Meio Ambiente

Alagações do Madeira permanecerão por 55 dias, diz pesquisador

O pesquisador em geociências Andre Luis Martinelli Real dos Santos é atualmente gerente de Hidrologia e Gestão Territorial, setor responsável pela produção dos alertas contra enchentes do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no Amazonas e Roraima. Formado pela Faculdade Federal […]

Pesquisadores fazem medição do rio Madeira (Foto: CPRM)

Por Kátia Brasil Publicado em: 31/03/2014 às 00:12

O pesquisador em geociências Andre Luis Martinelli Real dos Santos é atualmente gerente de Hidrologia e Gestão Territorial, setor responsável pela produção dos alertas contra enchentes do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no Amazonas e Roraima. Formado pela Faculdade Federal Rural do Rio de Janeiro em engenharia agrícola, ele passou no concurso do CPRM em 2006, mas começou a trabalhar no órgão somente em 2009. O pesquisador esteve na bacia do rio Beni, na Bolívia, que é um dos formadores do rio Madeira, responsável pela enchente sem precedentes na história de Rondônia. Segundo Santos, a população de Porto Velho irá conviver com as alagações nos próximos 55 dias.

Andre Luis dos Santos (sentado) em operação no rio Madeira (Foto: CPRM)

André Luis Martinelli Real dos Santos, 34, conta nessa entrevista ao Amazônia Real como é seu trabalho de monitoramento da enchente do Rio Madeira.

Qual é a dificuldade de trabalhar nos rios da Amazônia?

“Tem que ter aptidão e paixão pelo trabalho. Passamos muito tempo se deslocando dentro de barcos. Vamos para locais em que há muita incidência de malária. Graças a Deus não peguei malária, mas a maioria teve. Outro problema é que os profissionais da área não têm incentivo para permanecerem na Amazônia. O benefício que agregava mais 45% sobre o salário bruto foi cortado em 2006. Como a maioria dos profissionais são de outros Estados, eles pretendem sempre voltar para sua cidade”.

O que é o Sistema de Alerta Contra Enchentes (SACE)?

“É um modelo de monitoramento que depende de informações de estações automáticas instaladas em alguns pontos estratégicos de cada Bacia de interesse. São realizadas medições de vazão a fim de completar uma série de dados capaz de construir uma curva chave e uma equação de cota (nível) de alerta de inundação. Portanto, as estações automáticas, uma vez identificando a cota de alerta, emitiriam um sinal para que a CPRM acionasse a Defesa Civil e outros órgãos competentes. Infelizmente este evento crítico em Porto Velho veio antes de sua implementação, mas no plano de ações Porto Velho está inserido desde a concepção do Projeto”.

Quando vai acabar a enchente do rio Madeira?

“São duas bacias grandes que influenciam a cheia do rio Madeira. Uma é a bacia do Beni, na Bolívia, e de seu afluente Madre de Dios, no Peru. Do outro lado tem o Mamoré, na Bolívia, e Guaporé, no Mato Grosso. O recorde do rio Madeira (acima de 17,54 m em fevereiro) foi alcançado apenas com a cheia do rio Beni. Com a cheia do rio Mamoré em abril, o Madeira continua transbordando (está com 19,66 m). Essas águas vão subir até o final de abril, sempre colocamos isso bem nítido. Quanto ao transbordamento, logicamente em cotas superiores a 17 metros será iniciado o processo de alimentação das planícies de inundação, na situação atual a área atingida é muito grande. A bacia chega em seu limite de escoamento e o restante é transportado para as partes baixas, ocorrendo a alagação. Porém, face ao que está ocorrendo em Porto Velho, posso afirmar que este tempo será bem superior a 35 dias, acredito que estará na ordem dos 55 dias acima da cota 15 metros (o normal é 10 m)”.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou nas TVs Educativa e Cultura e nos jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])