Política

Historiador Juarez Silva Jr. segue em tratamento em hospital de Manaus

Por Izabel Santos Publicado em: 08/11/2020 às 22:39

O pesquisador e colunista da Amazônia Real apresenta problemas cardíacos e foi internado na unidade de saúde na quinta-feira (07) (Foto: Arquivo pessoal/Reprodução Facebook)

Manaus (AM) – O historiador Juarez Silva Júnior, colunista da Amazônia Real, segue internado com quadro estável no Hospital e Pronto Socorro Delphina Rinaldi Aziz, em Manaus. De acordo com Helder Clementino Lima Silva, seu irmão, houve uma melhora do desempenho respiratório, que estava sobrecarregado. “É uma insuficiência cardíaca que inspira atenção, pois ele está com uma frequência de batimentos inconstante, o que demanda controle. Nem pode baixar muito e nem acelerar”, informou.

Juarez prosseguirá com medicação até 16 de novembro, com avaliação do quadro nesse período. “Hoje, pode-se dizer que o quadro é estável, mas o médico frisou que não pode adiantar previsão por conta da oscilação do desempenho cardíaco”, acrescentou Helder Silva, que mora em Pindamonhangaba, no interior paulista, e tem recebido os boletins de saúde por telefone. Neste domingo (8), a equipe médica solicitou uma avaliação dos rins e realizou um novo teste de Covid-19, cujo resultado sairá em breve.

O historiador foi internado no Delphina Aziz desde a noite de quinta-feira (5), para onde foi transferido após dez dias no HPS 28 de Agosto, onde chegou de ambulância após se sentir mal no trabalho. A Amazônia Real apurou que ele sofreu uma parada cardíaca, estava com os pulmões comprometidos, baixa saturação de oxigênio e não respondia adequadamente ao tratamento. Juarez chegou a fazer dois testes de Covid-19, ambos com resultado negativo. No entanto, ele apresenta um conjunto de sintomas que apontam suspeita da doença.

Juarez Silva Júnior é um dos mais destacados militantes do movimento negro do Amazonas e, atualmente, coordena o Movimento Afroamazonas. Ele é iniciado em Ifá, uma técnica milenar divinatória Yorubá, tombada como patrimônio histórico. A tradição faz parte de um conjunto de sacralidades africanas. A iniciação em Ifá o faz uma espécie de diácono da sua crença.

Ele também é servidor do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM). Em 26 de outubro, Juarez Silva Júnior se sentiu mal no trabalho e foi levado do ambulatório do TJAM para o HPS 28 de Agosto.

Para o psicólogo e coordenador-geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), Alberto Jorge Rodrigues da Silva, a situação clínica de Juarez chegou ao ponto em que está por negligência do Estado.

“Foi preciso que o serviço social do Tribunal fosse provocado para que o Juarez, um servidor que tem destaque e é reconhecido nacionalmente, com créditos para o Tribunal por uma pesquisa sobre negritude no Amazonas, recebesse uma visita no hospital”, critica Alberto Jorge. Membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas, Alberto Jorge conta que estava acompanhando a situação de Juarez pelas redes sociais, onde ele fazia postagens enquanto estava internado.

“É inadmissível que alguém tenha passado nove dias internado no 28 de agosto e tido uma evolução de saúde como a que Juarez teve sem ter ido para uma UTI. Isso só mostra o caos em que nossa saúde está mergulhada”, disse.

A agência Amazônia Real tem publicado reportagens sobre a situação calamitosa do sistema de saúde do Amazonas. Uma delas, que fala sobre a segunda onda de Covid-19, traz informações sobre uma inspeção realizada pelo Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), no dia 24 de outubro, que constatou a superlotação do HPS 28 de Agosto.

A Assessoria de Comunicação do TJAM confirmou à reportagem que Juarez se sentiu mal e teve atendimento de um médico, um enfermeiro e um técnico de enfermagem que fazem parte da equipe de saúde do tribunal e que de lá foi encaminhado ao pronto-socorro de ambulância. Também afirmou que o serviço social está acompanhando a situação do servidor desde então. “Quando a família do servidor solicita, o Tribunal coloca à disposição a equipe médica, atendimento psicológico e até um capelão para suporte espiritual”, respondeu a assessoria de imprensa.

‘Juarez é mais uma vítima do racismo’

Juarez Foto: Reprodução facebook

Para Alberto Jorge, as condições em que Juarez se encontrava são o retrato evidente do racismo institucional. “É um preto internado, então ninguém vai imaginar que esse preto tem um doutorado, ninguém imagina que esse preto é um pesquisador. Ninguém imagina que esse preto é uma referência de resistência no estado do Amazonas. Enfim, se nega a cidadania porque é preto”, protestou Alberto Jorge.

“Mesmo que o Juarez não tivesse títulos acadêmicos e tudo o mais, é um preto. E aí está um quadro de descaso do Estado, que se revelou a partir do descaso do Tribunal, que só foi atrás do caso porque foi provocado. Se o Juarez, que tem toda essa bagagem é negligenciado, imagina a dona Chiquinha e o seu Chiquinho que não têm nenhuma referência? Eles vão morrer. Imagina isso acontecendo às vésperas do Dia da Consciência Negra? Isso é razão para o movimento negro, em nível nacional, se manifestar. Estão brincando com a vida das pessoas”, concluiu Alberto Jorge.

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])