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Rede Lloiji Ruarïngo, valorizando os direitos das mulheres indígenas

Por Vanda Ortega Witoto Publicado em: 16/11/2020 às 21:11

Rede Lloiji Ruarïngo, valorizando os direitos das mulheres indígenas

Um relato sobre violação, identidade e resistência da cultura indígena na cidade grande

Sou indígena do povo Witoto, da Aldeia Colônia, no município de Amaturá, no Alto Solimões, no oeste do Amazonas. Atualmente moro no Parque das Tribos, a primeira comunidade indígena reconhecida como bairro pelo município de Manaus. Aqui vivem 30 povos indígenas, com uma média de 400 famílias. Coordeno uma rede chamada Lloiji Ruarïngo, que significa mulheres que cantam e dançam. Participam dessa formação mulheres de dez etnias, sendo elas Witoto, Munduruku, Tariana, Kokama, Dessana, Tukana, Sateré-Mawé, Baré, Piratapuia e Apurinã.

As mulheres indígenas que saem de seus territórios, de suas aldeias e são trazidas para trabalhar em casas de famílias, de forma às vezes escrava e vivenciando exploração do trabalho e exploração sexual, se veem num processo muito violento de violação do seu corpo, dos seus direitos e da sua identidade ao chegarem na cidade.

Longe de seus territórios e de sua casa, das suas famílias, da sua cultura, as mulheres indígenas se unem para buscar fortalecimento através do canto e da dança. O canto sagrado esfria o coração da humanidade e afasta os males para longe e alegra o nosso coração. A dança com os pés descalços nos faz sentir a mãe-terra, nos fortalece, nos conectando com os nossos espíritos sagrados que o concreto da cidade muitas vezes não permite. Com eles, através dos nossos cantos e danças, resistimos na cidade, fortalecemos nossa identidade e memória para que não esqueçamos quem somos, pois na cidade há uma grande invisibilidade dos nossos corpos. Há uma negação da nossa cultura e da nossa história que nos faz adormecer em nossos corações o ser Indígena.

Hoje, em cada encontro, os nossos corpos se fortalecem na compreensão e no reconhecimento do simbolismo dos nossos corpos sagrados e no fortalecimento da nossa Cultura nesse espaço da cidade onde nos negam o nosso.

Na rede Lloiji Ruarïngo, além da dança e dos cantos sagrados, buscamos fortalecer as nossas Artes através das nossas pinturas corporais e grafismos em roupas, dando o significado e ressignificando a nossa história nas manualidades dos nossos artesanatos que nos ornam e nos povoam de significados. Pois entendemos que o nosso corpo é um corpo preenchido de ancestralidade e em si um ato de resistência. Resgatamos e perpetuamos as culturas de cada etnia a partir das danças, do artesanato, da pintura, da costura e da nossa língua.

Lutamos para que as novas gerações de indígenas reconheçam e valorizem suas identidades. Nossos encontros potencializam as nossas vozes. A voz de cada mulher é ouvida para que a luta de uma seja de todas.

O nosso canto e a nossa dança nos fazem agir com a intenção de fortalecer a garantia dos direitos aos nossos territórios, pois o nosso corpo é o nosso território sagrado e habitamos nele com essa resistências que cantam e DANÇAM.

Mulheres da Rede Lloiji Ruarïngo (Fotos de Vanda Ortega Witoto/Amazônia Real)

O Blog Jovens Cidadãos da Amazônia é financiado pelo Rainforest Journalism Fund com apoio do Pulitzer Center

Vanda Ortega Witoto

Vanda Ortega é da etnia Witoto. Seu nome na língua materna é Derequine e significa formiga brava. Nasceu em Amaturá, na aldeia Colônia, território Witoto, no Amazonas. Formada em Técnica de Enfermagem, é acadêmica de Pedagogia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Faz parte da Coordenação dos Estudantes Indígenas do Estado do Amazonas (Meiam) e é articuladora política da Associação dos Witoto do Alto Solimões. Reside no primeiro bairro indígena de Manaus, o Parque das Tribos. Participou da Oficina Jovens Cidadãs em 2018. É colunista do Blog.