Blog Jovens Cidadãos da Amazônia

O isolamento forçado dos Juma

Por Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau Publicado em: 26/10/2020 às 13:21

Aldeia Juma no rio Assuã (Foto de Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau/Amazônia Real)

Faz seis meses que não saio da Terra Indígena Juma, no sul do Amazonas. Estamos aqui desde abril, quando começou a evacuação, ou seja, desde que pediram para que todas as populações indígenas ficassem em quarentena.

Minha escola não tem previsão de quando vai ter aula presencial, porque em Humaitá tem mais de 3,5 mil casos confirmados. Aí complica para comerciantes, estudantes e as pessoas que trabalham. Tudo ficou difícil para nós, porque não podemos ir para a cidade.

Da aldeia até a cidade de Humaitá, a viagem é primeiro de barco num percurso de 40 minutos até a ponte do Assuã. Depois a viagem é de caminhonete. São mais de 120 quilômetros pela Rodovia BR-230, a Transamazônica.

Na aldeia Juma não tivemos acesso a ninguém, a nada, a não ser os da comunidade e profissionais da saúde. Recebemos a cesta básica da Funai (Fundação Nacional do Índio) e de outros órgãos como da Associação Kanindé, IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil).

Estamos correndo um grande perigo, porque se um de nós pegar essa doença [a Covid-19]… Creio que não pegue. A gente vai conseguir se manter até o fim dessa pandemia.

Na Aldeia Juma vivem cinco famílias. Minha mãe Boreha Juma é a cacique. Meu pai é Erowak Uru-Eu-Wau-Wau e tenho quatro irmãos, além do meu avó, minhas tias, meus tios e primos.

O que está faltando é a comunicação. É tudo através de rádio e hoje em dia quase ninguém está usando. É muito raro e o sinal é ruim. Pelo rádio, a gente não tem como entrar em contato com nenhuma autoridade. Só temos acesso a outras aldeias e isso não ajuda muito. O único sinal para celular é na ponte do Assuã, de onde consegui enviar esse texto para o Blog Jovens Cidadãos da Amazônia.

Vejo que a gente deveria ter uma instalação de internet para, quando surgir algum imprevisto, poder avisar os órgãos competentes, agentes de saúde, como a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e a Funai. Deveríamos ter uma instalação de internet com boa qualidade para podermos ter uma melhoria na nossa comunidade. Poderia ser via satélite ou uma torre instalada.

Também precisávamos de um outro gerador, porque o que a gente tem está esculhambando aos poucos. Tecnicamente, ficaremos sem o motor de luz.

Temos uma solução, mas não é muito provável que aconteça. A instalação de uma placa solar seria boa para nossa comunidade, uma energia renovável. Não poluiria o meio ambiente e não teria gasto.

Com essa instalação, poderíamos alumiar a noite nas atividades que sempre fazemos, como o preparo da pesca. E a internet permitiria entrar em contato com os órgãos e parentes, alguns de Rondônia. Cada um de nós necessita entrar em contato, porque não sabemos o que está acontecendo lá [na cidade de Humaitá] e nem eles aqui.

A família de Puré fazendo a refeição sem energia na aldeia (Foto: Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau/Amazônia Real)

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Este texto foi atualizado em 28/10 para correção do número de famílias que vivem na aldeia Juma e da distância entra o território e a cidade de Humaitá.

O Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center

Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau

Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau, 18 anos, é filho de Borehá Juma e Erowak Uru-Eu-Wau-Wau e reside na Terra Indígena Juma, em Canutama, no sul do Amazonas. É estudante do 2o. Ano do ensino médio, no curso de administração, no Instituto Federal do Amazonas (IFAM), em Humaitá (AM). Participou da Oficina Jovens Cidadãos em 2019. Desde 2020 é jovem comunicador do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia.