Sindicalista diz que decisão da Hydro afetará empregos, mas que empresa tem que reparar danos ambientais

Por Amazônia Real Publicado em: 04/10/2018 às 20:26

Funcionários sabiam que depósito de resíduos de bauxita DSR 1 iria se exaurir com a alta produção das atividades (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Pedrosa Neto, colaboração para a Amazônia Real

Barcarena (PA) – Um dia após o anúncio da suspensão da produção da maior mineradora de bauxita do mundo, a reportagem encontrou na porta da indústria Hydro Alunorte trabalhadores atônitos e com medo das demissões, mas eles ainda não foram dispensados. A empresa, localizada em Barcarena, no nordeste do Pará, está funcionando. O presidente licenciado do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas (Sindiquímicos) em Barcarena, Gilvandro Brígida, disse em entrevista exclusiva à Amazônia Real que a decisão da empresa irá afetar 40 mil pessoas que dependem dos postos de trabalho nos setores da indústria química, da construção civil leve e pesada, metalúrgica, rodoviário, portuário, entre outros, mas destacou que a empresa tem que reparar os danos ambientais do despejo irregular de resíduos químicos dos depósitos no meio ambiente.

Para Gilvandro, o papel do sindicato não é defender a empresa, mas sim os postos de trabalho. “O transbordamento do depósito DRS1 impactou o meio ambiente. A Hydro precisa reparar os danos causados, mas que isso não implica no impedimento de suas atividades, uma vez que isso prejudicaria os trabalhadores, alguns, inclusive, moradores dessas mesmas comunidades”, disse.

Sindicalista fala para os funcionários na portaria da Hydro Alunorte, em Barcarena (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Barcarena tem mais de 120 mil habitantes. Há sete meses as comunidades tradicionais, muitas quilombolas, denunciaram a contaminação das águas pela poluição de despejo irregular de resíduos da produção de bauxita da Hydro Alunorte. Dois laudos do Instituto Evandro Chagas (IEC) apontam a contaminação dos mananciais da bacia do rio Pará. A mineradora tem 50% da produção embargada pela Justiça por danos ambientais, inclusive o deposito DRS2.

O sindicalista afirmou que o único viés econômico de Barcarena é a indústria Hydro Alunorte, que, segundo ele, emprega 6.000 trabalhadores contratados e 2.200 empregados diretos e indiretos que serão afetados. “Levando em consideração a família desses trabalhadores, seriam afetadas diretamente 40 mil pessoas”, disse o sindicalista.

A mineradora Hydro Alunorte, que tem como principal acionista o governo da Noruega e nega o crime ambiental, anunciou na quarta-feira (3) o fechamento das indústrias em Barcarena e Paragominas. A direção não disse quantos empregados irá dispensar, mas deixou claro que sua decisão é para reverter o embargo judicial, que abrange o depósito de rejeitos sólidos DRS2. Com a operação desse depósito a empresa diz que não paralisaria suas atividades.

A empresa justifica que o depósito de rejeitos sólidos DRS1, que está em atividade, tem a vida útil chegando ao fim. Segundo os Ministérios Públicos Federal e Estadual, a Hydro Alunorte deveria ter se programado antes da decisão e pedir o licenciamento completo do depósito DRS2. Leia a nota pública no final deste texto.

“A empresa não providenciou tal licenciamento e sem licença válida, o depósito não pode ser utilizado”, disse nota dos MP´s.

Trabalhadores da Hydro estiveram no Sindicato dos Químicos, em Barcarena (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

O sindicalista Gilvandro Brígida, que também é professor de sociologia, diz que os funcionário da Hydro Alunorte e da Mina Paragominas foram surpreendidos com a notícia que a empresa norueguesa iria fechar, mas conta que eles sabiam que “mais cedo ou mais tarde isto aconteceria o DRS1 ia exaurir”. “Com o embargo do DRS2 a empresa logo teria que parar suas atividades”, disse.

