IPCC alerta: o clima continua a esquentar

PAULO ARTAXO O Painel Intergovernamental de Mudanças climáticas publicou, no final de setembro, seu ultimo relatório de compilação de resultados científicos sobre mudanças climáticas globais. Comparado ao relatório anterior, o AR4, publicado em 2007, o novo (chamado Assessment Report 5 […]

Por Amazônia Real Publicado em: 20/10/2013 às 20:00

PAULO ARTAXO

O Painel Intergovernamental de Mudanças climáticas publicou, no final de setembro, seu ultimo relatório de compilação de resultados científicos sobre mudanças climáticas globais.

Comparado ao relatório anterior, o AR4, publicado em 2007, o novo (chamado Assessment Report 5 ou AR5) contém um numero muito maior de observações ambientais e modelos climáticos mais sofisticados e completos. São 2.250 páginas, 9200 referências científicas, tudo revisado por 1089 cientistas de 55 países. A elaboração do AR5 demorou quatro anos e o resultado foi formalmente aprovado por 195 países da ONU. É um trabalho de muito peso científico.

As observações ambientais apontadas por estudos científicos e analisadas pelos membros do IPCC mostram claramente que a atmosfera de nosso planeta já se aqueceu em média 1 grau centígrado desde a revolução industrial, com algumas regiões do ártico já aquecendo 2.5 graus nos últimos 150 anos.

Os oceanos se aqueceram 0.7 graus centígrados, o nível médio do mar aumentou em 20 centímetros, além de a acidez ter aumentado em 30% nesse período. Observamos também que a maior parte das geleiras continentais perdeu massa de gelo de modo significativo, e que a área coberta por gelo no Oceano Ártico reduziu-se em 30 % no final do verão do hemisfério Norte, entre outras tantas mudanças ambientais muito bem documentadas em centenas de artigos científicos.

Evidentemente, alterações ambientais extensas como essas têm forte impacto no funcionamento dos ecossistemas, entre eles a Amazônia, o Ártico, e o meio ambiente oceânico. Hoje podemos dizer, com 95% de confiabilidade, que o homem é responsável por essas alterações, principalmente devido às emissões de gases de efeito estufa (GEE), com as concentrações de dióxido de carbono (CO2) atingindo 400 ppm (partes por milhão) em 2013, valor 40% acima das concentrações máximas nos últimos 800.000 anos.

A queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) responde por 90% dessas alterações na composição da atmosfera, sendo 10% devido a alterações de uso do solo em florestas tropicais como a Amazônia, África Central e Oceania.

Em termos de prognósticos, os cenários realistas de emissões de GEE indicam que a temperatura de nosso planeta vai continuar a subir ao longo deste século, podendo atingir 4 graus centígrados em média até 2010, com algumas regiões aumentando 6-7 graus centígrados, como o Ártico.

Portanto, agora é a hora de agir concretamente, reduzindo o uso de combustíveis fósseis e usando os recursos naturais de maneira mais inteligente e eficiente, para que possamos delegar às gerações futuras um clima similar ao nosso. Não temos muito tempo. Com as concentrações de CO2 aumentando a 2 ppm a cada ano, quanto mais demorarmos a agir, mais altos serão os custos de adaptação e de redução de emissões.

O Brasil tem uma série de vantagens estratégicas neste campo, com uma matriz energética até o momento majoritariamente renovável, e com um potencial de exploração de energia eólica e solar elevados. Mas é necessário a implementação de políticas públicas efetivas para que o nosso país possa explorar adequadamente suas vantagens estratégicas. De maneira alguma, a questão das mudanças globais é apocalíptica ou catastrófica, mas é preciso agir para evitar essas possibilidades.

Reportagem Noticiosa

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