Cultura

Cantora Ellen Fernandes lança o CD “Batelão da Amazônia” com show no Teatro Amazonas

O show vai reunir artistas do Amazonas, de São Paulo e contará com as presenças dos cantores David Assayag e Celdo Braga, além da participação do líder indígena e tuxaua Wilason André Sateré-Mawé (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real) “Sou sabor […]

A Cantora Ellen Fernandes no Teatro Amazonas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Por Elvira Eliza França Publicado em: 13/03/2020 às 20:07

O show vai reunir artistas do Amazonas, de São Paulo e contará com as presenças dos cantores David Assayag e Celdo Braga, além da participação do líder indígena e tuxaua Wilason André Sateré-Mawé

(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

“Sou sabor do Norte, vem me conhecer”. É assim, como se fosse uma dose do apreciado guaraná, que a cantora e compositora amazonense Ellen Fernandes, 32 anos, convida a todas e todos para o show de lançamento do CD “Batelão da Amazônia”, no próximo domingo, dia 15 de março, às 19 horas, no Teatro Amazonas, no centro de Manaus. As músicas do primeiro CD da carreira da artista trazem composições de autoria dela, com a “sonoridade moderna, influenciada por ritmos do norte”, em especial da cultura indígena. É, também, o primeiro trabalho da cantora, produzido pelo baixista, arranjador e produtor musical Fi Maróstica, que trabalha com ênfase na Música Popular Brasileira (MPB).

O CD “Batelão da Amazônia” foi produzido com recursos do financiamento coletivo, e foi gravado no Estúdio Arsis, em São Paulo, pelo engenheiro de som Adonias Jr. Na capital paulista, Ellen Fernandes realizou o show de pré-lançamento do trabalho, em fevereiro deste ano, no Sesc Santo André (SP).

Ellen diz que o show de lançamento do CD “Batelão da Amazônia”, no Teatro Amazonas, vai proporcionar ao público “a reflexão sobre a Amazônia, suas riquezas não só naturais, mas humanas, que ficam evidentes na narrativa das letras”. Por isso, os músicos no palco e a plateia irão viajar juntos pelos ritmos e sonoridades brasileiras e amazônicas, como se todos estivessem dentro de um batelão – esse nome era dado às embarcações de madeira de grande porte que trafegam pelas estradas de rios da bacia amazônica. Hoje, essas embarcações são chamadas de “barco de motor”, “barco de recreio” ou “barco de linha”. “Esse nome carrega memórias e influências dos lugares por onde passei na minha trajetória musical”, diz a cantora.

No show “Batelão da Amazônia”, Ellen será acompanhada pelos seguintes músicos, que trabalham em São Paulo: na bateria Cléber Almeida; no baixo elétrico e contrabaixo acústico Fi Maróstica; e no piano Salomão Soares. Os artistas do Amazonas convidados para o espetáculo são: David Assayag, Neil Armstrong, Carol Martins, Cinara Nery, Elisa Maia, Ruben Colares, Alexandre Frota, Marcelo Coelho, Celdo Braga, Sound Lab Trio e André Sateré.

“Esse show representa pra mim um momento muito emblemático de finalização de uma etapa. A sonoridade e parceria eu devo ao músico e produtor Fi Maróstica”, diz a cantora, que lembrou de quando se apresentou, pela primeira, no teatro centenário, em Manaus.

“Cantar novamente no Teatro Amazonas tem um significado muito especial, pois foi neste palco onde me apresentei pela primeira vez, com o grupo Raízes Caboclas, a convite do músico, poeta e também cantor Celdo Braga, meu grande inspirador”, disse a artista.

O desafio para ecoar uma voz

A cantora Ellen Fernandes pesquisou a sonoridade da floresta
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Ellen Fernandes nasceu em Manaus e formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ela começou a carreira de cantora quando estudou canto e violão no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro. Depois ingressou no curso superior de música da Ufam, mas não concluiu. Em 2012, ela mudou-se de Manaus para São Paulo, com o objetivo de estudar música popular no curso de graduação. “Quando cheguei em São Paulo, ainda não compunha músicas, mas na faculdade recebi o instrumental para descobrir a técnica para desenvolver as habilidades de composição”, afirma.

Ellen estudou Música Popular – Composição e Arranjo na Faculdade de Música Souza Lima e na Faculdade Campo Limpo Paulista. Tornou-se mestre em Música Popular, na área de etnomusicologia, pela Universidade de São Paulo (USP). Na monografia para titulação de mestre, ela apresentou o trabalho “A rede musical Sateré Mawé e o canto como raiz: música, memória e conciliação”, que foi defendido em janeiro de 2019.

Sobre a vivência no sudeste do país, a cantora lembra que o primeiro desafio foi o impacto das diferenças urbanas, morando na maior e mais populosa cidade do país. “Sentia a falta da natureza como a da Amazônia”, conta ela.

A artista amazonense diz ter se surpreendido com o céu poluído de São Paulo, com a agitação populacional, e as diferenças culturais da grande cidade. “Senti que a música era um lugar muito masculino em São Paulo, e precisei lutar pelo espaço de fala e de canto, como mulher e cantora do Norte do país”.

Contudo, Ellen declara seu agradecimento à cidade: “São Paulo é uma cidade densa, nos humaniza quando enxergamos nas suas contradições, um alerta sobre as mazelas sociais, nos permitindo viver intensamente. Devo a São Paulo mais do que amadurecimento profissional, mas meu amadurecimento humano. Como mulher amazônica, e dentro do contexto musical, foi um desafio dar voz e impor determinados lugares e limites da música que proponho”, diz a cantora.