Com relação à possível suspensão das atividades da mineradora Hydro Alunorte, o sindicalista disse que se acontecer será paulatina para não danificar o maquinário.

“Os trabalhadores não têm culpa do que aconteceu. Não foram os trabalhadores que abriram válvulas para jogar os rejeitos no rio, não foram os trabalhadores que não se atentaram aos limites da legislação, então, o trabalhador não pode pagar pelo que está acontecendo, os trabalhadores não podem pagar por isso.”

Sobre as denúncias da poluição da empresa feitas pelas lideranças tradicionais de Barcarena, o sindicalista disse que as comunidades e os trabalhadores precisam andar juntos.

“Eles têm que se apoiar e cobrar da empresa uma postura responsável com o meio ambiente, garantindo uma produção sustentável, preocupada com o futuro, com meio ambiente, mas também com os empregos”, disse Gilvandro Brígida.

O que dizem as lideranças?

Bacia DRS2 da Hydro Alunorte (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Sandra Amorim, liderança da comunidade Quilombola Sítio São João, que há sete meses enfrenta as consequências da contaminação da água potável por causa do vazamento de resíduos tóxicos na bacia pela mineradora Hydro Alunorte, disse que ficou preocupada com a decisão da empresa de fechar as indústrias em Barcarena e Paragominas.

“A cidade vai ficar um caos [se a Hydro fechar]. Os trabalhadores precisam dos empregos. A gente fica entre a cruz e a espada. Eu quero que a Hydro se responsabilize pelo vazamento [de resíduos tóxicos] de fevereiro, mas também quero que os trabalhadores continuem trabalhando lá. Tenho parentes trabalhando dentro da Hydro, meu filho trabalha lá”, disse a Sandra.

Maria do Socorro Costa Silva, dona Socorro do Burajuba, como é mais conhecida, é representante da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama). Ela disse à agência Amazônia Real que o anúncio da suspensão das atividades da Hydro Alunorte é uma forma de pressão para o desembargo do depósito. “O DRS2 foi construída em cima de uma APP (Área de Preservação Permanente). As famílias quilombolas residiam lá e foram remanejadas”, disse.

Há sete meses, ela foi uma das lideranças que denunciou os danos socioambientais da mineradora. Dona Socorro se transformou em uma das maiores vozes de Barcarena. O remanejamento de famílias ao qual ela se refere saiu em uma liminar da Justiça a favor da Hydro para a construção do depósito DRS2. As famílias afetadas foram da comunidade do Tauá, que atualmente lutam pelo restabelecimento de uma parte do território.

Trabalhadores defendem a Hydro

Reunião ocorrida no Sindiquímicos com os trabalhadores da Hydro Alunorte, em Barcarena (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Nesta quinta-feira (4) em Barcarena, a empresa Hydro Alunorte não comentou sobre a repercussão de sua decisão de suspender a produção de bauxita. Em uma reunião com algumas lideranças comunitárias no Cabana Club, localizado em Vila dos Cabanos, representantes da mineradora e também da Albrás explicaram aos trabalhadores os motivos da paralisação do processo produtivo do alumínio nas duas indústrias. Os representantes das empresas pediram o apoio da população para derrubar o embargo da Justiça afirmando que não houve transbordamento e nem contaminação do meio ambiente em fevereiro de 2018.

Um funcionário da Hydro, Murilo Viegas, falou com a reportagem da Amazônia Real e defendeu a empresa. “Estou 18 anos nesta empresa e fico muito triste, num momento de tanta dificuldade nós ficarmos nesta situação. A gente tem tantos representantes em diversos escalões do governo e vemos que ninguém olhou pela gente. São mais seis meses de interdição do depósito DRS2. Os políticos praticamente viraram as costas e outros tiraram proveito da situação. Nossos companheiros de sindicatos foram pra luta, a empresa lutou, isso foi o que vi, não tivemos apoio de ninguém”, afirmou.

