Meio Ambiente

Águas do rio Mamoré agravam enchente em Porto Velho, diz INPE

Por Kátia Brasil Publicado em: 24/03/2014 às 19:00

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou alerta no final de semana para Defesa Civil Nacional informando que a enchente no rio Madeira tornou-se mais crítica nos últimos dias com a chegada das águas do rio Mamoré na região de Porto Velho, em Rondônia.

O alerta mostra que não há previsão da vazante (descida das águas) do rio Madeira, que atingiu nesta segunda-feira (24) o nível de 19,55 m_ quase o dobro da cota normal, que é de 10 m. Cerca de 20 mil pessoas (ou 4.000 famílias) estão atingidas pelas inundações de casas, comércios e áreas de agropecuária, segundo a Defesa Civil Municipal.

Com nascente na Bolívia, o Mamoré é importante formador de tributários do rio Madeira, incluindo os rios Madre de Dios (Peru), Beni (Peru) e Guaporé (Mato Grosso). Segundo o Inpe, imagens recentes do satélite Landsat 7 mostram áreas atualmente inundadas pelo rio Mamoré vazando para o rio Madeira.

De acordo com o Inpe, a Divisão de Sensoriamento Remoto tem avaliado imagens de satélite com o intuito de ajudar a antecipar medidas de emergência que são tomadas pela Defesa Civil.

No dia 15 de março o pesquisador Oton Barros analisou a imagem abaixo do Serviço Geológico Americano (USGS). A imagem mostra em azul escuro e em negro a superfície inundada do rio Madeira. Em verde, no entorno da calha do rio, matas inundadas pela cheia do rio Mamoré. “Essas águas ainda alimentarão a cheia histórica do rio Madeira” afirma o pesquisador.

Fenômeno causou cheia no Norte

Procurado pela reportagem do Amazônia Real, o Grupo do Clima do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec) do Inpe explicou o motivo da enchente excepcional do rio Madeira, jamais vista em 47 anos de monitoramento da bacia amazônica em Rondônia.

Para a Defesa Civil, especialistas, procuradores e juízes, os níveis dos reservatórios das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau podem ter contribuído para o agravamento das inundações e das erosões das margens do rio Madeira no município de Porto Velho (RO), que está sob decreto de calamidade pública reconhecido pela Defesa Civil Nacional.

Segundo o Grupo do Clima, a enchente do rio Madeira está associada ao fenômeno denominado Alta da Bolívia, que é um bloqueio atmosférico típico do verão. Este ano o bloqueio também foi responsável pela falta de chuva na região central do Brasil, que provocou forte calor em cidades como o Rio de Janeiro.

Conforme o Grupo do Clima, no mês de janeiro deste ano esse bloqueio foi observado em altos níveis da atmosfera, em torno de 12 quilômetros de altura, formando uma barreira.

“O bloqueio atmosférico Alta da Bolívia, ao se deslocar para oeste em relação à sua posição climatológica, favoreceu a formação de intensa atividade convectiva e formação de nuvens precipitantes, principalmente na Bolívia, região bastante afetada. Os rios Beni e Madre de Dios deságuam no rio Madeira, ocasionando o aumento (do nível das águas) deste último”, diz o texto do Grupo do Clima que foi elaborado pelos meteorologista Ariane Frassoni dos Santos de Mattos e Fabio Rocha.

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), no mês de janeiro as chuvas foram intensas em Porto Velho e Rio Branco (AC), que também sofre com a cheia do rio Acre, que nasce no Peru. O instituto disse que naquele mês choveu 512 mm (milímetros) na capital acriana, 57% acima da média normal (325 mm). No mesmo período em Porto Velho choveu 416,4 mm, 20% maior que o índice normal (346,9 mm).

O Grupo do Clima do Inpe afirma que as chuvas nos meses de fevereiro e entre 1º. e 21 de março em Porto Velho estão abaixo da média normal, confirmando a influência do fenômeno Alta da Bolívia na enchente do rio Madeira. Em fevereiro choveu 191,80 milímetros na capital rondoniense, 64% abaixo da média normal que é de 316 mm. Já a média do mês de março é de 273,9 mm e choveu de 1º. a 21 de março apenas 87,8 mm

Chuvas no Acre

O Estado do Acre também foi atingido pela enchente do rio Madeira. As águas inundaram a rodovia BR 364 (liga Rio Branco a Porto Velho), interditando o acesso de veículos entre as cidades e prejudicando o abastecimento de alimentos no Acre.

A cheia do rio Acre atingiu 11 municípios, incluindo a capital Rio Branco, que teve 19 bairros afetados. Segundo o governo estadual, 5.812 pessoas foram encaminhadas para abrigos e outras 896 ficaram desalojadas.

Para o meteorologista Gustavo Ribeiro, do 1º. Distrito do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) em Manaus (AM), as chuvas no mês de fevereiro foram abaixo do normal em Rio Branco: 229 mm para uma média normal de 373 mm “Consideramos um mês ligeiramente seco”.

Com base na análise de dados de chuva dos últimos três e seis meses, Gustavo Ribeiro afirma que em Rio Branco as chuvas estão dentro do normal. “Com isso podemos concluir que, não são as chuvas dos últimos meses (período chuvoso) que estão causando este elevados nível dos rios e sim, que a vazante (seca de 2013) foi abaixo da média”, afirmou o meteorologista do Inmet.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])