Cultura

Futebol feminino de São Gabriel terá “Torneio Caça Talentos”

A iniciativa é organizada pela Rede Jogue Como Uma Garota e contará com a presença do treinador licenciado da CBF, Olavo Dantas. Na fotografia está a jogadora Caroline Lizardo, do etnia Baré, na margem das cachoeiras do rio Negro (Foto: […]

Na fotografia acima está a jogadora Caroline Lizardo, do etnia Baré, treinando sua habilidade na margem das cachoeiras do rio Negro, no Amazonas juliana Radler (3)

Por Amazônia Real Publicado em: 03/10/2019 às 17:04

A iniciativa é organizada pela Rede Jogue Como Uma Garota e contará com a presença do treinador licenciado da CBF, Olavo Dantas. Na fotografia está a jogadora Caroline Lizardo, do etnia Baré, na margem das cachoeiras do rio Negro (Foto: Juliana Radler/ISA)

Ana Amélia Hamdan, da Rede Jogue Como Uma Garota SGC

São Gabriel da Cachoeira (AM) – Times de futebol feminino indígena de São Gabriel da Cachoeira, no oeste do Amazonas, vão realizar pela primeira vez o “Torneio Caça Talentos”, nesta sexta-feira (4) e sábado (5), no Centro de Treinamento do Clube Região. Promovido pela Rede Jogue Como Uma Garota SGS, iniciativa que surgiu durante as transmissões dos jogos da Copa do Mundo do Futebol Feminina na França, o evento terá a participação do técnico de futebol feminino Olavo Dantas, que atua no Nacional Futebol Clube de Manaus e é licenciado pela CBF.

Segundo a organização do “Torneio Caça Talentos”, o técnico Olavo Dantas dará uma palestra motivacional às atletas e também irá conferir o desempenho delas em campo, pois é um reconhecido olheiro de talentos do futebol feminino profissional, tendo permanecido de 2011 a 2016 como técnico do Iranduba, hoje um time prestigiado nacionalmente no esporte e pela Seleção Brasileira Feminina.

A Rede Jogue Como Uma Garota foi formada em São Gabriel após a Copa do Mundo Feminina. As jogadoras e torcedoras participaram da campanha Jogue Como Uma Garota promovida pela marca-protesto feminista Peita, fundada em Curitiba, para dar visibilidade a Seleção Brasileira Feminina. As mulheres se reuniram em bares oficias da campanha para assistirem as transmissões dos jogos em 17 estados e o Distrito Federal, incluindo também a capital amazonense. A mobilização aconteceu de 7 de junho a 7 de julho, quando foi transmitida a final do jogo que deu a vitória ao time dos Estados Unidos.

Jogadoras de São Gabriel da Cachoeira da Rede Jogue Como Uma Garota
(Foto: Juliana Radler/ISA)

Após a campanha, a Peita criou a Frente Jogue Como Uma Garota, que incluiu representantes de 20 cidades brasileiras. Em Manaus, por exemplo, as torcedoras motivadas com a Seleção Brasileira fundaram no mês de agosto o time Jogue Como Uma Garota Manaus.

Já as jogadoras e torcedoras de São Gabriel, que ganharam visibilidade na mídia regional e nacional, decidiram empreender no esporte criando a primeira escolinha de futebol para as categorias de base.

“Nós mulheres sempre jogamos futebol aqui em São Gabriel e sempre enfrentando dificuldades. Mas parece que isso estava invisível. Com a Copa do Mundo de Futebol Feminino aumentou o interesse e o nosso campeonato ganhou visibilidade”, diz a ex-jogadora de futebol Ednéia Teles, que foi a embaixadora da campanha Jogue Como Uma Garota e é uma das fundadoras do Campeonato de Futebol Feminino, criado em 2014.

Treinador e olheiro

Ednéia Teles e Dadá Baniwa (Foto: Juliana Radler/ISA)

Ednéia conta que, com a visibilidade conquista durante a campanha Jogue, os times de futebol feminino de São Gabriel chamaram a atenção do técnico Olavo Dantas. O grupo de jogadoras se reuniu para buscar apoio de colaboradores da cidade para realizar o “Torneio Caça Talentos” com a presença do profissional. Dantas dará a palestra motivacional nesta sexta-feira (4), às 18h30, na Casa do Saber, na sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Já no sábado (5), pela manhã, será realizado o “Torneio Caça Talentos”, Centro de Treinamento da Região, para que o técnico possa analisar as jogadoras com a bola nos pés. Segundo Ednéia Teles, o jogo é aberto ao público. O evento é realizado com a parceria de Edinho Gonçalves, Sr. Arimar, Liga Esportiva de São Gabriel e da Foirn.

A Rede Jogue Como Uma Garota SGC providenciou, com o apoio de colaboradores, o transporte aéreo do treinador. A hospedagem e alimentação ficará por conta do próprio profissional. Ele não cobrará pela palestra e nem para participar do torneio como olheiro.

Alguns dos dez times que participam do Campeonato de Futebol Feminino de São Gabriel levarão suas equipes para o torneio, mas a definição de tais grupos só será fechada nas vésperas do jogo. Ednéia Teles explica que algumas equipes poderão se misturar. Além disso, garotas que não fazem parte dos times, inclusive das comunidades da região, poderão participar. “O torneio terá equipes mais abertas para que todas as interessadas possam mostrar seu talento”, explica.

Jogadoras Solaide Fontes Kuripako, do time Nova União, e Dawa Baniwa, do Esporte Clube (Foto: Juliana Radler/ISA)

Os times de futebol das mulheres indígenas de São Gabriel da Cachoeira começaram a ser formados por volta do ano de 2004, quando um grupo de jogadoras fundou o Movimento de Esporte Feminino (MEF).

Desde 2014 é realizado em São Gabriel o Campeonato de Futebol Feminino, coordenado pela Liga Esportiva de SGC-AM. As equipes são formadas por indígenas de 23 etnias, entre elas, Baré, Arapaso, Dessano, Tukano, Baniwa e Piratapuia.

Este ano, dez times disputam os jogos, iniciados em março. A final do primeiro turno do VI Campeonato de Futebol Feminino aconteceu no último domingo (29 de setembro), entre o Dabaru Esporte Clube (DEC) e o Meninas que Amam Futebol (MAF). O MAF venceu a partida por 2×1.

Edneia Teles reforça que as indígenas jogam com amor e determinação. “Elas são ‘fominhas’ mesmo. Quando acaba o treino em um campo, elas passam para outro”, diz ela, que é representante do povo Arapaso.

Em São Gabriel, a Rede Jogue Como Uma Garota é composta pela presidente Ednéia Teles; a vice-presidente Erlange Figueiredo; secretária Jucilene Albuquerque Cruz (povo Baré); tesoureira Maria do Rosário Piloto Martins (povo Baniwa); comissão de eventos com Kleidimara Otero (povo Baré), Felicita Pedrosa Vasques (povo Piratapuia) e Elinelma Ramos Lizardo (povo Baré).

Ednéia Teles reforça que a rede busca ainda dar visibilidade ao movimento de luta feminista como também defender os direitos das mulheres e combater a violência. “Continuamos a luta em busca de direitos e empoderamento da mulher indígena”, diz ela.

Futebol feminino em SGC reúne 10 times de mulheres (Foto: Ana Amélia Hamdan)

Jogadoras de futebol de São Gabriel da Cachoeira (Foto: Ednéia Teles)

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