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Morte na Arena suspendeu inauguração, mas gestor da Copa nega

Por Kátia Brasil Publicado em: 13/02/2014 às 21:15

O principal gestor do Governo do Amazonas para o projeto da Copa do Mundo de 2014 em Manaus, Miguel Capobiango, disse nesta quinta-feira (13) que a terceira morte por acidente de trabalho de operário, contratado para a obra da Arena da Amazônia Vivaldo Lima, não teve relação com a decisão do governador Omar Aziz (PSD) de suspender, em cima da hora, a inauguração do estádio pela presidente da República, Dilma Rousseff.

A presidente Dilma Rousseff visitará o estádio na tarde desta sexta-feira (14), data em que se completa uma semana da morte do técnico português Antonio José Pita Martins, no dia 07. A reportagem do Amazônia Real apurou que ela declinou da programação de inauguração da Arena quando soube, na segunda-feira (10), da morte do operário pelo governador Omar Aziz e não pela Construtora Andrade Gutierrez, responsável pela construção estádio.

Durante a visita da Presidente da República ao estádio, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais prometem fazer manifestações contra a obra, orçada em R$ 669,5 milhões.

O gestor da UGP (Unidade Gestora do Projeto) Copa Manaus, Miguel Capobiango, afirmou ao Amazônia Real que a suspensão da inauguração da obra do estádio, pela terceira vez, é em razão da construção estar com 96,95% concluída, faltando apenas 3% para finalização.

“Não tem relação nenhuma com a questão do falecimento do Antônio Martins. Infelizmente, ele faleceu no espaço externo da obra e, num momento, inclusive, em que já não estava mais trabalhando na obra. Ele estava desmobilizando o equipamento (guindaste) com que trabalhou na obra. Veio a falecer numa situação muito triste para todos nós, mas não tem relação com a questão da obra”, afirmou.

Na segunda-feira (10), citando as mortes na Arena da Amazônia, o governador declarou à imprensa a suspensão da inauguração. Ele comunicou à assessoria da presidente Dilma Rousseff sua decisão, o que deixou a própria equipe de Capobiango surpresa, pois ele havia anunciado em uma rádio que estava tudo preparado para a cerimônia oficial.

No telefonema com assessores da presidente, Aziz comentou sobre as mortes na Arena dizendo que não adiantava pressa. “Recebi uma ligação da assessoria da presidente dizendo que ela está disponível para vir a Manaus. Se ela quiser vir só para o Viver melhor, está bom. Só vamos entregar a obra quando ela estiver 100% pronta. Não há condições de entregá-la do jeito que está. Todo esforço foi feito e nós perderíamos, porque a própria imprensa diria que tem coisas inacabadas. Já passamos por tantas coisas, vidas foram perdidas, não adianta pressa agora”, afirmou Aziz sobre o telefonema.

O gestor da UGP Copa disse que não tem previsão de data para inauguração da obra. Ele explicou o que falta para completar os 100% do cronograma da obra. “Nós estamos na fase final, mas existe detalhes como nas membranas da cobertura, pinturas nos forros, testes de ar condicionado, fixação de assentos do camarote, além da conclusão de conexão da rede elétrica. Já fizemos o primeiro teste de iluminação do campo, que foi um êxito”, afirmou Miguel Capobiango.

Sobre possíveis manifestações previstas para esta sexta-feira (14) no entorno da obra durante a visita da presidente Dilma Rousseff, o gestor da Copa de Manaus afirmou que desconhecia possíveis protestos.

“Não acredito que haverá protestos. Vai ser uma visita muito rápida. Ela vai prestigiar a obra, vai conhecer e eu tenho certeza que ela vai se surpreender”, afirmou. “Todos os protestos são legítimos, as pessoas têm direito de se manifestar. O que não concordamos é com baderna. Contra baderna haverá posição dura”, completou Miguel Capobiango.

Esta é terceira vez que o governo do Amazonas suspende a programação de inauguração da Arena da Amazônia. A primeira data prevista foi no mês de junho de 2013. Depois, foi adiada para dezembro do ano passado.

Três mortes por acidente de trabalho foram registradas na obra da Arena da Amazônia, a maior quantidade em todos as obras de estádios do país, Em dezembro do ano passado, a inauguração foi suspensa após a morte do operário Marcleudo de Melo Ferreira, 22. Ele caiu de uma altura de 35 metros na cobertura do estádio no dia 14 de dezembro. Antes, no mês de março do ano passado, morreu o operário Raimundo Nonato Lima da Costa, 49, que sofreu uma queda de um andaime, altura de cinco metros. Com os dois acidentes, que aconteceram à noite, o Ministério Público do Trabalho proibiu serviços realizados na cobertura do estádio durante o período noturno, atrasando o cronograma da obra.

Operários continuaram trabalhando no dia do acidente com o técnico português (Foto: Alberto César Araújo)

O técnico português Antonio José Pita Martins, 55, morreu no dia 7 de fevereiro. Uma peça de um guinaste que ele desmontava caiu sobre seu corpo, provocando trauma encefálico e múltiplas lesões no tórax.

O procurador do Trabalho Jorsinei Dourado do Nascimento, que esteve no canteiro de obra no dia da morte de Martins, disse que a empresa responsável Construtora Andrade Gutierrez tentou alterar a cena do acidente do técnico português. A empresa não se posicionou sobre a acusação.

Ao falar em entrevista à BBC Brasil, em janeiro último, sobre as duas primeiras mortes, Miguel Capobiango culpou os “operários relaxados” pelas mortes na obra da Arena da Amazônia Vivaldo Lima. “Ficou claro que os dois aconteceram por uma falta de observação da segurança do próprio trabalhador, ele tomou a decisão de relaxar e isso não pode acontecer”, afirmou o gestor.

A reportagem procurou a empresa responsável pela obra da Arena, Construtora Andrade Gutierrez para informar em que data o estádio será entregue pronto ao governo do Amazonas. Ela disse que só a UGP Copa pode falar sobre o assunto.

Agenda da Presidente da República

Presidente Dilma Rousseff disse que o “Brasil fará a Copa das Copas” (Roberto Stuckert Filho/PR/Fotos Públicas)

A presidente da República Dilma Rousseff chegou na noite desta quinta-feira à cidade de Manaus. Ela não teve contato com a imprensa e foi pernoitar num hotel na zona oeste da cidade. Amanhã (14) às 9h30 (horário local), ela inaugura o conjunto habitacional do Programa Minha Casa, Minha Vida com 5.384 moradias no bairro Santa Etelvina, na zona norte de Manaus. Ela cumpre a agenda de visita a Arena da Amazônia às 14h30. Depois inaugurada um barco-escola do Batalhão de Operações Ribeirinhas da Marinha e retorna para Brasília.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])