Nesta sexta-feira (5), trabalhadores da indústria Hydro Alunorte prometem fazer uma manifestação de defesa da empresa norueguesa na Vila dos Cabanos, em Barcarena. Segundo eles, a marcha pretende reunir as famílias dos trabalhadores, as comunidades afetadas, os comerciantes em protesto contra o depósito DRS2 pela Justiça.

MP´s reafirmam danos ambientais

Mineradora norueguesa Hydro, em Barcarena, em 18 de fevereiro (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Pará divulgaram uma nota pública esclarecendo questões sobre o embargo da Justiça em 50% da produção de beneficiamento de bauxita da empresa Hydro Alunorte, em Barcarena. Segundo os MP´s, a determinação foi necessária em vista dos comprovados despejos irregulares de efluentes não-tratados no meio ambiente. Leia a seguir a nota na íntegra:

“Os vazamentos comprovados se deram por meio de um tubo clandestino, um canal clandestino e um duto clandestino, todos funcionando irregularmente e utilizados pela empresa para despejo de efluentes;

– Não há dúvida sobre esses vazamentos, uma vez que diretores da própria Hydro confirmaram os fatos em depoimentos aos investigadores da força-tarefa formada pelo Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado do Pará, além de ser público e notório que o CEO da empresa admitiu à imprensa a confirmação dos despejos irregulares, ao ponto de ter pedido desculpas à sociedade de Barcarena;

– Os despejos irregulares comprovadamente causaram contaminação ambiental na região e danos às comunidades no entorno da fábrica da Hydro, atingindo inclusive o rio Pará, segundo o Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde;

– A empresa, por seu turno, até agora se omitiu em demonstrar às autoridades ambientais e aos investigadores a segurança de seu processo produtivo. A Hydro demorou seis meses, desde a constatação dos vazamentos, para aceitar um termo de ajustamento de conduta que prevê tão somente ações emergenciais e as auditorias que poderão comprovar a segurança para o funcionamento da sua planta industrial em Barcarena;

– Se a Hydro Alunorte sabia que a vida útil de seu primeiro depósito de rejeitos, chamado DRS1, estava chegando ao fim, deveria ter se programado para licenciar completamente o segundo depósito, o chamado DRS2; não providenciou tal licenciamento e sem licença válida, o depósito não pode ser utilizado;

– O licenciamento do depósito é uma exigência das leis ambientais brasileiras, que não preveem exceção para qualquer empresa;

– A demora da Hydro Alunorte em aceitar as auditorias atrasou a comprovação de segurança para a utilização do DRS2; sabendo disso, a empresa aceitou o risco de não fazer a preparação correta para o final da vida útil de sua bacia de rejeitos e não poderia pretender que as autoridades responsáveis pela fiscalização ambiental seriam negligentes com as suas responsabilidades perante a legislação ambiental e a população afetada pelos impactos dos vazamentos;

– De acordo com o TAC assinado pela Hydro Alunorte no último dia 5 de setembro, a empresa tinha o prazo de 30 dias para apresentar propostas de Termos de Referência e Planos de Trabalho para as várias auditagens previstas;

– Essas propostas serão avaliadas pela força-tarefa, pelo Estado do Pará e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, conforme estabelecido no item 8.15.1. do TAC. Quando essas propostas forem aprovadas, a Hydro terá 30 dias para dar início aos procedimentos de seleção das empresas de auditoria;

– E também é importante ressaltarmos que há obrigações que a Hydro deve cumprir independentemente da contratação de auditorias. Para essas providências, os prazos começaram a contar a partir da data da assinatura do TAC. As obrigações com prazos que já vencem em outubro são: pagamento às famílias descrito no item 2.1.2. do acordo, avaliação da eficiência de contenção das leiras (item 3.2.1.), apresentação da caracterização da torta gerada pelo filtro tambor e filtro prensa em termos de ensaio de lixiviação (item 4.2.1), e apresentação de resultado da auditoria interna (item 4.2.3.).”

Leia a íntegra do TAC assinado pela Hydro no dia 5 de setembro.

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Reportagem Noticiosa

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