Economia e Negócios

MTE investiga suspeita de excesso de jornada na Arena da Amazônia

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vai realizar na manhã desta segunda-feira (16) uma perícia nas obras da Arena da Amazônia Vivaldo Lima e no Centro de Convenções do Amazonas, uma outra construção anexa ao estádio, para investigar as […]

Obra de montagem da cobertura da Arena está paralisada (Foto: José Zamith de Oliveira Filho - Faquini/Portal da Copa/Fotos Públicas)

Por Kátia Brasil Publicado em: 16/12/2013 às 00:09

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vai realizar na manhã desta segunda-feira (16) uma perícia nas obras da Arena da Amazônia Vivaldo Lima e no Centro de Convenções do Amazonas, uma outra construção anexa ao estádio, para investigar as causas das mortes de dois operários no fim de semana.

Em nota divulgada na noite de ontem (15), a Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa) informou que a Construtora Andrade Gutierrez está tomando as medidas cabíveis para a retomada completa da obra da Arena da Amazônia, interditadas parcialmente por medida liminar.

Há suspeitas de excesso de jornada de trabalho nos dois acidentes, segundo o MTE. Os cerca de 1.800 operários do estádio trabalham em ritmo acelerado para obedecer o cronograma de entrega da obra ao Governo do Amazonas em 15 de janeiro pela construtora Andrade Gutierrez.

Após as duas mortes, obras de serviços de montagem da cobertura e fachada da Arena da Amazônia foram interditadas ontem por determinação da Justiça do Trabalho.

É em Manaus que o MTE registrou a maior quantidade de mortes em obras de estádios para Copa do Mundo de 2014, num total de três só este ano. Em novembro morreram dois operários quando um guindastes do estádio do Corinthians tombou, em São Paulo. Um operáro morreu em junho após cair na obra do estádio de Brasília.

Na Arena da Amazônia Vivaldo Lima, o operário cearense Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, caiu de uma altura de cerca de 35 metros quando executava serviços de montagem na cobertura da Arena Amazônia Vivaldo Lima às 4h da madrugada de sábado (14).

O ajudante de carpintaria José Antônio da Silva Nascimento, 49 anos, morreu após sofrer um enfarte durante o trabalho no Centro de Convenções do Amazonas, também no sábado.

Em março desde ano, o pedreiro Raimundo Nonato Lima Costa, 49 anos, morreu após sofrer uma queda de uma altura de cinco metros quando se deslocava entre colunas de sustentação da obra.

Segundo Edson Rebouças, chefe da Fiscalização do MTE, é preciso apurar com rigor as causas das mortes na Arena Amazônia. Ele disse que auditores vão fazer uma análise do acidente, que é uma perícia para levantar as causas das mortes.

“Um acidente aconteceu na madrugada. Minha pergunta é: o trabalhador virou à noite ou estava começando no trabalho? Se ele virou, estava trabalhando com excesso de jornada. A fadiga é uma forma de embriaguez, o operário perde os reflexos. É fundamental saber a jornada do operário”, afirmou Rebouças.

A Justiça Federal determinou a interdição parcialmente das obras no estádio até que seja atestado, mediante laudo, o atendimento do requisitos mínimos e das medidas de proteção para trabalho em altura, segundo decisão que acatou pedido do Ministério Público do Trabalho.

Antes dos acidentes fatais, seis operários, sendo cinco estrangeiros, foram picados por abelhas durante os serviços na montagem da cobertura numa altura superior a 30 metros na quinta-feira (12). Três alemães, dois portugueses e um brasileiro, com idades entre 27 anos e 58 anos, foram medicados e liberados pelo Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto.

As obras da Arena da Amazônia Vivaldo Lima começaram em novembro de 2010. Com um custo de R$ 605 milhões, a inauguração está prevista para janeiro de 2014. No estádio jogarão, durante os jogos da Copa do Mundo, no tórrido mês de junho, as Seleções da Inglaterra x Itália, Camarões X Croácia, Estados Unidos x Portugal e Honduras x Suíça.

Desde o início da construção do estádio ocorre reclamações por parte dos trabalhadores, segundo o Sindicato da Construção Civil. Paralisações por parte dos operários foram motivadas por falta de fiscalização de segurança, assédio moral, falta de pagamento de horas extras e até de cestas básicas.

Em relatório deste ano, o Ministério Público do Trabalho classificou de precárias as condições de trabalho na obra, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Operários foram encontrados pelos fiscais sem equipamentos de proteção em locais de risco de queda.

A reportagem procurou as assessorias de imprensa da Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa) do Governo do Amazonas e da construtora Andrade Gutierrez para informar sobre as suspeitas de excesso na jornada de trabalho dos operários, mas nenhum representante falou sobre o caso.

Por meio de nota, a UGP Copa informou que o coordenador Miguel Capobiango esteve ontem no canteiro da Arena Amazônia acompanhando as perícias da Polícia Civil, que abriu inquérito.

A construtora Andrade Gutierrez comunicou que está promovendo a revisão dos procedimentos de segurança, treinamentos e equipamentos disponibilizados e exigidos pela empresa para o trabalho de seus funcionários e prestadores de serviços.

Sobre a decisão de interdição da obra pela Justiça, a UGP disse que foi imediatamente cumprida pela construtora, que está tomando as medidas cabíveis para a retomada completa da obra. Os demais serviços vão continuar normalmente a partir desta segunda-feira.

Segundo a UGP Copa, os procedimentos de segurança são continuamente exigidos na construção da Arena da Amazônia e que o impacto desta paralisação será mensurado após a suspensão do embargo parcial da obra.

Nome – O Diário Oficial Estado do Amazonas publicou na edição de quarta-feira (11) o nome de batismo do estádio de Manaus para Copa 2014, conforme lei aprovada na Assembleia Legislativa. Será Arena da Amazônia Vivaldo Lima, em homenagem ao antigo estádio, que foi demolido, e era mais conhecido como Vivaldão pelas torcidas. Vivaldo Lima (1877-1949) foi um médico, advogado, jornalista e desportista baiano que fez carreira política no Amazonas.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou nas TVs Educativa e Cultura e nos jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])