Meio Ambiente

“Homologação ampara legalmente”, diz antropólogo

O antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, um dos mais atuantes militantes em defesa do tombamento, concedeu uma entrevista sobre o assunto para o portal. Leia trechos: Qual a avaliação que o senhor faz desses […]

Por Elaíze Farias Publicado em: 28/10/2013 às 09:02

O antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, um dos mais atuantes militantes em defesa do tombamento, concedeu uma entrevista sobre o assunto para o portal. Leia trechos:

Qual a avaliação que o senhor faz desses três anos de tombamento do Encontro das Águas?

Revendo a nossa cronologia de luta podemos afirmar categoricamente que o Movimento S.O.S Encontro das Águas é vitorioso, bem como todos os parceiros e colaboradores que acreditaram nesta luta e assim fizeram para reafirmar a defesa e a garantia do tombamento do Encontro das Águas. Para esse fim buscamos apoio em diversas frentes tanto no parlamento, como nas academias, na imprensa, nas Igrejas, no movimento sindical, no judiciário e demais segmentos que de forma direta ou indiretamente contribuíram para animar a todos na determinação de nossa jornada. Hoje estou convencido que foi uma disputa inteligente, primando pelo tangível que é o nosso Encontro das Águas e com a mesma dimensão o intangível, o simbólico, o espiritual impresso no imaginário da cultura de nossa gente.

Por que é importante proteger o Encontro das Águas?

Considerando que o Encontro das Águas é um bem público, histórico, cultural, arqueológico, paisagístico, de valor imensurável, não poderíamos ficar de braços cruzados e nem tampouco indiferente. Lembro-me muito bem das palavras da dona Marisa Lima, moradora do bairro Colônia Antônio Aleixo, localizado próximo à área: o Encontro das águas não está à venda, não tem preço é uma dádiva de Deus, não pode ser destruído pela ganância dos homens e de seus governantes que partem do princípio que todo homem tem preço e por isso querem transferir para a natureza a lei do mercado. Estas sábias palavras muito nos animaram e converteram as nossas vontades em atitudes, dando coragem para enfrentar os insensatos, muita das vezes correndo risco de morte. Mas, o espírito da floresta protegeu a todos e todas fazendo com que não caíssemos em tentação e continuássemos a nossa luta com confiança e respeito mútuo.

Encontro das Águas (Foto: Alberto César Araújo)

De que maneira a homologação do tombamento vai ajudar a proteger mais?

A homologação é importante porque ampara legalmente a decisão do tombamento e requer, sobretudo, a formulação de políticas tanto da Prefeitura, do Governo do Estado e da União para uso desse patrimônio que requer de todo o mundo zelo, cuidado e proteção tanto para presente como para o futuro das demais gerações.

A homologação requer uma decisão do governo federal por meio do Ministério da Cultura. Tenho absoluta certeza que assim fosse a coisa andaria. Outro caminho será a pressão internacional por meio dos movimentos ambientalistas assentado nas redes sociais. Para nós está claro que a homologação é um ato político e por ser desta natureza a questão vai aflorar nos eventos da Copa, das Olimpíadas e nas campanhas eleitorais e posso garantir que quem não tiver juízo pode se dar muito mal no resultado das urnas.

É preciso que o povo do Amazonas e, em particular dos arredores do Encontro das Águas, redimensione suas ações e comece a dar sentido à luta que foi travada contra os poderosos e o próprio governo do Amazonas, visto que o tombamento não é o engessamento da economia do lugar, ao contrário, é a racionalidade operativa pautada na sustentabilidade.

Leia mais sobre o assunto:

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).