Questão Agrária

Polícia confirma assassinatos de outros três moradores de área rural no Pará

Por Moisés Sarraf Publicado em: 26/03/2019 às 10:54

Na madrugada de sexta-feira (22), também foi assassinada Dilma Ferreira Silva, coordenadora do MAB (Na imagem acima, militantes do MAB fazem vigília no assentamento Foto: Raphael Zãn/MAB)

Mais três assassinatos foram confirmados na zona rural do município de Baião, no nordeste paraense, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) na segunda-feira (25). A Polícia Civil encontrou três corpos carbonizados em uma fazenda, situada nas imediações da vicinal da Martins, a cerca de 80 km da cidade de Tucuruí, onde está instalada uma empresa agropecuária. Com a confirmação, sobe para seis o número de assassinatos registrados em Baião em menos de uma semana.

“As vítimas são três funcionários da fazenda, cujos nomes ainda não foram divulgados”, informou a Segup por meio de nota, em resposta à agência Amazônia Real. Ainda no domingo (24), a reportagem da agência foi informada sobre as mortes, mas aguardou a confirmação do governo do Pará. Segundo a secretaria, as vítimas seriam um casal de caseiros e um tratorista.

A fazenda em que os corpos foram encontrados fica a cerca de 14 km do assentamento Salvador Allende, onde ocorreram os assassinatos da coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Dilma Ferreira da Silva, 45, do marido dela, Claudionor Amaro Costa da Silva, 43 anos, e do vizinho do casal, Milton Lopes, 38 anos, na madrugada da última sexta-feira (22). As vítimas foram esfaqueadas e amordaçadas. Além de degolada, há uma suspeita e que a ativista também tenha sido estuprada.

Testemunhas relataram a presença de seis homens que consumiam bebidas alcoólicas no mercadinho de Dilma e Claudionor na noite do crime, mas que ainda não foram identificados ou presos pela polícia do Pará.

“Até o momento, não é possível afirmar se existe relação entre os dois fatos criminosos, nem se os crimes são resultantes de conflitos agrários”, ressaltou a Segup. “Mas a Polícia Civil não descarta, neste primeiro momento, nenhuma linha de investigação e envidará todos os esforços e recursos para solucionar o mais rapidamente possível esses crimes.”

Para o coordenador do MAB em Tucuruí, Roquevam Alves Silva, o caso “é muito estranho porque são dois caseiros e um tratorista”, cujos corpos foram carbonizados. “Por mais que a gente procure entender o porquê desse assassinato, não se alcança uma explicação pra isso”, diz ele, ressaltando que “nessa região, pra margem esquerda do rio [Tocantins], faz muito tempo que não temos notícia de assassinatos de trabalhadores”. Há 12 anos não havia registros de morte por conflitos agrários na região.

Com a confirmação das mortes, o delegado-geral da Polícia Civil, Alberto Teixeira, deslocou-se para o município. Ele chefia uma força-tarefa composta por policiais civis da Diretoria de Polícia do Interior, do Grupo de Pronto-Emprego e da Divisão de Homicídios de Belém – esta divisão é que deve vai assumir as investigações. Segundo a Segup, o objetivo é reforçar a equipe da polícia que já investiga a onda de assassinatos na região.

Os corpos foram removidos para o Instituto Médico Legal (IML) em Tucuruí ainda na madrugada desta segunda-feira, 25. O instituto aguarda familiares para coleta de material genético que poderá confirmar a identidade das vítimas.

Repúdio aos assassinatos

Ainda no final de semana, organizações que defendem os direitos humanos se manifestaram sobre as mortes ocorridas em Baião. O Escritório para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos publicou, neste domingo (24), nota em que “condena os assassinatos da defensora de direitos humanos e coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragem, Dilma Ferreira da Silva, de seu marido Claudionor Amaro Costa da Silva e de Milton Lopes”.

A organização ainda cobrou das autoridades brasileiras a condução de uma “investigação completa, independente e imparcial sobre esses assassinatos, que leve à responsabilização dos autores do crime”. Ainda em nota, o escritório do Alto Comissariado ressaltou que o Estado brasileiro “tem a responsabilidade de garantir a proteção integral das pessoas defensoras de direitos humanos no país”.

No Pará, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota chamando “massacre” os assassinatos ocorridos no assentamento Salvador Allende.

“Que acresce a macabra e vergonhosa estatística de homicídio de defensores de direitos humanos no Estado do Pará”, diz a nota, assinada pelo presidente da OAB no Pará, Alberto Campos.

“A OAB-PA exige do Secretário de Segurança Pública do Estado, do Delegado-Geral da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado uma pronta resposta, com rigorosa investigação sobre o caso e a devida responsabilização dos algozes”, diz a OAB.

A diocese de Cametá, município vizinho a Baião, também publicou nota repudiando “veementemente a violência no campo, a qual anseia por uma solução e pacificação, considerando o sofrimento do povo da Amazônia, que faz clamar por uma presença de Estado e pela resolutividade dos inúmeros inquéritos de violência sem conclusão e punição dos culpados”. A diocese ainda cobrou apuração da Segup, da Polícia Civil e do Ministério Público.