Philip M. Fearnside

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 10: Extrativismo como alternativa para áreas florestais

A manutenção da floresta amazônica requer a manutenção dos povos tradicionais que a habitam. O valor dos serviços ambientais da floresta oferece uma oportunidade para apoiar essas pessoas por meio de recursos obtidos de fontes externas ao atual orçamento nacional, […]

Xapuri AC - 30.06.2018 - Fim de tarde em Xapuri AC. No dia 22 de dezembro de 1988, o seringueiro e ambientalista, Chico Mendes era morto por um tiro em sua casa. Neste ano de 2018 varias organizações se reunem para montar uma agenda em homenagem aos 30 anos de sua morte. Eventos devem ocorrer em Xapuri, cidade onde o ambientalista nasceu e faleceu, na capital do seu estado Rio Branco e em todo Brasil. Foto Bruno Kelly/Amazonia Real.

Por Philip Martin Fearnside Publicado em: 18/02/2020 às 19:07

A manutenção da floresta amazônica requer a manutenção dos povos tradicionais que a habitam. O valor dos serviços ambientais da floresta oferece uma oportunidade para apoiar essas pessoas por meio de recursos obtidos de fontes externas ao atual orçamento nacional, ao contrário dos subsídios que hoje são concedidos ao agronegócio e a outros grupos [1,2].

A extração de produtos florestais não-madeireiros, como a borracha, pode gerar algumas receitas, mas o valor comercial desses produtos é insuficiente para tornar o extrativismo financeiramente atrativo por si só, e a produção dos produtos ou substitutos deles em plantações ou como produtos sintéticos é geralmente mais barato [3].

Ao invés de uma fonte eficiente de commodities, o argumento para as reservas extrativistas está no valor de manter a floresta e seus serviços ambientais [4].

O maior desafio em subsidiar usos sustentáveis, como a extração de borracha, é social e institucional, em vez de ser na justificação do valor dos serviços ambientais adquiridos. São necessários meios para assegurar que os fundos sejam utilizados de forma a evitar efeitos perversos, como atrair uma migração de potenciais beneficiários.

Mecanismos de controle social dentro das comunidades extrativistas precisam ser eficazes para evitar que os próprios membros da comunidade se tornem desmatadores, e isso já está começando a corroer os benefícios ambientais das reservas extrativistas em alguns casos [2]. [5]

Subsidiar usos sustentáveis, como a extração de borracha, é social e institucional
(Foto divulgação)

Notas

[1] Fearnside, P.M. 1989b. Extractive reserves in Brazilian Amazonia: An opportunity to maintain tropical rain forest under sustainable use. BioScience 39(6): 387-393.

[2] Fearnside, P.M., E.M. Nogueira & A.M. Yanai. 2018. Maintaining carbon stocks in extractive reserves in Brazilian Amazonia. Desenvolvimento e Meio Ambiente 48: 446-476.

[3] Homma, A.K. 1994. Plant extraction in the Amazon: Limitations and possibilities. p. 34-57 In: M. Clüsner-Godt & I. Sachs (eds.) Extractivism in the Brazilian Amazon: Perspectives in Regional Development. MAB Digest 18. United Nations Educational and Scientific Organization (UNESCO), Paris, França. 88 p.

[4] Fearnside, P.M. 1996c. “Extractivism in the Brazilian Amazon: Perspectives on Regional Development” edited by Miguel Clüsener-Godt and Ignacy Sachs. Environmental Conservation 23(4): 379-380.

[5] As pesquisas do autor são financiadas apenas por fontes acadêmicas: Conselho de Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: 305880/2007-1, 575853/2008-5; 573810/2008-7; 304020/2010-9), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam: 708565) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ13.03). Este texto faz parte de um capítulo de um livro da Embrapa Amazônia Oriental [6].

[6] Fearnside, P.M. 2020. A sustentabilidade da agricultura na Amazônia: Meus pensamentos.Contribuição para: Alfredo King Homma (ed.) Sinergias de Mudanças na Agricultura Amazônica, Embrapa Amazônia Oriental, Belém, Pará.

A fotografia que abre este artigo é das seringueiras, em Xapuri, no Acre

(Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Leia os artigos da série:

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 1: Resumo da Série

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 2: Limites físicos

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 3: Processos sociais que levam à perda de sustentabilidade

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 4: O perigo de mudar para caminhos insustentáveis

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 5: Alternativas para áreas já desmatadas

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 6: Intensificação da produção

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 7: Biodiversidade como Alternativa para áreas florestais

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 8: Fornecimento de água como alternativa para áreas florestais

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 9: Armazenamento de carbono como alternativa para áreas florestais

Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis aqui.

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Sobre a matéria

Philip Martin Fearnside

É doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 600 publicações científicas e mais de 500 textos de divulgação de sua autoria que podem ser acessados aqui. https://philip.inpa.gov.br