Meio Ambiente

Amazônia em Chamas: Manaus tem Aula Pública na greve global pelo clima

Crianças, adolescentes e adultos alertaram para a situação do desmatamento da floresta e, inspirados por Greta Thunberg, cobraram ações concretas dos governantes contra a crise climática (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real) Manaus (AM) – Uma Aula Pública com o título […]

Manaus, AM 20/09/2019 Greve Mundial pelo Clima em Manaus - Aula Pública "Amazônia eas mudanças climáticas" ministrada pelo pesquisador do INPA Dr. Arnaldo Carneiro; pelo professor da UFAM, Dr. Luiz Fernando e pela indígena Mayara Sateré, do MEIAM na Casa das Artes (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Por Izabel Santos Publicado em: 21/09/2019 às 01:52

Crianças, adolescentes e adultos alertaram para a situação do desmatamento da floresta e, inspirados por Greta Thunberg, cobraram ações concretas dos governantes contra a crise climática (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Manaus (AM) – Uma Aula Pública com o título “Amazônia e as Mudanças Climáticas” para cerca de cem pessoas abriu o inédito protesto “Greve Global pelo Clima” em Manaus, reunindo crianças, adolescentes e adultos durante duas horas e meia na Casa das Artes, no Largo de São Sebastião, no centro de cidade. Em outras cidades brasileiras a manifestação, liderada internacionalmente pela jovem sueca Greta Thunberg, levou centenas de estudantes às ruas. Nesta sexta-feira (20), os jovens se manifestaram contra o aquecimento global, o fim dos desmatamentos e queimadas na Amazônia.

Segundo a organização Fridays For Future, criada por Greta, o protesto aconteceu em cerca de 185 países, sendo que em muitos deles os alunos foram dispensados das escolas para participar do ato. Eles querem que as decisões dos governantes sobre a crise climática no mundo saiam já na Cúpula de Ações Climáticas da ONU, que começa na segunda-feira (23), em Nova York (EUA).

Atentos a toda a movimentação dos ativistas na Casa das Artes, em Manaus, os irmãos João Pedro, 11 anos, e Luís Vinícius Koury, 6 anos, participaram pela primeira vez do protesto “Greve Global pelo Clima”. João disse que era fã da Greta Thunberg. “Acho bonito o que ela faz. Por ser criança, a gente já chama muito mais atenção do que muito adulto, por isso os governantes deviam nos ouvir”, disse o adolescente.

Os irmãos João Pedro, 11 e Luis Vinicius Khoury, 6 anos, na Greve pelo Clima
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Para João Pedro é preciso ter consciente do poder que os jovens têm para mudar o mundo, inclusive a situação do desmatamento na Amazônia. “É ilegal, mas, mesmo assim, as pessoas continuam fazendo, pô?!”, declarou o garoto.

Esta também foi a primeira vez que o estudante de biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Daniel Oruê, 18 anos, participou de um protesto contra o aquecimento global. “Eu vim mais porque eles me chamaram”, disse apontando para dois colegas. “Espero que as pessoas, pelo menos as que estão aqui, saiam mais conscientes da situação ambiental que estamos vivendo”, disse.

Uma sementinha

Manifestanta coloca faixa da Greve Global pelo Clima, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Na aula sobre “Amazônia e Mudanças Climáticas” em Manaus, os manifestantes tiveram palestras com o pesquisador e agrônomo Arnaldo Carneiro, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com o sociólogo e ex-candidato ao Senado pelo PSOL, Luiz Fernando Santos, e com a estudante de biologia, Mayara Sateré, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Eles defendem que o conhecimento científico ultrapasse os muros dos laboratórios e das universidades e chegue à população de maneira clara e compreensível. A discussão, esteve alinhada com a recado enviado por Greta ao Congresso dos Estados Unidos: “Não quero que vocês me escutem, quero que vocês escutem os cientistas”.

Nos protestos, os jovens liderados por Greta Thunberg “exigem ações urgentes e decisivas para enfrentar a crise climática e encontrar um caminho seguro para permanecer dentro do aumento de 1,5 C na temperatura global, a fim de salvaguardar tudo o que sustenta a vida na Terra”, diz a mensagem da organização Fridays For Future no site.

Apesar do número pequeno de pessoas na Casa das Artes, para o pesquisador Arnaldo Carneiro em Manaus “plantamos aqui uma sementinha”. “Como o problema [da crise climática] não vai diminuir, só vai se agravar, ainda bem que estamos começando essa mobilização pelos mais jovens. Espero que a solução para esses problemas climáticos que estamos criando há dois séculos, não demore tanto tempo assim, mas vai depender dessas novas gerações”, disse ele.

