A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

Os donos da Vale

O BNDES concluiu hoje (23) a sua retirada da mineradora Vale num momento em que o processo de desnacionalização da empresa se acentua, 24 anos depois da sua privatização. Do capital total da Vale, que é a maior exportadora de […]

O ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro e o novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, durante cerimônia de posse no Palácio do Planalto. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 23/02/2021 às 16:51

O BNDES concluiu hoje (23) a sua retirada da mineradora Vale num momento em que o processo de desnacionalização da empresa se acentua, 24 anos depois da sua privatização. Do capital total da Vale, que é a maior exportadora de minério de ferro do mundo, com capital de 88,6 bilhões de reais, a parte minoritária é nacional (de 40,03% depois da retirada do BNDESPar, a subsidiária de participações do BNDES). O controle acionário é estrangeiro e deverá se ampliar.

Em agosto do ano passado, o BNDESPar reduziu sua participação, que era de 6,12%, foi reduzida a 3,57%, do capital total e votante da companhia. Em novembro começou a alienar o restante da parte que ainda mantinha, acabando com a sua participação na Vale hoje. A imprensa não acompanhou as negociações de bastidores e foi surpreendida pelo anúncio.
Uma fonte anônima ouvida pela agência Reuters disse que o banco “aproveitou o momento favorável”, que lhe deve ter rendido mais de 25 bilhões de reais. Na verdade, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, que era acionista da mineradora desde a sua privatização, contribuiu para que à privatização se siga a desnacionalização da empresa.

É possível que, em seguida, sejam vendidos os 9,84% ainda mantidos pela Litela, empresa formada por três fundos federais de pensão (do Banco do Brasil, da Faixa e da Petrobrás). Restariam então os 5,56% do capital da Vale em poder da Bradespar, controlada pelo Bradesco.

Os restantes 24,63% são de milhares de pequenos investidores brasileiros, contra 35.71% de investidores estrangeiros, principalmente americanos. Mas 36,73% das ações estão em poder de acionistas com mais de 5% do capital da empresa.

Significa que a antiga Companhia Vale do Rio Doce, joia da coroa das empresas públicas brasileiras até abril de 1997, quando foi vendida na bacia das almas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, é cada vez menos brasileira e com poder decisório concentrado – fora do país.

A imagem que ilustra este artigo, mostra o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro e o novo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, durante cerimônia de posse deste último no Palácio do Planalto. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Sobre a matéria

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Belém (PA)

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.