Juarez Silva Jr.

A pandemia e o inimigo interno

Há algum tempo deveria escrever sobre a minha experiência pessoal com Covid-19, mas ainda não vejo ser a hora para isso, uma vez que, ao menos para mim, essa experiência ainda não está completa ao ponto de um relato com […]

Movimento na rua Marechal Deodoro, ponto de coméercio, no centro de Manaus, AM ( Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 17/05/2021 às 20:25

Há algum tempo deveria escrever sobre a minha experiência pessoal com Covid-19, mas ainda não vejo ser a hora para isso, uma vez que, ao menos para mim, essa experiência ainda não está completa ao ponto de um relato com começo meio e fim.

No entanto, é possível fazer uma reflexão sobre o momento de maneira geral.
Observo que mais que uma questão de controle pelas autoridades – o que é extremamente prioritário e necessário -, o grande vilão tem sido a não participação popular ou relapsa na contenção da contaminação.

Quando falo inimigo interno me refiro à condição psicológica de grande parte da população. A falta de maturidade e serenidade para encarar seriamente a necessidade de se manter em distanciamento social.

Entendo que é difícil, já que o ser humano é por natureza um animal social. No entanto, a falta de disciplina e capacidade para períodos de solidão ou relativa solidão acabam por se sobrepor ao instinto de sobrevivência, o que elimina a racionalidade.

Uma das coisas mais caras na vida é a liberdade, tanto que a sua privação é utilizada como punição e, para alguns, o simples fato de ter que se autolimitar de alguma forma assim lhes parece uma “pena” insuportável. Ocorre que liberdade não é fazer tudo o que se deseja e como deseja; é ter a opção de, inclusive, não fazer algo que lhe pareça perigoso a si próprio e ao próximo, mas por N motivos nem sempre isso é possível.

Eu particularmente gosto de filmes distópicos (“fim do mundo” ou quase…) e também de ficção científica, como viagens espaciais, e observo que os sobreviventes em geral são os que têm maior capacidade de tratar com racionalidade os percalços que aparecem. Também tem o traço de suportarem longos períodos de solidão ou isolamento sem “pirar”.

O momento pelo qual passamos é uma grande luta contra o inimigo interno, que conta com a ajuda destrutiva de inimigos externos que incentivam a “liberdade” em detrimento da sobrevivência. Nunca uma frase dita em um contexto cínico foi tão profética: “Deus tenha piedade da nossa nação…” .

A imagem que abre este artigo é de autoria de Bruno Kelly/Amazônia Real e mostra a movimentação do comércio em Manaus na rua Marechal Deodoro.

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Sobre a matéria

Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.