A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

A Amazônia para os amazônidas

No primeiro discurso de comemoração pela vitória na eleição, feito de improviso em um hotel de São Paulo, Lula declarou: “Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero”. Prometeu […]

em julho de 2017 o povo munduruku do médio e alto tapajós junto ao baixo teles pires ( jacareacanha PARÁ) fizetam sua primeira manifestação conjunta, subiram o rio rumo em direção a usina hidrelétrica de SÃO Manoel ( divisa MT - PA), para que seus pajés pudessem acalmar os espiritos dos seus antepassados. a Usina São Manoel foi construida no lugar sagrado para o povo munduruku.

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 10/11/2022 às 20:04

No primeiro discurso de comemoração pela vitória na eleição, feito de improviso em um hotel de São Paulo, Lula declarou: “Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero”. Prometeu “retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia e combater toda e qualquer atividade ilegal”.

Nos 14 anos de governos do PT o desmatamento foi reduzido, em média, 67% e não 80%. Nos primeiros quatro anos de Lula, o desmatamento alcançou 86 mil quilômetros quadrados, com pico de 27 mil em 2004, só abaixo dos 29 mil km² do primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso, no apogeu do Plano Real, em 1995. No primeiro quatriênio de FHC o desmatamento foi bem menor do que sob Lula: 67 mil km². A mudança entre o tucano e o petista ocorreu no segundo mandato: foram 76 mil km2 sob FHC e 48 mil km² com Lula.

Queda significativa aconteceu mesmo no governo de Dilma Rousseff, de 24 mil km² nos seus quatro primeiros anos. No segundo mandato, o desmatamento recomeçou a crescer, atingindo 8 mil km² depois de ter ficado por dois anos em 5 mil.

A média de mais de 20 mil km² no primeiro mandato de Lula, superior ao mesmo período de FHC, indica que, em relação ao avanço na derrubada de floresta amazônica não há diferença concreta e verdadeira entre tucano e petista, discursos à parte. Na comemoração, apesar de prometer desmatamento zero, Lula também declarou que há “enormes áreas agriculturáveis” no país para expandir a produção do agronegócio. Onde? Na fronteira amazônica, é claro.

Lula lançou, em janeiro de 2007, o polêmico PAC (Programa de Aceleração do Crescimento – e não do Desenvolvimento), através do qual iria investir 504 bilhões de reais até o final de 2010, ano da nova eleição, na qual patrocinaria a vitoriosa candidatura de Dilma. A contribuição florestal da Amazônia para essa conta foram 48 mil km² desmatados.
Foi por causa da frontal colisão do 1º PAC (de Lula) com o PAS (Plano Amazônia Sustentável), o primeiro um gigante de dinheiro e meios, o segundo um pigmeu deserdado, que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão, em 2008. Já a suposta diretriz ambientalista a partir de Dilma tem menos a ver com uma fictícia preocupação dela com a natureza, mas com sua incompetência em política econômica, como mãe e “gerentona” do PAC-2.

O PT, portanto, não tem o que buscar de positivo no passado para mudar a diretriz de destruição da floresta amazônica e a consolidação da sua condição colonial, como promotor que foi de três gigantescas hidrelétricas (Belo Monte, no Pará, Juruá e Santo Antônio, em Rondônia) e obras similares do lema “integrar para não entregar” a região dos governos militares.

Deixando de lado a fantasia de prometer o desmatamento zero, o governo Lula terá que reduzir ao mínimo a imigração para a Amazônia, combatendo na origem as causas do deslocamento da população de outras regiões. E substituir a retórica de mero diagnóstico da situação ruim e da negação ou acusação dos seus componentes por um plano de antecipação do surgimento dos problemas e de reconciliação da Amazônia com sua história.
A Amazônia para os amazônidas, com tecnologia, ciência de ponta e prioridade orçamentária e de planejamento para valer, como “nunca antes” de verdade.

A imagem que abre este artigo é de autoria de Juliana Pesqueira (FTP) e mostra mulheres do povo Munduruku do médio e alto Tapajós junto ao baixo Teles Pires, em Jacareacanga, Pará em julho de 2017 na sua primeira manifestação conjunta, subiram o rio rumo em direção a usina hidrelétrica de São Manoel (divisa MT – PA), para que seus pajés pudessem acalmar os espíritos dos seus antepassados. a Usina São Manoel foi construída no lugar sagrado para o povo Munduruku.

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Sobre a matéria

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.

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1 Comentário

Francisco Santos disse:

11/11/2022 às 10:06

Comparar lula e fhc é covardia, a comparação deve ser entre Bolsonaro e lula,
Como sempre LFP odeia o pt até a medula

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