Política

Adriano Salan, número 1 de Adail, é alvo da CPI da Pedofilia

Por Kátia Brasil Publicado em: 19/02/2014 às 23:53

Com a prisão de Adail Pinheiro (PRP), o ex-secretário de administração do município de Coari e homem de confiança do prefeito, Adriano Salan passou a ser o principal alvo das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara Federal, a CPI da Pedofilia, que investiga uma rede criminosa comandada pelo prefeito no aliciamento de menores, todas vítimas de abusos.

Ex-meirinho (oficial) do Tribunal de Justiça do Amazonas, Adriano Salan é investigado por suposto envolvimento na intermediação e contratação de menores com aliciadores para Adail Pinheiro. Ele ainda não teve a prisão decretada como ocorreu com o prefeito pela segunda vez no dia 14 de fevereiro, apesar de figurar como indiciado no mesmo processo aberto, em 2008, com base em investigações da Operação Vorax da Polícia Federal por crimes de favorecimento à prostituição infantil. Veja íntegra de gravações aqui.

Adail Pinheiro cumpre a primeira prisão preventiva desde o dia 08 de fevereiro por determinação do Tribunal de Justiça do Amazonas no Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar do Amazonas, na zona oeste de Manaus. Ele é acusado de comandar uma suposta quadrilha de favorecimento da prostituição infantil e estupro de vulnerável por ação movida pelo Ministério Público Estadual.

A presidente da CPI da Pedofilia, deputada federal Érika Kokay (PT-RO), que desembarca nesta quinta-feira (20) com a relatora deputada Liliam Sá (Pros-RJ) e representantes da comissão para novas diligências em Coari, afirmou ao Amazônia Real que Adriano Salan é apontado na investigação como “o homem importante na constituição da rede de exploração sexual em Coari”.

“Nós vamos dar plena execução da apuração das investigações das denúncias contra ele (Adriano Salan). Ele já prestou depoimento na CPI, mas existe todo um nível de denúncia de que ele teria um papel de um protagonismo muito forte”, afirmou a deputada Érika Kokay.

Reincidência nos abusos

Homem de confiança de Adail Pinheiro, Adriano Salan já foi acusado de crime de favorecimento à prostituição infantil, abuso de autoridade, lesão corporal, consumo de entorpecente, entre outros crimes, em 2001, mas a representação foi arquivada pelo Tribunal de Justiça do Amazonas, órgão público onde ele trabalhou por cerca 20 anos. Ele foi demitido no início deste ano do tribunal depois de um processo administrativo disciplinar.

Há 13 anos, Adriano Salan, um juiz da infância e juventude da capital, um assessor do juiz e um servidor do Tribunal Regional Eleitoral foram acusados por cinco menores de 16 anos. Na representação, eles dizem que foram convidadas para fazer um passeio de embarcação entre Manaus e Parintins (distante a 425 quilômetros da capital) com os homens.

Segundo a representação do advogado das famílias das menores, Abdalla Sahdo, durante a viagem elas foram surpreendidas com uma proposta de fazerem programa sexual com eles. Foram submetidas a diversos estupros e induzidas a consumir drogas pelo grupo de homens. Depois da viagem, as adolescentes foram abandonadas no porto de Itacoatiara (175 quilômetros de Manaus) sem comida e sem dinheiro.

Em defesa dos quatro homens, uma aliciadora disse no curso das investigações que intermediou com as menores um pagamento de R$ 300 para cada uma pelo programa sexual com eles.

O caso envolvendo Adriano Salan foi denunciado ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público Estadual, além de ter sido investigado pela Polícia Federal. Durante as investigações, as menores mudaram depoimentos inocentando os homens. Depois voltaram atrás culpando-os novamente, justificando que receberam proposta de dinheiro para ficaram caladas. Elas não aceitaram a proposta.

“Menores com conduta sofrível”

Em 29 de novembro de 2001, o desembargador Kid Mendes de Oliveira, relator do processo no Tribunal de Justiça do Amazonas, arquivou a representação contra Adriano Salan e os outros três homens. No relatório que determinou o arquivamento, Oliveira alegou que “as menores detêm conduta moral e sexual sofríveis, corrompidas pela atividade sexual mediante pagamento, não sendo imaturas ou ingênuas, apesar da pouca idade, comprometendo o ataque aos representados”, disse.

As adolescentes também denunciaram os quatro homens na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso (CPMI) que, em 2004, investigou a violência e redes de exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Mas ninguém foi indiciado ou preso a pedido da CPMI, que também arquivou o caso envolvendo Adriano Salan.

O advogado das famílias das menores na época, Abdalla Sahdo afirmou ao Amazônia Real que as menores desconheciam a proposta de programa sexual. Disse também que as adolescentes nunca receberam dinheiro para mudar as versões dos depoimentos.

“Esse caso não prosperou na Justiça pelo protecionismo. A CPMI foi uma montagem de ocasião. Como os acusados detinham poder, então foi arquivado. Vejo esse caso como um exemplo do comprometimento do Tribunal no sentido da proteção os seus pares e de não fazer valer a lei”, afirmo o advogado.

Alberto Simonetti Neto, advogado de Adriano Salan, afirmou que ele nega todas as acusações por suposto envolvimento com o crime de favorecimento à prostituição infantil. “O Adriano Salan está denunciado pela Operação Vorax, pelo Ministério Público Estadual, não há razão nenhuma para quem estar denunciado ser ouvido pela CPI da Câmara. Então, a finalidade de Érika Kokay é o sensacionalismo. Esse ano é de eleições, ela quer palco político. Qual é a finalidade de se ouvir o Adriano na CPI? É só farofa!”, afirmou.

Com relação as gravações em que aparece a voz de Adriano Salan em interceptações telefônicas da Polícia Federal, o advogado disse que as conversas não materializam crimes.

Sobre as acusações das menores em 2001 contra Adriano Salan, o advogado Simonetti Neto afirma que desconhece o processo.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])