Meio Ambiente

Alunos destacam o aprendizado e o impacto do jornalismo socioambiental após a oficina da Amazônia Real e Climate Tracker

Para os estudantes que participaram, o evento trouxe visão aprofundada sobre atuação profissional na região Norte e para além da floresta Manaus (AM) – “Eu tenho um certo conhecimento e conscientização, pois trabalho escrevendo sobre licenciamentos ambientais. Mas em Manaus, […]

1ª Oficina de Jornalismo Socioambiental (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Por Izabel Santos Publicado em: 20/05/2019 às 19:04

Para os estudantes que participaram, o evento trouxe visão aprofundada sobre atuação profissional na região Norte e para além da floresta

Manaus (AM) – “Eu tenho um certo conhecimento e conscientização, pois trabalho escrevendo sobre licenciamentos ambientais. Mas em Manaus, eu vi que, na verdade, não sei nada, ou muito pouco. Tem muita coisa que precisa ser abordada e virar pauta fora daqui. Volto para casa mais sensibilizada sobre os temas que abrangem a Amazônia”. Essa é a declaração da jornalista mineira, recém-formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Ingrid Stockler, 24 anos. Ela foi uma das 20 participantes da 1^a Oficina de Jornalismo Socioambiental, promovida pela agência de jornalismo independente Amazônia Real e a organização internacional Climate Tracker, realizada neste mês, no Parque Municipal do Mindu, na zona Centro-Sul de Manaus.

A frase da jovem reflete uma nova compreensão dos participantes que analisaram o evento sobre a abordagem do jornalismo socioambiental, a partir do aprendizado na oficina. Carlos Corrêa, 24 anos, aluno da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), também foi um dos selecionados para participar da oficina. “Temos pouca coisa sobre meio ambiente na faculdade e quero fazer meu trabalho de conclusão do curso integrando uma abordagem socioambiental com audiovisual”, disse ele.

Veluma Menezes, 22 anos, estudante da Faculdade Fametro, evidenciou, na sua avaliação, como é necessário o amazonense conhecer a terra onde vive. “Eu moro na Amazônia; por isso preciso entender o quão importante é falar sobre ela”, disse ela, completando sua opinião sobre a oficina: “o meu amor pela Amazônia reviveu e eu pude ver o quanto posso ser importante nesse processo”.

“Gostei muito de participar e saio daqui cheia de ideias para projetos sobre o tema”, revelou Gabriella Lira, 22 anos, estudante da Faculdade Martha Falcão.

No primeiro dia os alunos tiveram oficinas com Kátia Brasil e Rita Mesquita (no centro)
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A 1^a Oficina de Jornalismo Socioambiental foi realizada nos dias 10, 11 e 12 de maio, durante um final de semana, que incluiu o Dia das Mães. Mesmo assim, o evento reuniu 40 pessoas: alunos, do Amazonas, de São Paulo, de Minas Gerais e do Distrito Federal; oficineiros, organizadores e apoiadores. As oficinas abordaram temas como: biodiversidade, povos indígenas, ciência e mudanças climáticas, jornalismo investigativo e impactos do jornalismo socioambiental na sociedade.

Na ocasião, os alunos tiveram a oportunidade de ouvir as experiências de jornalistas e cientistas que compartilharam as informações com os jovens estudantes e recém-formados. Participaram como ministrantes das oficinas os jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, da Amazônia Real, Juliana Radler, do Instituto Socioambiental (ISA), e Alexandre Hisayasu, da Rede Amazônica/Rede Globo, além do fotógrafo independente Bruno Kelly. Foram oficineiros também a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) Rita Mesquita, e o coordenador regional Climate Tracker, Ignacio Amigo.

Participaram das atividades o fotógrafo Alberto César Araújo e a terapeuta e programadora neurolinguista Elvira Eliza França, que organizou as dinâmicas nos intervalos das oficinas, além das jornalistas Maria Cecília Costa e Vanessa Rocha e do cineasta César Nogueira.

Na abertura da oficina, o gestor do Parque Municipal do Mindu, José Feitoza, e a administradora da unidade, Jussara Castro, deram boas-vindas aos alunos e convidados. “Eventos assim são importantes para a conscientização ambiental dos cidadãos e a preservação da floresta”, disse Feitoza.

