A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

A tragédia do Amapá

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 27/11/2020 às 15:01

A imagem é de uma das manifestações populares contra o apagão em Macapá

(Foto de Rudja Santos/Amazônia Real)

É óbvio que os órgãos governamentais do setor elétrico falharam gravemente no acompanhamento e fiscalização do sistema de transmissão e distribuição de energia que provocou o blecaute no Amapá no dia 3 e persistiu por quase três semanas, causando prejuízos absurdos a 750 mil habitantes de 13 dos 15 municípios do Estado.

A negligência e a incompetência dos órgãos de controle e regulação externa da administração federal beiram o crime e como tal devem ser tratadas, até que se consumem as investigações em curso.

Mas prejudica mais do que ajuda a apuração dos fatos a decisão do juiz João Bosco Costa Soares da Silva, da 2ª vara cível da Justiça Federal do Amapá, que determinou o afastamento de toda diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS). A decisão, provocada por ação ajuizada pelo senador Randolfe Rodrigues (da Rede), acabou sendo sustada na instância superior, como se previa.

Todas as medidas cautelares em relação às duas agências, que estão na mira dos investigadores, e aos próprios moradores amapaenses, massacrados por dias seguidos de caos, já foram tomadas. A energia começa a ser restabelecida em sua plenitude, depois de ser reparada temporariamente pela via alternativa – e muito mais cara – de geradores movidos por derivados de petróleo.

A investigação tem que ser rigorosa e acompanhada pelo fiscal da lei, o Ministério Público, e representante da sociedade civil. Tanto para apurar as responsabilidades e punir os causadores do apagão como porque outros casos desse tipo poderão ocorrer em qualquer lugar do Brasil.

O sistema de transmissão apresenta perigos de colapso porque as linhas têm manutenção deficiente, não compatível com o tamanho e a complexidade de um dos maiores conjuntos desse tipo no mundo. O investimento é caro, mas a manutenção é ainda mais dispendiosa.

Sem uma ação enérgica dos órgãos oficiais um acidente (se não foi um atentado, como parece não ter sido) é previsível. Mas estão além de quantificação os prejuízos materiais e imateriais que causam, como aconteceu e ainda perdura no Amapá. É hora de usar o máximo rigor contra os responsáveis, mas sem perder a clareza, a lucidez e a praticidade, condições para que o sofrimento das vítimas chegue ao fim definitivo de verdade, como exige o pleonasmo, para que não haja novas surpresas ruins.

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.