O sociólogo Luiz Fernando Santos destacou que a situação do descaso com o meio ambiente no Brasil não é um problema atual. “É uma marca histórica daquilo que é o Brasil, inclusive com os governos militares e civis que tivemos após a ditadura. Por isso, não podemos tecer loas ao PSDB, PT ou quem quer que seja, pois todos eles seguiram a mesma lógica de produção, acumulação e geração de riqueza que culminou na crise ambiental profunda que estamos vivendo”, avaliou ele, dizendo que a crise climática também não começou no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que é criticado nas manifestações por desmontar a política ambiental brasileira. Leia a série Amazônia em Chamas.

“Essa crise ambiental que vivemos não se resolve com a saída dele [Bolsonaro], e ela nem começou com ele. Nós demos o primeiro passo na direção de um processo de resistência, que parte de dentro para fora. Tem me assustado muito que as discussões sobre queimadas na Amazônia estejam sendo discussões de cúpula, entre os ministérios e governadores, mas a sociedade civil, sempre de fora”, ressaltou Luiz Fernando Santos, que é professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Aula Pública com o pesquisador Arnaldo Carneiro, na Casa das Artes, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Já a indígena Mayara Sateré, do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam), conclamou os presentes na Casa das Artes a aprenderem com os povos indígenas a conviverem com a terra. “Precisamos formar novas lideranças para oxigenar, não só o movimento indígena, mas todos os movimentos que envolvem a juventude”, diz. “Nossa tradição está ligada à terra, que é nossa casa, nossa vida. Há 519 anos nós somos explorados, mas nunca tive tanto medo de um genocídio quanto me sinto agora, com o Governo Bolsonaro”, afirmou a jovem.

A estudante Mayara Sateré fala na Aula Pública na Casa das Artes
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Respeito aos povos

Voluntários do Greenpeace na Greve Global pelo Clima em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A jovem Yvina Dorsane, 19 anos, participou do protesto “Greve Global pelo Clima” na Casa das Artes. Estudante de biologia do Ifam, ela disse que estava compareceu ao ato para despertar alguma atitude por parte do poder público. “É essa a maneira que o povo tem de chamar a atenção dos seus governantes. É uma alternativa de expressão para cobrar os tomadores de decisão”, disse

Já Estefanni Nicolau, 21 anos, estudante de Direito, tem o exemplo do envolvimento em movimentos sociais dentro de casa, por isso se sentiu motivada a aderir à “Greve Pelo Clima”, em Manaus. “Os tomadores de decisão estão vendo que eles estão tomando decisões erradas, as pessoas sabem disso. Eles precisam tomar medidas e mudar de posição. Me incomoda muito o desrespeito descarado do presidente Bolsonaro com os povos indígenas, os verdadeiros donos da terra”, declara.

A estudante Estefanni Nicolau na Greve Global pelo Clima, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A “Greve Global pelo Clima” em Manaus tem uma programação até a próxima sexta-feira (27) na chamada “Semana pelo Futuro e pela Justiça Climática”. Na quarta-feira (25), um grupo de voluntários estará no Terminal de ônibus 1, na Avenida Constantino Nery, falando à população sobre as mudanças climáticas e suas consequências para o planeta. Na sexta-feira, finalizando a semana, haverá um ato a partir das 15h, na Praça da Saudade, também no centro da capital amazonense.

Para a mobilizadora da “Greve Global pelo Clima” em Manaus, a engenheira florestal, Carolina Ramirez Mendéz, o evento na Casa das Artes foi positivo, apesar da baixa adesão dos estudantes. “Somos ainda poucos, mas essa acolhida está fortalecendo o movimento e está chamando a atenção para a Amazônia, um bioma de suma importância para todo o mundo. A mobilização é o nosso campo de batalha”, disse ela, que é a representante da organização Fridays For Future (Sextas-feiras do futuro), criada por Greta Thunberg.

O protesto “Greve Global pelo Clima” também acontece em Belém, Macapá e São Luís, estados do bioma Amazônia. Em Nova York, lideranças indígenas brasileiras participaram da manifestação, onde a jovem Greta Thunberg deu entrevista à AFP e explicou que, embora não haja dados oficiais sobre o número de participantes nos eventos, ele está feliz por serem “milhões” de manifestantes no mundo, publicou o site G1.

“Os números são incríveis, quando você vê as imagens, é difícil de acreditar”, disse a ativista de 16 anos durante entrevista na prefeitura de Nova York, antes de participar da grande mobilização que começou ao meio-dia (horário local).

Greta Thunberg fala ao público na greve climática em NY
(Foto: Stephanie Keith/Greenpeace)

Manifestação na Avenida Paulista (Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Lideranças indígenas de vários países, incluindo o Brasil, na Greve do Clima, em NY
(Foto: Stephanie Keith/Greenpeace)

Para baixar mais fotografias da Aula Pública em Manaus acesse nosso https://www.flickr.com/photos/amazoniareal/albums/72157710999829646

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])