Elaíze Farias falou sobre identidade e pertencimento na Amazônia
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Os alunos tiveram uma participação muito ativa, com muitas perguntas aos palestrantes (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O estudante do sétimo período do curso de jornalismo da Faculdade Martha Falcão, Lucas Farias, 23 anos, destacou que a oficina da Amazônia Real e Climate Tracker se transformou numa oportunidade para os acadêmicos terem contato com o jornalismo socioambiental, que não é abordado em disciplinas regulares da grade curricular dos cursos e comunicação na cidade.

“É um momento que precisa ser aproveitado, pois os temas socioambientais estão muito presentes na nossa vida na Amazônia, mas não temos conhecimento para levar esse tipo de informação para a sociedade”, avaliou Lucas.

Ao término da oficina, os jovens participantes voltaram para seus estados e salas de aula com uma visão mais aprofundada sobre a Amazônia, impressionados com a diversidade de temas que transpassam a floresta e impactam, de diversas maneiras, a vida de quem mora na região e em outros lugares do país. A partir do aprendizado obtido durante o evento, demonstram ter outras perspectivas sobre o fazer jornalístico na região e a importância de produzirem conteúdos com qualidade, que tenham impacto social em defesa da Amazônia.

Para a estudante Tainá Aragão, 23 anos, amazonense radicada em Brasília (DF), e cursando o oitavo período de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB), “a oficina supriu e superou todas as suas expectativas. Já participei de várias oficinas de formação de jornalistas e nunca tinha visto uma programação tão bem elaborada, com participantes com preparo e vivência para responder perguntas sobre a região. Na maioria das vezes, as pessoas falam de um lugar que não é delas. E aqui, vi pessoas com pertencimento, falando do seu local de origem”, disse ela.

Os alunos tiveram uma oficina sobre fazer vídeos pelo celular
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Muitos alunos resolveram comentar nas redes sociais o que acharam da oficina. “A palavra (extra) para essa oficina é *gratidão*. Muito obrigado por esse projeto que com toda certeza expandiu a mente de muita gente sobre a realidade regional do nosso Estado. Cada palavra de vocês (facilitadores de conteúdo) foi/é/será importante para formação profissional de cada um de nós. Muito obrigado pela oficina 💕”, disse Cláudio Trindade (na foto acima), da Faculdade Uninorte.

Werica Lima, da Faculdade NiltonLins, disse em sua rede social que sempre gostou da Amazônia, do verde e de toda a biodiversidade, mas também sempre lhe chamou atenção a degradação da floresta. Segundo ela, participar da oficina e conhecer mais sobre os temas da região Norte, foi “simplesmente imensurável”. “Eu entrei em busca de Conhecimento e saí com Inspiração”.

Aluna produz livro sobre jornalismo ambiental

Alunas e alunos da oficina (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A jornalista recém-formada, Geovanna Bispo, veio de Campinas, São Paulo, com recursos próprios, para participar da 1^a. Oficina de Jornalismo Socioambiental, em Manaus Terminada a oficina, ela também entrevistou a jornalista Kátia Brasil, para um projeto elaborado em parceria com a professora Cibele Buoro, da Universidade Paulista (Unip), em Campinas (SP).

Segundo Geovanna, o projeto prevê a produção de um livro-reportagem “Jornalismo ambiental e seus impactos”, no qual ela irá abordar a atuação de jornalistas ambientais com grande experiência neste segmento na imprensa brasileira. O trabalho envolve cinco jornalistas. Cada um deles foi buscar diferentes formas de atuar para tratar os temas ambientais no Brasil. “O nosso projeto fala sobre jornalistas que cobrem a editoria de meio ambiente, não necessariamente ativistas, mas jornalistas que fazem matérias sobre o assunto”, explicou Geovanna.

O jornalista Alexandre Hisayasu, da Rede Amazônia/Rede Globo, falou sobre investigações de crimes ambientais
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A jornalista de Campinas disse, ainda, que a vinda ao evento da Amazônia Real e Climate Tracker foi muito importante para ela entender, ver e sentir, de fato, como os jornalistas que atuam na Amazônia trabalham. “Para mim, essa oficina representa conhecimento, resistência, coragem e aprendizado. É o que fica para mim e todo mundo que participou”, avaliou ela. “Pude conhecer e vivenciar a Amazônia, porque o jornalismo é experiência. Agora tenho mais sensibilidade em relação às matérias sobre temas ambientais”, garantiu a jornalista, que constatou que na floresta vivem pessoas que defendem o meio ambiente.

