Povos Indígenas

Vale do Javari: Possuelo diz que investigação de ataque a índios tem que ser imediata, não pode esperar um mês, dois meses… “Trata-se de vidas humanas”  

Amazonia Real Por Kátia Brasil Publicado em: 22/09/2017 às 00:39
Kátia
Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])

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5 Comentários

  1. Céu D'Ellia disse:

    Seres humanos, inclusive crianças, sendo exterminados como ratos, neste exato momento, no Brasil? E isso não está na primeira página de todos os jornais, todos os dias, por que? Por que esse descaso com os indígenas isolados do Javari?
    Nós não aprendemos nada com o massacre dos Pataxó em 1951? Dos Yanomami em 1993? E quantos outros, que são fantasmas presentes no karma de nossa história?
    Qual o objetivo desse massacre? Quem está interessado nessas mortes?
    Essa coisa, estranhamente apelidada Governo Temer, esvaziou os recursos que protegiam a floresta do Vale do Javari e seus moradores, brasileiros inocentes. E fala-se em atrasar as investigações, sabendo-se que os corpos desaparecem rapidamente na floresta.
    E antes que os que gritam “Fora Temer” se inflamem porque questiono (mais até a própria existência, do que a legitimidade) desse suposto presidente, não vamos nos esquecer de Belo Monte. E das costas voltadas a Altamira, e aos legítimos direitos constitucionais dos indígenas do Xingú afetados pela barragem. Quantos de vocês não desprezaram quem denunciou os crimes cometidos então, a pretexto de blindar a Sra. Rousseff e seu mentor?
    A realidade é que essas barbáries não se resumem aos interesses mesquinhos que governam o Brasil. A floresta não é depredada por tecnologia obsoleta, e os indígenas exterminados como praga, apenas por causa do apelo do dinheiro de mineradoras internacionais, que enriquece tão somente a meia dúzia de sempre. Há muito mais aí.
    Há o preconceito contra os povos indígenas. Há o desprezo por sua sabedoria, seu conhecimento, sua espiritualidade, seus valores, seu direito de serem considerados seres humanos iguais aos outros.
    O racismo contra os povos indígenas é tão imensamente grande, que nem é percebido. Não há referencia para essa consciência.
    Simplesmente porque ainda repetimos a mesma convicção civilizatória de sempre. Nossa velha arrogância, de sempre. Como se esta nossa pretensa civilização não estivesse na eminência de conhecer apenas seus próprios escombros. Como se os medicamentos apenas acessíveis a quem tem muito dinheiro, e o ópio legalizado dos gadgets eletrônicos e dos super-heróis de araque, acrescentassem uma gota de paz a este mundo. Como se os discursos intelectuais dos tão sabidos estivessem alguma vez livres do seu próprio veneno narcísico.
    Como se esse modelo falido justificasse o extermínio daqueles que nunca se renderam a essa ilusão.
    Enquanto continuamos a ladrar uns contra os outros nas redes sociais, e testemunhamos, cúmplices, psicopatas de todos os matizes tomarem o poder em governos de todo o mundo, também podemos olhar com novos olhos os indígenas do Brasil. Ter um gesto de humanidade e deter, imediatamente, essa atrocidade no oeste do Amazonas. Há muito mais em jogo do que talvez sequer possamos entender.
    Não haverá Brasil enquanto não existir respeito pelos povos indígenas.
    Talvez algumas crianças agradeçam a gente um dia.

  2. NILTON SANT ANA disse:

    Exterminar populações nativas para ocupar seus territórios é uma tradição brasileira. Começou no ano de 1500, quando o explorador português desembarcou da caravela e avistou no litoral da Bahia índios que habitavam há séculos as terras anunciadas como recém-descobertas. Apesar de ser tratado como herói e de receber homenagens em monumentos por suas épicas caminhadas através do território brasileiro, o bandeirante foi antes de tudo um genocida. Entrava nos sertões à frente de uma comitiva armada e buscava populações indígenas. Ao encontrá-las, destruía aldeias, trucidava homens, mulheres e crianças indistintamente, aprisionava os sobreviventes e os conduzia cruelmente até os engenhos de cana-de-açúcar onde os vendia como escravos. A indiferença ao extermínio dos povos originários foi amparada na Doutrina da Guerra Justa, utilizada pelo conquistador para banalizar a morte dos pagãos resistentes à chegada do progresso. Pagãos, infiéis, gentios bárbaros ou bugres eram chamados todos os povos que não compartilhavam com o colonizador religião, idioma e costumes e chegada do progresso significava a ocupação de suas terras pelo estrangeiro invasor. A História do Brasil precisa ser revista para revelar interpretações mais verossímeis do que as apresentadas nos livros didáticos, omissos em relação à política genocida praticada pelo Estado Brasileiro contra os povos originários. Índios avistados nos semáforos das cidades brasileiras, pedindo esmolas para garantir a sobrevivência, provam que a tradição continua, porém com versão atualizada. Chegada do progresso significa, hoje, expulsar populações indígenas de suas terras, derrubar a floresta e implantar nelas atividades altamente lucrativas que destroem o meio ambiente e desestruturam a organização social indígena. Quem lucra com a mineração à base de mercúrio que contamina rios e lagos onde os índios pescam e bebem; com o comércio clandestino de madeira e carvão que reduz florestas inteiras a montes de toras e brasas; com a plantação extensiva de milho e soja que abusa dos agrotóxicos e torna o Brasil o maior consumidor de venenos do planeta, e com os projetos de usinas hidrelétricas que são construídas sem respeitar estudos de impacto ambiental e social ?

    http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-09-25/construcao-de-rodovias-no-governo-militar-matou-cerca-de-8-mil-indios.html

  3. Idnilda disse:

    Por fim uma matéria dentro da realidade, destacando:
    Amazônia Real – E se ao final das investigações, a Polícia Federal concluir que não houve o massacre?

    Sydney Possuelo – De certa forma esses alarmes têm um lado positivo, que é o de alertar as autoridades de que ainda os massacres são possíveis. A nossa história está cheia disso. A nossa história está repleta de ataques contra os povos indígenas.

    Parabéns pela matéria!

  4. Elaine disse:

    As notícias são tristes, mas a matéria é ótima. Parabéns por divulgar as atrocidades ocorridas no Vale do Javar e por trazer Sydney Possuelo para confirmar o descaso do Estado com as populações mais vulneráveis do Brasil.

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