Philip M. Fearnside

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 8: Fornecimento de água como alternativa para áreas florestais

A Floresta Amazônica recicla uma quantidade de água aproximadamente 50% maior do que a vazão do rio Amazonas na sua foz, e uma quantidade aproximadamente igual à vazão no “Encontro das Águas” perto de Manaus é transportada para fora da […]

Por Philip Martin Fearnside Publicado em: 04/02/2020 às 20:35

A Floresta Amazônica recicla uma quantidade de água aproximadamente 50% maior do que a vazão do rio Amazonas na sua foz, e uma quantidade aproximadamente igual à vazão no “Encontro das Águas” perto de Manaus é transportada para fora da Bacia Amazônica, aproximadamente metade dela passando para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e para países vizinhos como a Argentina [1, 2].

Este transporte é principalmente pelo jato sul-americano de baixo nível (SALLJ) [3, 4]. Isso ocorre principalmente em dezembro, janeiro e fevereiro (estação chuvosa no sudeste do Brasil) quando se enchem os reservatórios que fornecem energia hidrelétrica e abastecimento doméstico de água às maiores cidades brasileiras.

Durante esse período crítico do ano, até 70% da precipitação em São Paulo é derivada do vapor de água transportado da Amazônia pelos “rios voadores” do SALLJ ([5]; ver também: [6, 7]).

Se a floresta amazônica fosse convertida em agricultura e pecuária, esse transporte acabaria. Isso fornece amplas razões para o governo brasileiro tomar medidas efetivas para acabar com o desmatamento.[8]

Notas

[1] Fearnside, P.M. 2004. A água de São Paulo e a floresta amazônica. Ciência Hoje 34(203): 63-65.

[2] Fearnside, P.M. 2015. Rios voadores e a água de São Paulo Amazônia Real [Série completa]

[3] Arraut, J.M., C.A. Nobre, H.M. Barbosa, G. Obregon & J.A. Marengo. 2012. Aerial rivers and lakes: Looking at large-scale moisture transport and its relation to Amazonia and to subtropical rainfall in South America. Journal of Climate 25: 543-556.

[4] Marengo, J.A., W.R. Soares, C. Saulo & M. Nicolini. 2004. Climatology of the low-level jet East of the Andes derived from NCEP-NCAR reanalyses: Characteristics and temporal variability. Journal of Climate 17(12): 2261-2280.

[5] Ent, R.J. van der, H.H.G. Savenije, B. Schaefli & S.C. Steele-Dunne. 2010. Origin and fate of atmospheric moisture over continents. Water Resources Research 46: art. W09525.

[6] Keys, P.W.; van der Ent, R.J.; Gordon, L.J.; Hoff, H.; Nikoli, R.; Savenije & H.H.G. 2012. Analyzing precipitationsheds to understand the vulnerability of rainfall dependent regions. Biogeosciences 9: 733–746. https://doi.org/10.5194/bg-9-733-2012

[7] Zemp, D.C., C.-F. Schleussner, H.M.J. Barbosa, R.J. van der Ent, J.F. Donges, J. Heinke, G. Sampaio & A. Rammig. 2014. On the importance of cascading moisture recycling in South America. Atmospheric Chemistry and Physics 14: 13.337–13.359.

[8] As pesquisas do autor são financiadas apenas por fontes acadêmicas: Conselho de Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: 305880/2007-1, 575853/2008-5; 573810/2008-7; 304020/2010-9), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam: 708565) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ13.03). Este texto faz parte de um capítulo de um livro da Embrapa Amazônia Oriental [9].

[9] Fearnside, P.M. 2020. A sustentabilidade da agricultura na Amazônia: Meus pensamentos.Contribuição para: Alfredo King Homma (ed.) Sinergias de Mudanças na Agricultura Amazônica, Embrapa Amazônia Oriental, Belém, Pará.

A imagem que abre este artigo é da Floresta Amazônica (Adriano Gambarini/WWF)

Leia os artigos da série:

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 1: Resumo da Série

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 2: Limites físicos

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 3: Processos sociais que levam à perda de sustentabilidade

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 4: O perigo de mudar para caminhos insustentáveis

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 5: Alternativas para áreas já desmatadas

Sustentabilidade da agricultura na Amazônia – 6: Intensificação da produção

Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis aqui.

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Sobre a matéria

Philip Martin Fearnside

É doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 600 publicações científicas e mais de 500 textos de divulgação de sua autoria que podem ser acessados aqui. https://philip.inpa.gov.br