condicionado. Do lanche ao jantar, as refeições estão sendo enviadas de lanchonetes e restaurantes, conforme apurou o site Amazônia Real.

A defesa do prefeito nega as regalias na prisão. Segundo o advogado Alberto Simonetti Neto, nesta segunda-feira (10) um habeas corpus será impetrado no Superior Tribunal de Justiça com pedido de liberdade do acusado.

As prisões de Adail Pinheiro e de mais cinco pessoas foram decretadas na sexta-feira (07) pelo desembargador Djalma Martins da Costa. Elas aconteceram duas semanas após o Conselho Nacional de Justiça comprovar morosidade no trâmite de processos que apuram crimes contra o prefeito no Tribunal de Justiça do Amazonas.

Estão presos na unidade Instituto Prisional Antônio Trindade (Ipat) Eduardo Jorge de Oliveira Alves, chefe do gabinete da Prefeitura de Coari, Francisco Erimar Torres de Oliveira, secretário de Administração, Alzenir Maia Cordeiro, secretária de Cultura e acusada de aliciamento de meninas, e os irmãos Anselmo do Nascimento Santos e Elias do Nascimento Santos, assessores do prefeito.

As prisões preventivas foram pedidas pelo procurador-geral de Justiça, Francisco Cruz após formalizada uma nova denúncia contra o prefeito Adail Pinheiro por crimes sexuais contra crianças e adolescentes com idades entre 9 e 12 anos da cidade de Coari (a 370 quilômetros oeste e Manaus). Ele responde a mais quatro processos que tramitam no TJ do Amazona desde 2008, ainda não conclusos. As novas testemunhas, ao menos cinco menores, receberam ameaçadas de morte por parte do prefeito. Duas estão sob proteção da Justiça.

A nova denúncia enviada em caráter de urgência faz parte de uma ação penal aberta pelo Ministério Público Estadual com base em novos depoimentos de menores ao Centro de Apoio e Combate ao Crime Organizado (CAO-Crimo). O promotor Fábio Monteiro esteve na cidade de Coari na semana passada e tomou depoimentos de meninas, que relataram que foram vítimas de abusos sexuais do prefeito Adail Pinheiro. Segundo as investigações, uma delas teve a virgindade prometida ao prefeito pela mãe na festa do Reveillon de Coari em troca de dinheiro.

Prisão sem fotos

A Polícia Civil do Amazonas informou por meio de nota à imprensa, que o prefeito Adail Pinheiro se apresentou no sábado (08) às 13h 15 (15h 15 em Brasília) na sede da Delegacia Geral, em Manaus. De acordo com a polícia, que divulgou fotografias dos outros cinco presos algemados, a defesa do prefeito invocou o Direito Constitucional da Preservação da Imagem, não sendo então possível registrar o momento em que o prefeito foi preso.

Conforme a nota da Polícia Civil, Adail Pinheiro estava sendo procurado pela Justiça desde o início da noite de sexta-feira (07), quando foi expedido mandado de prisão em nome dele. As outras cinco pessoas foram presas em Coari e transportadas de avião para Manaus.

O advogado Alberto Simonetti Neto afirma que não fez pedido para impedir fotografias do prefeito Adail Pinheiro pela Polícia Civil, que distribuiu fotos dos outros presos. “Não existiu esse pedido. Os cinco presos em Coari foram transportados algemados pela polícia. Evidentemente que houve tempo para registrar tudo. O Adail só se apresentou depois que a Justiça garantiu o aquartelamento. Mas, ele não entrou na delegacia escoltado e nem foi protegido, isso é mentira. As emissoras de TV filmaram ele no batalhão”, afirmou.

Segundo o advogado, o prefeito cumpre a prisão especial no Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar por decisão do desembargador Djalma Martins Costa. Ele analisou um recurso da defesa para a integridade física de Adail Pinheiro na cadeia. Em 2009, quando foi preso pela Operação Vorax da Polícia Federal, o prefeito ficou no mesmo quartel. A justificativa foi que o caso de clamor social poderia provocar distúrbios na unidade prisional. “Pedi que o prefeito fosse preso num quartel da Polícia Militar para garantir a segurança dele em razão da repercussão do caso. Ele não está tendo nenhuma privilégio. Ele está preso em cela coletiva, com grade. Não sei se tem TV”, afirmou.

Em 2009, o prefeito ficou preso no mesmo quartel (Foto: Alberto César Araújo)

Alberto Simonetti Neto disse que um habeas corpus para garantir a integridade física do prefeito foi ingressado no Superior Tribunal de Justiça no sábado (08). Ele disse que o pedido, que está sendo analisado pela ministra Laurita Vaz, mas deve ser arquivo em razão da decisão do desembargador Djalma Costa. “Um outro pedido de habeas corpus de liberdade será enviado ao STJ nesta segunda-feira (10)”, afirmou.

Ele afirma que o prefeito Adail Pinheiro nega as acusações de crimes de favorecimento da prostituição infantil, estupro de vulnerável e formação de quadrilha. “Não têm consistência jurídica nem a denúncia e nem o pedido de prisão e nem o decreto de prisão”, afirmou.

Sobre os depoimentos das crianças e adolescente tomados pelo Ministério Público do Amazonas, Simonetti Neto afirma que são montagens da oposição. “São montagens dos opositores políticos. Se eu dou um texto para uma pessoa, a pessoa pode dizer o que eu quiser. E papel aguenta qualquer coisa. Se for noticiado amanhã que o Adail está solto, vai ser mentira, mas está no papel, todo mundo vai acreditar. Papel aguente qualquer coisa”, disse.

Perguntado se o prefeito não esteve em alguma ocasião com as menores que prestaram depoimentos, o advogado afirmou que o prefeito negou as acusações. “Ele refuta todas essas acusações. Você ainda vai noticiar, se Deus quiser, absolvição dele em todos esses processos”, afirmou Alberto Simonetti Neto.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar para falar sobre as regalias do prefeito de Coari no quartel, mas não conseguiu retorno até o fechamento esta edição.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])