Para produzir o primeiro CD da carreira “Batelão da Amazônia”, Ellen Fernandes fez uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) e mobilizou suas redes sociais para pedir doações ao público, para assim custear o processo de produção que um trabalho musical desse porte exige. Foi assim, “amazoniando em São Paulo”, que a cantora diz: “recebi apoio de muitos professores e músicos amigos que auxiliaram no meu progresso musical que é sempre contínuo”.

O apoio veio também do exterior. Em 2018, antes de produzir o primeiro CD, ela viajou para a Europa. “Tive a experiência de ir cantar música popular brasileira e algumas canções autorais na França e Itália”, disse a artista.

O encontro com os Sateré-Mawé

A cantora Ellen Fernandes (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Foi durante a realização de sua pesquisa com o tuxaua Wilason André Sateré-Mawé, líder da comunidade Waikiru Tarumã, localizada na periferia de Manaus, que Ellen teve experiências de ver como os indígenas discutiam os problemas que afetam seus territórios: “um escutando o outro, tendo assegurada a vez para ter voz”, diz ela.

Foi entre esses indígenas que a cantora percebeu como a música era importante para “estabelecer e fortalecer os laços da coletividade”, e como, para eles, “são importantes as relações que a música ocupa, desde os instrumentos feitos com pedaços da floresta, e sua maneira de perpetuar a memória coletiva através de sua arte”.

Com os indígenas Sateré-Mawé, Ellen também sentiu a “força da partilha de comida e água entre parentes”, num processo afetivo de relações, na qual a terra também é partícipe, sendo respeitada pela forma como é feito o plantio: “sem esgotar o chão”. Nesse processo, constatou como os “sábios, conhecedores da natureza, eram respeitados” naquele ambiente, o que a fez desejar ser ainda “mais humana”.

Em seu trabalho de pesquisa “A rede musical Sateré Mawé e o canto como raiz: música, memória e conciliação”, Ellen também estudou as músicas do Ritual da Tucandeira. Nesse ritual, os jovens cantam e dançam usando uma luva de palha nas mãos, onde fica alojada uma grande quantidade de formigas tucandeiras (Paraponera), com poderosos ferrões, que dão picadas muito doloridas, deixando as mãos dos jovens inchadas e muito vermelhas. A dor que eles enfrentam marca o rito de passagem da adolescência para a vida adulta.

Ellen também tomou como base para seus estudos outras músicas da tradição oral e dos cantos da mãe do tuxaua André, a indígena Nandia Sateré. Além disso, ainda estudou as músicas dos indígenas Sateré-Mawé de Monte-Salém, no município de Maués, no interior do Amazonas, onde está localizada a Terra Indígena Andirá Marau – território tradicional da etnia e que também abrange os municípios de Barreirinha e Parintins.

“Na pesquisa, procuramos desenvolver também uma reflexão sobre o lugar que a música indígena Sateré-Mawé ocupa como expressão da música brasileira e sobre a relação entre homem e natureza nas sonoridades de cunho ritual, político e memorial”, diz Ellen Fernandes.

Para o CD “Batelão da Amazônia”, ela compôs a música “Çapó”, com Kaneo Ramos. A letra celebra o ritual do preparo do guaraná, alimento tradicional do povo Sateré-Mawé, mas também conhecido pela maioria dos brasileiros. Os indígenas preparam o guaraná manualmente: as sementes são trituradas para formar um bastão que depois de queimado é ralado na água. Em um trecho da música, a cantora Ellen Fernandes canta assim: “Sou sabor do Norte, vem me conhecer. Sou ouro nascido da terra, me entrego pra beber. Sou ouro nascido da terra, me entrego pra beber”.

Show de Ellen Fernandes no Teatro Amazonas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O que é?

Show do lançamento do CD “Batelão da Amazônia”

Com a cantora e compositora Ellen Fernandes

Produção musical do CD: Fi Maróstica

Músicos: Cléber Almeida (bateria); Fí Maróstica (baixo); e Salomão Soares (piano)

Artistas convidados: David Assayag; Neil Armstrong; Carol Martins; Cinara Nery; Elisa Maia; Ruben Colares; Alexandre Frota; Marcelo Coelho; Celdo Braga; Sound Lab Trio e Tuxaua Wilason André Sateré-Mawé.

Local: Teatro Amazonas.

Endereço: Largo São Sebastião, Centro, Manaus.

Dia: 15 de março, domingo, às 19h.

Duração do espetáculo: 1h20

Classificação: Livre

Entrada: de R$ 50,00 a R$ 20,00

Informações aqui.

Ellen Fernandes lança seu primeiro CD no Teatro Amazonas
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elvira Eliza França

Elvira Eliza França é mestre em Educação pela UNICAMP, especialista em Neurociência e Comportamento pela PUC (RS), especialista em Programação Neurolinguística pelo NLP Comprehensive dos EUA e graduada em Comunicação Social pela Universidade de Mogi das Cruzes (SP). É autora dos livros: “Crenças que promovem a saúde: mapas da intuição e da linguagem de curas não-convencionais em Manaus, Amazonas” editado pela Valer e Secretaria de Cultura e Turismo do Amazonas (2002); “Corporeidade, linguagem e consciência: escrita para a transformação interior” (1995), “Dimensões interiores da escrita: a voz da criança interior” (1993), “Do silêncio à palavra: uma proposta para o ensino da filosofia da educação” (1988) e “Filosofia da educacão: posse da palavra” (1984), publicados pela Editora Unijuí (RS). Criou a técnica terapêutica com as expressões das emoções denominada “Caretas Articuladas com Movimentos das Mãos - CAMM.”