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No roçado indígena não existe incêndio florestal

Por Jociane Parintintin Publicado em: 02/12/2020 às 18:23

No roçado indígena não existe incêndio florestal

(Foto de Jociane Parintintin)

Neste ano, no momento da pandemia, participar do roçado é uma das atividades que faço. A roça Parintintin é uma das atividades mais praticadas pelo povo.

Para se fazer uma roça não é de qualquer jeito, pois o dono do roçado sai à procura de terra fértil e virgem ou uma capoeira, que é um tipo de mata onde já foi feito roça antigamente, há mais de 5 anos.

Quando a roça é na mata virgem, algumas vezes, se faz o puxirum (mutirão), que é a forma mais rápida de roçagem. No puxirum quase todos os homens da aldeia vão ajudar na roçagem.

A roçagem começa sempre nos meses de março e abril, depois preparamos a terra nos meses de maio e junho. A queimada da roça é no mês de agosto, mas é controlada e aqui não existe incêndio florestal.

A plantação é entre os meses de setembro e outubro. Às vezes o roçado não queima bem e aí precisa de coivara (limpeza do roçado) na parte que não queimou.

Na roça são plantadas várias sementes, como mandioca, macaxeira, banana, cará, milho, batata, abacaxi e outros que servem para o sustento familiar e geração de renda da família.

A roça pode ser perto ou longe da aldeia e isso depende do dono do roçado. Da plantação participam homens e mulheres, jovens, anciãos e crianças.

No momento de fazer a roça faz-se também o planejamento para buscar alimentação no território, que é caçar e pescar.

As roças Parintintin diferem de família para família: umas podem ser grandes e outras pequenas. Antigamente, até nos anos 2000, havia roça comunitária. Agora só tem roças familiares.

Por fim, é sempre bom manter limpo o roçado para ter um acesso na colheita e um resultado perfeito na produção.

O povo Parintintin vive em territórios a leste do rio Madeira até a boca do rio Machado, à leste do rio Maici, no sul do Amazonas. Segundo dados da Funai, em 1999 eles chegaram a ser 54 pessoas. Atualmente são mais de 500 pessoas. Elas se identificam como Kagwahiva e são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani.

O Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center

Jociane Parintintin

É líder das mulheres indígenas Parintintin da aldeia Traíra, na Terra Indígena 9 de Janeiro, no sul do Amazonas. É artesã e dançarina do Irerua, festa tradicional do seu povo. Tem o ensino médio completo e participou da primeira Oficina Jovens Cidadãs, em 2018.