O último seringueiro

Ao navegar pelo rio Jaci-Paraná (RO), a impressão é a de que toda a região encontra-se bastante preservada pela densa floresta nas duas margens.

Procurar o último morador da Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná é o desafio a que se impõe a reportagem da agência Amazônia Real.

Para se chegar à Resex, o ponto de partida é o distrito de Jaci Paraná, a 80 quilômetros de Porto Velho. A presença das grandes propriedades de gado e soja faz o vilarejo respirar o agronegócio.

Em 2021, a Resex apresentava uma perda de mais de 80% de cobertura florestal, tendo parte de suas matas já sido convertidas em pastagem.

Só em outubro do ano passado foram registrados 206 focos de incêndio na reserva, segundo dados do Projeto Queimadas/Inpe.

Após três horas subindo o rio, chega-se à casa do seringueiro Almir Chaves de Melo. Apenas ele e sua companheira moram ali.

"Antes a gente tinha os nossos vizinhos que viviam da mesma profissão. Hoje em dia não. A gente só vive rodeado por fazendeiros. Acabaram com a floresta, acabaram com tudo", explica Almir Chaves.

Os demais seringueiros foram sendo pressionados pelos invasores e foram embora. Conforme lembra Almir, a resex Jaci-Paraná chegu a contar com mais de 30 famílias cadastradas.

"Hoje, tem que lutar muito. Naquele tempo era mais fácil. Você tinha muito mais floresta. Você tirava um cipó, uma castanha, uma copaíba. Tudo que era de extrativismo aqui nessa região acabou""

Almir Chaves chegou à Resex em 1999. Buscava um lugar onde pudesse viver do extrativismo. Mas nem o fato de ali ser uma área protegida o livrou da ação dos grileiros.

"As áreas de reserva que sobravam mesmo é só essa que eu estou aqui. O resto é só campo, só gado", diz o último seringueiro de Jaci-paraná.

ilustrador

Fernando Rocha

imagem da queimada

Reprodução Yura Ni-Nawavo Marubo