Participaram também da oficina em Manaus os alunos: Alice de Oliveira (Fametro); Alzira Fabrinne Guimarães de Oliveira (Martha Falcão); Ariel Rodrigues Bentes (UFAM); Carolina Nogueira (Fametro); Davi Felipe França Albuquerque (UFAM); Jackeline Brazão Campos (Martha Falcão); Jackeline Lima (Martha Falcão); Jamile Alves de Araújo (UFAM); Kezia Pinto (UFAM); Tainá Aragão de Almeida (UnB); Victoria Amaral Sales (Fametro); e Yolanda Maria Tapajós Bento (UFAM). A turma foi nomeada de jornalista Vandré Fonseca em homenagem ao profissional, que era especialista no jornalismo socioambiental e faleceu este ano.

Parceria inédita no Brasil

Ignacio Amigo, da Climate Tracker (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A 1a. Oficina de Jornalismo Socioambiental foi a primeira realizada pela Climate Tracker Brasil. Também foi o primeiro evento da organização internacional, realizado em parceria com a agência Amazônia Real. No mundo, a Climate Tracker já realizou eventos semelhantes em mais de 30 países, entre eles: Malásia, Filipinas, Ilhas Fiji, Espanha e Estados Unidos. “Organizamos oficinas em diversos lugares, de acordo com a realidade de cada um. Nosso foco é trabalhar em locais onde esse tipo de treinamento não está presente”, explicou o representante dessa organização no país, Ignacio Amigo.

Para ele, o objetivo da atividade é preparar jornalistas para falarem sobre mudanças climáticas e, assim, promoverem uma abordagem crítica sobre o tema na mídia e, consequentemente, ampliar as discussões na sociedade. Além dos eventos, a Climate Tracker concede bolsas para que jornalistas participem de reuniões importantes sobre o assunto em diversas partes do mundo.

“A oficina em Manaus foi um sucesso e fiquei impressionado com o nível dos participantes: bastante engajados e com boas ideias. Também fiquei impressionado com o interesse dos estudantes: foram quase 80 inscrições para 20 vagas. Isso mostra que as pessoas aqui possuem uma demanda por esse tipo de atividade e conhecimento e querem treinamentos como esse”, avaliou Amigo. Durante a oficina, ele anunciou aos alunos que a Climate Tracker irá abrir vagas de estágio, inclusive, enviará estudantes de jornalismo Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas, a COP25, que será realizada do dia 11 à 22 de novembro de 2019, no Chile.

Estágios na Amazônia Real

Maria Cecília Costa e Jackeline Lima (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Durante a 1^a Oficina de Jornalismo Socioambiental, a agência Amazônia Real realizou uma produção de texto sobre o evento para selecionar estudantes para ocuparem duas vagas de estágios na redação. O texto, escrito individualmente, teve como tema algum fato marcante sobre a oficina. Os critérios de avaliação dos textos foram organizados pela colunista da Amazônia Real, Elvira Eliza França. Dentre eles, foram considerados: a capacidade de síntese, a fluência verbal, organização de ideias, desenvolvimento do tema, estruturação das frases, gramática, capacidade crítica na argumentação, entre outros.

Elvira disse, que ficou surpresa com a capacidade de alguns participantes de elaborar o texto com comentários e citações entre aspas, utilizando as palavras dos instrutores para fundamentar seus comentários. “Eles seguiam um estilo dos textos da Amazônia Real e demonstraram que estavam atentos às diferentes abordagens. Além disso, o grupo estava muito focado no trabalho e fiquei impressionada com a pontualidade na execução das atividades”, disse.

Segundo a editora executiva da Amazônia Real, Kátia Brasil, que coordenou a oficina e a seleção para o estágio, de um modo geral, todos os participantes tiveram um bom desempenho. Mas há apenas duas vagas para estágio e foi necessária uma análise minuciosa para escolher. Os selecionados foram duas estudantes: Jackeline Lima, da Faculdade Martha Falcão; e Alicia Oliveira, da Fametro.

A editora destacou que os estágios, remunerados, serão realizados entre os meses de junho a dezembro. “Mas outros alunos poderão ter a chance de serem chamados para visitar nossa redação e a participarem de outros eventos da Amazônia Real. Na oficina, todos eles mostraram vocação para o jornalismo socioambiental. A oficina abriu as portas para esse relacionamento do estudante com a agência, e acredito que é só o começo de novas parcerias com as faculdades”, disse Kátia Brasil.

Carolina, Alicia, Victória e Veluma durante a oficina no Parque do Mindu
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])