A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

O invisível tráfico de drogas

A Secretaria de Segurança Pública do Pará diz que apreendeu mais de 16 toneladas de drogas em pouco mais de três anos. Como nos três primeiros meses de 2022 foram 285 quilos, em três anos as apreensões nesse triênio foram […]

As suspeitas são que a construção estava sendo financiada por colombianos ligados a um grande esquema de tráfico de cocaína. A Polícia Civil vai investigar o crime. FOTO: ASCOM POLÍCIA CIVIL DATA: 17.12.2015 VIGIA - PARÁ

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 18/04/2022 às 11:45

A Secretaria de Segurança Pública do Pará diz que apreendeu mais de 16 toneladas de drogas em pouco mais de três anos. Como nos três primeiros meses de 2022 foram 285 quilos, em três anos as apreensões nesse triênio foram de 14,8 mil toneladas, com maior produtividade em 2021 sobre os dois anos anteriores.

Parece muito, mas pode não ser. Dá, em média, 400 quilos por mês, 13 quilos por dia. Considerando-se que essas apreensões são praticamente diárias, estaria confirmada a constatação de que a polícia está flagrando, prendendo e às vezes matando microtraficantes, que atuam no varejo, principalmente nas periferias urbanas. Mais visíveis, mais expostos, sem capacidade de reação e de contraofensiva.

Como já há algum tempo não se vê colombianos, bolivianos ou peruanos serem presos (nem os minissubmarinos, que levam a droga para além do litoral, para o outro lado do oceano), talvez a polícia não esteja atuando com a mesma eficiência no combate à importação de drogas, sobretudo cocaína. Nem atacando os grandes depósitos ou os locais de refino.

Talvez se a polícia sistematizasse as informações e fornecesse estatísticas completas e não dados fragmentados e genéricos, a sociedade poderia saber a situação real do tráfico e dos traficantes no Pará. Não há dúvida que o Estado continua a ser o ponto de transbordo de drogas, trazidas por embarcações fluviais, aviões de pequeno porte ou os minissubmarinos, dois dos quais já foram apreendidos, de uma numerosa frota baseada na Colômbia, Há muito tempo, porém, os estrangeiros que acompanham e monitoram a carga se tornaram invisíveis. Seus agenciadores também. Por que não são presos ou, pelo menos, identificados?

Além da tradicional exportação de narcotráficos diretamente para a Europa, há o comércio pelo litoral, no rumo norte, para as Guianas. Sempre tão intenso que a principal cidade na rota, Abaetetuba, próxima a Belém, é conhecida como a Medellin paraense.

Uma eventual redução desse fluxo na direção de outros países talvez se relacione ao crescimento dos garimpos de ouro e a atuação cada vez mais agressiva e audaciosa de garimpeiros na procura por ouro em reservas indígenas. O crescimento dos contingentes desses garimpos se tornou um mercado atraente para os traficantes. É flagrante o consumo de drogas antes dos ataques às aldeias e aos postos do governo.

O problema se agrava, sem uma atitude do governo proporcional a essa situação. A caçada diária a vendedores de drogas com seu estoque magro (de petecas de óxi ou cigarros de maconha), mas intensamente comercializado nas periferias pobres e desassistidas das grandes cidades amazônicas, cria a ilusão de que o tráfico está sendo bem combatido. Não há personagens graúdos nesses cenários sangrentos e brutais. Nem muito interesse da sociedade pela questão.

A Imagem que abre este artigo mostra um submarino do tráfico internacional de drogas carregado de cocaína que foi apreendido no rio Guajará Mirim, próximo a uma vila de pescadores no município de Vigia de Nazaré, a cerca de três horas de Belém, em dezembro de 2015 (Foto: Ascom Polícia Civil do Pará).

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Sobre a matéria

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.